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terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre o Palácio do Marquês de Valle Flor I (O Marquês de Valle Flor)

Como havia prometido e porque acho que vale a pena vou contar-vos um pouco do que sei sobre o Palácio de Valle Flor.

Este magnífico edifício, situado no Monte de Santo Amaro em Lisboa (hoje convertido em hotel), foi mandado construir por José Luís Constantino.

Transmontano, de Murça, de família ligada à agricultura, parte para S. Tomé e Príncipe em 1871.

Começa por trabalhar num estabelecimento comercial, mas brevemente se dedica à agricultura até que em 1882 compra a roça “Boa Vista”.

Devido à sua tenacidade, espírito empreendedor e, naturalmente, jeito para negociar, torna-se no maior e mais rico agricultor de S. Tomé graças à produção de cacau que vendia aos ingleses. Colabora, juntamente com outros para a organização territorial de S. Tomé, conduzindo o arquipélago a um desenvolvimento sustentado que o tornou, entre 1912 e 1915 o primeiro produtor mundial de cacau. Torna-se Presidente da Câmara de S. Tomé e Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição. Consta-se que terá sido José Luís Constantino que terá recebido na sua roça da Bela Vista o Príncipe Luís Filipe na sua visita a S. Tomé. Esta, que se destinava a demonstrar a não existência de esclavagismo nessa colónia, de que era acusada pela comunidade internacional (especialmente pelos ingleses que cobiçavam a hegemonia da produção de cacau), inseriu-se no único feito digno de nota empreendido pelo Príncipe, que consistiu uma visita às colónias portuguesas de Angola, Moçambique, S. Tomé e Cabo Verde, bem como às inglesas Rodésia e África do Sul – estas, está bom de ver, para fomentar as boas relações com um velho aliado num período muito conturbado em que a cobiça pelas possessões ultramarinas estava ao rubro. Apenas como curiosidade refiro que o “África” navio que transportava o Príncipe Filipe e a comitiva, nunca chegou a aportar na ilha do Príncipe por aí ter rebentado, poucos dias antes uma revolta bem indicativa dos problemas que se viviam.

Muito prestigiado junto da realeza graças às suas fortes convicções monárquicas e colonialistas, foi agraciado por D. Carlos com os títulos de Visconde, mais tarde de Conde e, finalmente, Marquês de Valle Flor em 1907. Foi ainda nomeado Par do reino por D. Manuel II.

Como a família não era possuidora de brasão de armas, este foi-lhe concedido por D. Carlos: por alvará datado de 18 de Outubro de 1892 e por carta de 3 de Novembro de 1893.

Nos finais do século XIX, inícios do século vinte, constrói este magnífico palácio que além de uma localização privilegiada de amplas vistas para o Tejo, patenteia uma selecção de estilos e de opções decorativas onde não estarão ausentes as influências da ligação do marquês e da sua família a França possuindo até um palacete em Paris.

De forma ecléctica surgem-nos marcas de estilos que nos remetem para as épocas de Luís XIV, Regência, Luís XV e Luís XVI, espelhando um conjunto de vivências adquiridas em S. Tomé, Portugal e França. Reuniu uma das maiores colecções de pinturas dos finais do século XIX ( a qual ainda se mantém in loco)

Com a implantação da república perde-se grande parte da influência do Marquês e do seu prestígio embora mantenha intacta a sua fortuna.

O Marquês morreu em 1932 em Bad-Nauhein (Alemanha) e o espaço permaneceu esquecido até ter sido, passado quase um século, recuperado adquirindo o esplendor que perdera, agora como hotel.

2 comentários:

João Videira Santos disse...

...porque a história se faz de memórias...gostei!

a disse...
Este comentário foi removido pelo autor.