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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sonho




Há muito que o livro jazia esquecido, pousado no colo.
Afagava-o distraída, talvez por hábito.
Sentia-lhe a textura espessa e inalava
quase com volúpia
aquele odor que me aconchegava e ao mesmo tempo
me arrastava para voos que nunca havia voado.
Há muito que o cigarro não passava de uma fina cinza soprada pela brisa quente.
Há muito que o sonho soltara amarras
e vogava muito para além da letargia que me consumia;
muito para além das areias quentes que respirava;
muito para além do mar que se confundia em horizontes de azul;
muito para além dos círculos erráticos das aves…
muito para além dos devaneios gravados no papel.

Há muito que o sonho era eu, apenas eu,
enrolada na saudade de te amar.