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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fui galardoada!!!


Foi com surpresa que verifiquei que tinha sido "galardoada" com o prémio "Até que não é um mau blog".
Expresso, desde já, o meu agradecimento à Sofia por algo que, em boa verdade, não mereço assim tanto. Mas lá que não me calo, isso é verdade.
Só não sei se será uma virtude...
Agora, não posso deixar de considerar que o blogue que me atribuiu semelhante prémio, esse sim, é dele inteiramente merecedor. É, para mim como para muitos outros, um blogue de referência. Parabéns.
E para que a cadeia não se quebre, passo a apresentar as regras para a sua continuidade:

1- Este prémio deve ser atribuído aos blogs que consideras serem bons, entende-se como bom os blogs que costumas visitar regularmente e onde deixas comentários.

2- Só e somente se recebeste o prémio “Diz que até não é um mau blog”, deves escrever um post:- Indicando a pessoa que te deu o prémio com um link para o respectivo blog;- A tag do prémio;- As regras;- E a indicação de outros 7 blogs para receberem o prémio.

3- Deves exibir orgulhosamente a tag do prémio no teu blog, de preferência com um link para o post em que falas dele.

4- (Opcional) Se quiseres fazer publicidade ao blogger que teve a ideia de inventar este prémio, ou seja – Skynet - podes fazê-lo no post).

E os premiados são:

O enigma e o espelho

Cidade Surpreendente

Mar Arável

Poesia à solta

Monitores e colunas

Caixa de costura

Poesia portuguesa

"Sem Perdão" de Julie Garwood

Comprei este livro porque, ao ler a sua sinopse, me pareceu que poderia ser uma boa aposta num género que eu aprecio bastante, o policial/suspense. Além disso, li em alguns blogues de pessoas cujas opiniões considero, referências bastante abonatórias à obra.

Devo todavia dizer que fiquei bastante desiludida com a sua leitura. Embora seja um livro que se lê bem, não aborrece, não é daqueles que apetece pousar quase de imediato, apresenta, na minha modestíssima opinião, diversos senãos.

A autora tenta, numa só história, conciliar o suspense/policial, com o thriller, com o romance. Não é impossível, claro, e geralmente é até uma receita de sucesso.
Contudo pareceu-me que o romance era demasiado cor-de-rosa, o enredo, supostamente de suspense, demasiado previsível e, portanto, pouco empolgante e, as personagens exageradamente estereotipadas.

Senão vejamos:
a beldade de cortar a respiração (claro), em risco;
o polícia protector (também ele um “pão" perdoem a liberdade de linguagem) e amigo do irmão da “beldade”, que, obviamente, se apaixona perdidamente e à primeira vista (que realismo!) pela sua protegida;
o irmão da “beldade”, padre e um verdadeiro desperdício se considerarmos que também ele é de cortar a respiração;
as vizinhas velhotas, com a sua coscuvilhice habitual, atentas a tudo o que se passa à volta e, certamente, com boas probabilidades logo à partida de constituírem um elemento determinante para o desenrolar do clímax do enredo.
Enfim, desculpem-me mas… uma chatice!

Como comecei por referir, até sou uma boa apreciadora do género policial (como de quase todos os géneros, confesso) e, talvez por isso mesmo, custa-me muito usar o meu tempo a ler vulgaridades e estereótipos embora de leitura fácil.
Tenho lido muito bons policiais e não me refiro apenas aos “clássicos”, pois há uma série de autores actuais, de muita qualidade, os quais me têm proporcionado momentos de grande emoção.
Não foi, seguramente, o caso deste; absolutamente previsível!

É, quanto a mim, um daqueles livros feitos para serem garantidamente um best seller sem que, de facto, contenha nada de realmente muito bom.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Gráfico em ponto de cruz - É verdade!


Aviso importante!

Ao consultar as estatísticas do sitemeter tentando ver quais os assuntos mais apelativos para as pessoas que visitam este blogue, constatei que #&$#% das pessoas (desculpem, não sei calcular exactamente a percentagem, eu sou mais das letras, mas parece-me que se situa acima dos 65% das buscas através do Google) se dirige a este espaço na expectativa de encontrar lindos motivos com cãezinhos, gatinhos, anjinhos, passarinhos, sininhos e muitos outros “inhos” para bordar em ponto de cruz.

Não consigo perceber lá muito bem a razão por que tal acontece!...
Agora, o que eu entendo muito bem é a frustração dessas pessoas, coitadas, ao darem de caras com estes assuntos apalermados, que nada têm a ver com os mimosos bordadinhos que procuram. Enfim, deve ser perfeitamente arrasador.

Ora, como fazer ponto de cruz, desse bom, do genuíno, aquele dos quadrinhos, das toalhinhas e dos paninhos com diversos fins é também um dos meus (poucos) predicados embora não um complemento directo; ou seja é uma daquelas coisas que sei fazer mas que procuro não exercer.

Como, por outro lado não gosto de defraudar ninguém; acho uma coisa mesmo muito inadequada para uma Donagata de refinado pedigree. Além de que devo confessar que passei a entender melhor esse espinho da desilusão quando consultei o referido sitemeter e verifiquei que muito poucos pesquisam assuntos de interesse menor tais como: poesia, crítica literária, cultura, etc. Enfim, todos esses disparates em que eu aposto.

Decidi então, como consequência de tal constatação, aligeirar a arrelia de quem cá vem ter e, de vez em quando, postar alguns gráficos que irei, obviamente, buscar a outros blogues de pessoas que percebam mais do assunto do que eu.

Espero que façam bom uso deles.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

"As Healthclubíadas" (conclusão)

(Imagem da net)
Finalmente aquilo por que todos ansiavam: o final das "Healthclubíadas". É mesmo verdade, não é sonho, acabaram. É que por um lado já me escasseava a inspiração e as rimas e por outro também já começo a recear pela minha integridade física...

Portanto, achei por bem pôr um ponto final nesta epopeia completamente parva, e assim dar descanso a todos quantos ainda arranjam coragem para abrir este blogue. Bem hajam esses pela paciência demonstrada. Já ganharam a sua nesguinha de céu!



23
Do step não vos quero nem falar
É tão duro que nos deixa sem conserto.
No princípio nem é mau, dá pr’aguentar
Mas depois dá-nos cá um tal aperto,
Uma náusea, uma vontade de parar,
Que já sem fôlego bebo água e, bem decerto,
Para que não seja mui grande a trapalhada,
Aproveito o “banquinho” e aguento...sentada.


24
E depois de tratadas desta sorte,
De tudo quanto a aula pede e manda
Preparamos a alma para a morte,
Que sempre dos incautos perto anda.
E às deusas que na sua etérea corte
Vigiam com a vista veneranda,
Implorámos favor, que nos ajudassem
E que por melhores caminhos nos guiassem.


25
Do ginásio vou sair enquanto posso
Devagar subo a escada, em tal torpor!
Para trás vou deixando o alvoroço
Do: estica a perna, flecte a perna arrasador
Com um jugo colocado no pescoço.
Estou desfeita, em estado de estupor,
Ver-me a andar dá até mágoa, triste nojo
Já não sou a Donagata, sou um despojo!


26
Estando sossegado já o tumulto
Dos Profs. com o seu arrebatamento
Começo a desnudar o corpo oculto,
E no turco entro em recolhimento
E lá dentro não sou já eu, sou só um vulto,
Que descansa e tenta ganhar novo alento.
Finalmente, após tão torpes exercícios,
Já posso ir almoçar, um dos meus vícios!


27
É um vício, mas daqueles educados:
De algo muito leve me irei servir
Umas folhinhas de alface aos bocados
O tomate e a cenourinha a colorir.
Os docinhos, esses manjares adorados,
Que com o café tanto gosto de fruir,
Serão momentos bons pra recordar
Embora pouco, não vão as memórias engordar!...


28
Depois de tanta desgraça descrever
É já tempo de vos estardes a indagar:
Pois se é tudo mau, se é só sofrer
E é tão pouco aquilo que exaltar
Pois então que vimos nós aqui fazer?
O que é que nos leva a cá voltar?
Tudo isto nos dá prazer: o chalacear,
O estarmos bem, o conviver a trabalhar.


29
Vou contar-vos quase como confidência:
Como aluna sou difícil de aturar,
Os Profs., coitaditos, que paciência,
Já suspiram quando me vêem entrar.
Mas ser chata é somente a aparência,
Se resmungo é apenas a brincar.
Apesar deste modo irreverente
Gosto deles, são amigos, boa gente!


30
E há dias em que o treino corre bem
Em que o Prof. está calmo e comedido,
Dá-se ao pedal e à língua com alguém,
Como um prémio que nos seja concedido
Até ele para o nosso lado vem,
Para ouvir qual o assunto discutido.
É um esforço duplo, o que fazemos,
Mas é este à-vontade o que queremos.


31
É importante do nosso corpo tratar
Estar em forma, e mostrar agilidade,
Andar ligeiro sem ficar a sufocar,
Ter orgulho em poder dizer a idade.
Mas o mais importante é encontrar
Um ambiente que nos traga felicidade.
Onde além dos esforços detestáveis
Passemos uns momentos agradáveis!

sábado, 24 de novembro de 2007

O Marquês

(Imagem: Girl with a dog de Karen L. Gore)

Mais uma vez, Mar Arável, aceitando um desafio seu, vou tentar escrever algo, com alguma coerência, acerca do Marquês, o meu último cão em Chaves. Como sabe, as recordações são, na maior parte das vezes, bastante indomáveis…
Espero que depois possa falar do Marquês aos seus serras da estrela e que eles o oiçam com agrado…


O Marquês era um lindo cão (o mais bonito para mim), arraçado de lobo de Alsácia, como se designava então o pastor alemão (por razões que dariam outro post), que nasceu lá na quinta onde eu vivia de uma mãe que se chamava Layca.
Desde muito cedo, ainda no “ninho”, me adoptou como sua companheira privilegiada (ou eu a ele, não sei…) e, ainda trémulo de patas, vinha atrás de mim quando das minhas constantes visitas, deixando o conforto da sua mãe.

Confesso que o visitava com exagerada frequência, por um lado porque adorava aquela bolinha como só as crianças sabem adorar e por outro, porque tinha receio que desaparecesse misteriosamente como aconteceu a tantas ninhadas de gatos que vi nascer e, provavelmente, aos outros cachorros que eventualmente nasceram com ele. Não me lembro se os houve ou se soube sequer que os tenha havido. Como sabem há muita coisa que a criança não sabe mas intui…

Como já referi e certamente ainda se recordam, andava quase sempre sozinha. Não por opção minha, claro, mas por falta mesmo de outras crianças que me acompanhassem em brincadeiras. Tinha já dois irmãos mas dada a diferença de idades, muito mais novos do que eu, não me acompanhavam nas brincadeiras. Por vezes aproveitava a companhia de alguma amiga da escola que entretanto aparecesse por lá, mas a minha mãe era um pouco esquisita em relação às minhas amizades e eu tinha o condão de escolher invariavelmente as menos “desejáveis”…

Foi então aí que o Marquês, com o seu sorriso de orelha a orelha e andar saltitante, veio suprir (quase) essa falta de companhia. Era como uma sombra. Encostava-se a mim e olhava-me com aqueles olhos castanhos, tão ternurentos, que me deixavam completamente rendida.
De manhã, acompanhava-me à escola (na época era hábito os meninos irem à escola sozinhos e a pé) e aguardava deitado encostado ao portão que chegasse a hora do recreio.
Era nessa hora que eu vinha junto dele e repartia invariavelmente o meu lanche com ele. Creio que ficávamos ambos com fome mas isso não tinha interesse nenhum.

Era inteligente, creio. Sabia perfeitamente que não lhe era permitido entrar no pátio do recreio pelo que aguardava pacientemente da parte de fora, junto ao portão o final das aulas. Ou então iria dar os seus passeios, não sei. O que sei é que quando, depois das aulas, chegava ao portão, aí estava ele à minha espera para regressarmos juntos a casa aceitando, com ar feliz alguma festa que as minhas amigas (as que não lhe tinham medo), lhe faziam.

Os tempos passados a brincar e a explorar os cantos insuspeitáveis dessa quinta tiveram sempre a sua companhia. Descia comigo à mina (tínhamos uma mina de água bem quente na quinta, estávamos junto das “Caldas”de Chaves) quando eu ia baptizar as minhas bonecas e desfazer algumas, claro.
Nadava no rio enquanto eu lavava as roupinhas no lavadouro da margem, vindo depois sacudir-se energicamente para cima de mim. O que eu me ria!...

Nessa quinta havia patos que saíam de manhã da capoeira seguindo absolutamente sós, até ao rio onde passavam o dia. No final da tarde, numa hora que só eles sabiam, regressavam da mesma forma ao lugar onde se alimentariam e passariam a noite. Se algum mais inexperiente ou mais distraído se perdia da fila ou ficava para trás, era o Marquês que, com toques de focinho o reencaminhava para a fila.

Na ocasião todas estas coisas eram absolutamente banais para mim; faziam parte do meu quotidiano da mesma forma que o beber água das termas num copo achatadinho nas noites de verão, atravessar o rio para a quinta do meu tio saltando de pedra em pedra a que se chamavam poldras (que ainda existem mas que não sei se seria capaz de usar agora), correr com ou sem Marquês pelo jardim do Tabulado encontrando bons esconderijos, ir apanhar escaravelhos quando infestavam os batatais (talvez ainda não se usassem os insecticidas) e sei lá que mais…

Bom, mas tudo tem um fim e para mim, o fim desta vida solta e feliz, chegou quando o meu pai foi transferido para o Porto e com ele se deu a “transferência” de toda a família.
Eu tinha na altura nove anos e ia para o então primeiro ano do liceu.
Custou-me deixar tudo: os grandes espaços, os avós, com quem sempre tinha vivido, a minha tia que era mais irmã mais velha do que tia e, mais do que tudo, o Marquês…

Ainda hoje sofro a pungência da dor que senti quando o abracei para o deixar…

Voltei lá nas férias grandes do ano seguinte para passar lá uns tempos e para ir ao casamento da minha tia mas, do Marquês, nem sinal.
Nunca soube o que lhe aconteceu, nunca mo disseram. Mas ainda hoje, quando penso nos momentos que partilhámos, me dá uma imensa vontade de chorar de talforma consigo sentir ainda a saudade.

Hoje sou uma mulher mais de gatos. Embora tenha sempre cães de quem gosto muito. Mas o Marquês mantém ainda o seu lugar, absolutamente insubstituível, guardado bem fundo no meu coração de menina.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mais uma corrente

(Imagem da net)

Com o post anterior tentei dar resposta ao desafio feito pela Sofia do blogue Defender o Quadrado no sentido de mostrar como se brincava antes da existência da Playstation (Com'eravamo, i giochi prima della Playstation).


Mais uma cadeia iniciada e mais uma em que fui apanhada. Chegou agora o momento da vingança e de ser eu a desafiar outros cinco blogues a dar seguimento a esta corrente.


Lanço então o repto a:

Clara Branco do O Enigma e o Espelho

A.Teixeira do Herdeiro de Aécio

Lúcia Costa do Quinta Fase da Lua

Zé Torres do Poesia à solta

No Lung do Pud in Japan

Quando eu fui criança


(Imagem: a Donagata com a sua boneca Inglesa no dia em que lhe pode pegar.)

Ora cá vai mais um texto a puxar para o nostálgico. Mas, desta vez, a culpa é toda tua, Sofia!
É que ao desafiares-me para relembrar as minhas brincadeiras de infância estás a fazer-me recuar a um tempo do qual guardo tantas memórias....

Vivi toda a minha infância em grandes espaços, grandes quintas, e, de início, bastante isolada no que diz respeito à companhia de outras crianças. Comecei então por me entreter sozinha. E como? Corria livremente por espaços abertos; descobria esconderijos onde organizava e montava as minhas casinhas; apanhava toda a espécie de plantas que cresciam nos muros para fazerem de arroz, de bifes, da salada etc. Reconhecia, sem grandes pavores, os animais mais assustadores que costumavam aparecer nos muros em dias quentes de verão como cobras, sardões, sardaniscas, sapos ouriços cacheiros, e sei lá que mais.
Lavava a roupa das minhas bonecas em grandes tanques de água onde enfiava os braços bem até aos cotovelos. Ajudei a quebrar a casca dos ovos quando os pintainhos queriam sair. Assisti ao nascimento de várias ninhadas de gatos os quais, misteriosamente, desapareciam...
E tinha sempre um cão! O último foi o Marquês que era tão grande como eu.

Foi também nessa época que dei longos passeios com o meu avô materno, homem muito culto e recém aposentado que me ensinou imensas coisas: a distinguir os diferentes tipos de rochas e as suas composições colhendo as respectivas amostras; o que era a erosão razão pela qual algumas pedras do caminho estavam tão lisinhas que não incomodavam quando nos sentávamos para descansar; a identificar algumas das constelações que povoavam os céus dessa altura e obviamente a reconhecer a estrela polar e, em consequência, os pontos cardeais; a distinguir diversos tipos de aves, pelo porte, pelo tamanho, pelo canto; os seus ninhos…
Enfim, era uma criança entre adultos. Mas sem a vigilância opressiva destes.

Mais tarde, já não tão só pois já contava com algumas colegas da escola e minhas amigas, adorava escorregar pelos palheiros ou medas de palha o que nos deixava cheias de comichões ao mesmo tempo que desfazia o trabalho cuidadoso do caseiro.
Além disso, saltávamos à corda alegremente a tarde inteira, jogávamos à bola, às escondidas (e escondíamo-nos nos locais mais incríveis, desde adegas escuras, poeirentas e com cheiro a bafio, até a caves também bafientas onde nem se descortinavam bem os objectos que para lá se amontoavam), jogávamos à macaca, ou patela como se diz por aqui, com uma pedra muito lisinha (a tal patela) e éramos muito, mas muito felizes.

Brincávamos junto ao rio (o Tâmega) que limitava os terrenos da casa onde vivia na altura. Lá fazíamos também as nossas casinhas que atapetávamos com os limos macios que arrancávamos do fundo do leito do rio. Lavávamos as roupas das bonecas e até as próprias donas das roupas que passavam a não ter grande futuro uma vez que na sua maioria ainda eram de papelão.
Algumas dessas roupinhas de boneca haviam sido costuradas por nós, nos dias que não convidavam à escapadela, utilizando para tal agulhas, tesouras, linhas, enfim tudo aquilo que, nessa altura, não constituía um risco reconhecido. Devo confessar que esta não era seguramente uma das minhas actividades favoritas e, já aí, era muito claro que nunca deveria enveredar por uma carreira ligada à moda… O que acontecia quase sempre e juro que não sei porquê era terminar estas sessões com as minhas bonecas completamente despidas e sem alternativas…
Ah! Mas houve uma que eu não despi nunca!...O que eu gostei dessa boneca! Foi a minha primeira boneca, julgo eu, com cabelo verdadeiro, sedoso e loiro como eu imaginava que se devia ser… Não era de papelão, tinha uma cara lindíssima, creio recordar que de porcelana e um vestido!!!… Foi o meu tio que ma trouxe de Inglaterra. Aliás nunca se chamou outra coisa que não fosse a “Inglesa”!
E é verdade que nunca a despi. Também nunca lhe peguei, não podia. Era só de “olhar”. Que me lembre apenas a manuseei uma vez e foi para a levar comigo ao fotógrafo onde tirei uma fotografia com ela, de adereço, e assim ficou nas minhas mãos para a posteridade.

Regras, havia apenas as que diziam respeito ao cumprimento das horas das refeições e de algumas, poucas, recomendações específicas.

Chegávamos à noite exaustas, sujas, predispostas a dormir bem, talvez a ler antes um bocadinho, mas pouco que o cansaço era, geralmente, muito.

Certamente corremos alguns riscos que hoje horrorizariam qualquer um, mas sabem uma coisa? Não demos por isso, ou melhor, se calhar aprendemos cedo a evitá-los, a maior parte das vezes por recomendações dos adultos é claro, mas muitas delas por puro instinto.
Foram tempos muito, mas muito felizes!


Desculpem a prosa tão longa mas é que as memórias são mesmo assim, enleiam-se umas nas outras e torna-se tão difícil separá-las!...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dia de grandes comoções

(Imagem: "brought a tear to his (my, neste caso) life de Louis Wain)
Estou tão comovida!
Ontem foi um dia fantástico para mim. Por um lado tomei conhecimento que tenho um filho que exerce a actividade profissional de, atentem por favor, “Consultor de Software de Retalho”!!!
É ou não é de deixar qualquer mãe que se preze impante de orgulho! Isto porque até hoje eu julgava que o rapaz era meramente “Engenheiro Electrotécnico e de Computadores”. Como pode uma mãe estar tão equivocada acerca das verdadeiras capacidades dos seus rebentos; dos seus indescritíveis desempenhos que os levam a atingir tais patamares nas suas carreiras!
Enfim, já não me espanta que o mocinho não dê a ida pela volta: ora está na Índia, ora na Turquia, ora na República Checa…Eu sei lá! Mas agora compreendo muito melhor; trata-se, atenção, vou repetir, de um “Consultor de Software de Retalho”.
Estou em lágrimas…

Pois é, mas ainda as surpresas iam no adro (costumam ser as procissões mas aqui, uma procissão não fazia grande sentido e poderia ser até um imenso estorvo). É que não contente com esta verdadeira bomba, eis que, ao abrir o meu blogue como faço todas as noites para o aconchegar e lhe desejar uma boa noite de repouso, verifico que o sitemeter exibia (pareceu-me que orgulhosamente) o número 1000. É verdade, era mesmo um elegante 1 e três 0 redondinhos!!!
Que dia fantástico! Que emoção!
Significava isto que mil incautas criaturas, voluntária ou inadvertidamente, aqui vieram parar, desamparadas, a sangue frio, sem que nada as preparasse para o que as esperava.
Oxalá se tenham conseguido recompor sem grandes danos colaterais. E, confesso até, que tenho a secreta esperança de que a visita não tenha sido uma experiência muito traumatizante para alguns.
Esses, espero que voltem e que comentem. É sempre bom o feed-back pois, como normalmente cada um de nós é o crítico mais demolidor do seu próprio trabalho, é sempre bom ouvir (neste caso ler) segundas opiniões para colocar as coisas no seu devido lugar.
Obrigada a todos.

domingo, 18 de novembro de 2007

"Meu único grande amor: casei-me" romance de Manuela Gonzaga

Ao ler as primeiras páginas do livro referido fiquei completamente perplexa. Atendendo a que conheço Manuela Gonzaga como jornalista, historiadora, com uma tese de mestrado em desenvolvimento que trata da génese da expansão portuguesa se bem que também ficcionista, foi com absoluto espanto que fui lendo as primeiras páginas deste seu livro mais recente.

As personagens são do mais absurdo possível, retratando de forma também absurda estratos sociais bem definidos, muito superficiais e folhetinescas.
À medida que prosseguia na leitura, fui criando uma opinião um pouco diferente: penso que todo este absurdo a todos os níveis (até em termos de linguagem) tem como intenção satirizar a chamada literatura “light”, seja lá isso o que for.
Manuela Gonzaga, numa colagem ao modelo e aos parâmetros do romance cor-de-rosa, constrói uma crítica carregada de humor e de referências a lugares comuns de carácter social e cultural; uma sátira mordaz ao que de mais superficial e frívolo tem a nossa sociedade neste já Sec. XXI. Não falta a trintona de boas famílias, rica mas destravada, patrocinada para aparecer nas revistas cor-de-rosa, o editor de obras de referência desiludido e falido querendo um bestseller mesmo que de má qualidade literária, a mãe solteira, gira e culta, a empregada doméstica de leste que é médica, o escritor medíocre bem sucedido, o conde rico que se apaixona pela strip teaser, o fotógrafo gay... e mais não digo ou estragaria o gozo da descoberta.

Interessante a utilização de textos de introdução e de finalização em cada capítulo. Os primeiros fazem um resumo dos capítulos anteriores e os segundos destinam-se a levantar as várias hipóteses de prosseguimento da trama, procurando “prender” o leitor, bem à laia dos folhetins radiofónicos dos quais,confesso, já não me recordo muito bem, assim como das telenovelas (essas completamente actuais e em força) nas suas “cenas dos próximos capítulos”.

Enfim, vale pelo humor, pela ligeireza com que se lê e pela (espero eu que não apenas suposta) crítica à tal literatura ultra light mas de grande sucesso em termos de vendas que é , no final, o género em que o próprio livro se insere... Ou não?
Pequeno excerto que penso ser, de algum modo, elucidativo:

“...De resto, logo às primeiras linhas do romance (...) pensou filosoficamente: «Esta merda é uma bosta. E esta bosta cheira a dinheiro que tresanda. O enredo é mau, as personagens péssimas, os diálogos um desastre. Mete sexo página sim, página não. Fala de gente de política. Faz uma perninha com o futebol, aliás um belo empernanço. Temos hipótese de bestseller»”

Envy e Tracy em treinos

O Envy é mais dotado para a fase do relax...



Mas a Tracy, mais empenhada, experimenta alguns exercícios de bodybalance que eu lhe ensinei. Claro que em elasticidade não chega nem aos meus calcanhares mas, enfim, lá vai tentando.

sábado, 17 de novembro de 2007

Gosto de gatos, e pronto!

(Imagem: O meu líndíssimo e meiguíssimo Hans. Um orgulhoso exemplar de Bosques da Noruega)

Gosto de gatos, e pronto!
Gosto deles brancos, azuis, listados,
Tartaruga, laranja, ou malhados,
Siameses, persas, noruegueses,
Rafeiros, europeus ou balineses…
Gosto de gatos e pronto!
Gosto deles bem peludos,
Encantam-me os de pelo raso,
Gosto mesmo dos sisudos,
Mas são raros, um mero acaso.
Aprecio o seu andar,
Elástico e ondulante,
Muito fluido e provocante,
Exibem-se ao caminhar.
São donos do seu nariz,
Nunca se deixam comprar,
São dóceis, mas não servis,
Sabem deixar-se adorar!
São companhias incríveis,
São amigos assombrosos,
Possuem-nos, são terríveis,
Adoráveis e ardilosos…
Gosto de gatos, e pronto!
Sabem-se insinuar
Tornam-se os nossos amos,
Mas acham prazer em gostar,
Daquilo que nós gostamos.
E é assim que nós vemos
Gatos poetas, cantores,
Gatos que pintam e cremos,
Gatos que sofrem de amores!
Gosto de gatos, e pronto!

Donagata em 2007-11-16

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

"As Healthclubíadas" (continuação - 4)

(Imagem da net "Cancel moms healthclub membership!!!")
Mais umas aulitas e tenho a filha a berrar o mesmo...
Enfim, cá vão mais umas estrofesinhas, mas descansem pois estou mesmo a esgotar a inspiração (se considerarmos "isto" inspiração).


17
E depois, pra quem estiver só a ouvir;
Entre a música que é omnipresente,
E as palavras que nos fazem prosseguir:
E um e dois e três, prá frente,
E quatro e cinco toca a insistir,
Estica, estica, o esforço é aparente!
Acima, abaixo, agora não vai parar
Insiste, esforça, não deixemos afrouxar!


18
Essas pernas pra cima, bem puxadas
E abertas pra ser maior a tensão
Vamos lá, essas costas bem pousadas
Os descuidos podem provocar lesão.
É insistir, aguentar... já estão cansadas?
Não respondem? Afinal ainda não!
Ora então é oito tempos a aguentar
Que agora não podemos claudicar!


19
Vamos lá, não está nenhuma cansada!
(E a gente a transpirar e a esbaforir),
Meninas, agora em forma acelerada,
E não quero ver ninguém a desistir!
Que bonitas, que gente tão animada!
E o tal incauto que apenas está a ouvir
Que não vê o que estamos a passar
Vai feliz. Como estamos a adorar!


20
Vejam bem como é fácil enganar
Quem não vê e só ouve o aparato,
E então se nos ouve a suspirar
Juntamente com o restante espalhafato,
Imaginem que poderá até julgar
Testemunhar fogoso concubinato.
Mas só pode de tal forma discorrer
Quem só ouvir e não estiver a ver!


21
E os pesos, que nos causam tanta dor,
Infligida em músculos insuspeitados!
Quatro quilos, não parece arrasador!
Mas nos braços erguidos e bem esticados,
A movê-los bem firmes e sem tremor...
Bem, temos já os pecados expurgados!
Todos aqueles que outrora cometemos
Mais um crédito para os que ainda nos lembremos.


22
Do odor (pra ser ligeira) só agora vou falar
No entanto é um assunto pertinente
Está presente seja qual for o lugar
E há locais onde é de tal modo pungente
Que quase me abstenho de inspirar
Arquejando de uma forma deprimente.
E não comecem já para aí a desvairar,
Pois é mesmo de mim que vos estou a falar.



quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Acerca de gatos

(Imagem: Definições de um felino de Othello de Will Rafuse)
Mais uma vez com a aprovação dos meus felinos residentes, sobretudo do Envy que está sentado quase em cima do teclado observando atentamente o que vai surgindo no ecrã, aqui vos deixo um poema, de um dos grandes poetas portugueses, dedicado a estas pequenas feras carregadas de meiguice e que ele tão bem sabia amar.


Em Abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela a merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do Público ao domingo.

Eugénio de Andrade em “Com o Sol em cada Sílaba”

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Canário" de Rodrigo Guedes de Carvalho

Mais um livro cuja leitura concluí e mais umas quantas horas realmente bem passadas.
Não faço questão de aqui comentar tudo o que leio mas, mesmo assim, à medida que vou lendo os comentários a algumas das obras que li e que fui colocando neste blogue só posso concluir uma de duas coisas:
- ou tenho uma sorte danada na selecção de livros que faço;
- ou então sou muito pouco exigente em relação àquilo que leio...
Isto porque, mais uma vez, gostei francamente do livro que li.

Já habituada ao tipo de escrita do autor, portanto já com uma determinada expectativa em relação à qualidade do “produto”, devo dizer que o dito não me defraudou minimamente.
Não sei se ultrapassou, na minha opinião, claro, o nível atingido em “Mulher em branco” pois a comparação se torna difícil dada a diferença grande entre os temas abordados, exigindo, portanto, diferentes linguagens. Contudo considero-os no mínimo equivalentes.

Livro de escrita intensa, reproduzindo de forma simples mas realística sentimentos, emoções e atitudes; tecnicamente (em termos literários) muito cuidado. Composto de poucas personagens mas todas elas muito bem trabalhadas sobretudo ao nível das emoções; realmente muito ricas.

Em termos de temática aborda essencialmente, quanto a mim, três problemáticas distintas se bem que magistralmente interligadas: a falta de liberdade (a prisão); o bloqueio do escritor bem sucedido, conceituado, mas nem sempre compreendido, e a (não) aceitação de um elemento com uma deficiência muito incapacitante ao nível dos afectos, o autismo, no seio familiar e respectivas consequências.
Como se pode imaginar, tudo assuntos de grande complexidade e, como tal, exigindo um enorme trabalho de investigação.

Não direi que é o livro da minha vida pois, como já tive oportunidade de dizer, não acredito num livro para uma vida. Todos os livros que leio com agrado são livros da minha vida. Este é, seguramente, um deles.

Vou acrescentar um pequeno excerto do livro.

“...nunca se sabe muito bem o que está a acontecer, quem é que está a falar, porque ele não escreve assim direitinho, a anunciar tipo: agora fala fulano e depois responde sicrano, a gente é que tem muitas vezes de adivinhar.
Mas se calhar é por estas e por outras que é conceituadíssimo, eu quer-me parecer que o padre também fica confundido com os livros dele, mas sabe-se, é daquelas coisas que toda a gente sabe, que são muito bons, muito inteligentes, mesmo que se calhar as pessoas leiam só as primeiras páginas e depois ponham de lado, mas isso não tira o valor ao homem, acontece que ele está num degrau que nós nem cheiramos.”

Dá que pensar, não dá?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

"As Healthclubíadas" (continuação - 3)


Aqui é como deveria ser....

e aqui é mais ou menos como algumas de nós vamos fazendo... É basicamente o mesmo!
(Imagens de Body balance da net)
(E lá continua a falta de juízo)

12
Há também as modalidades mais calmas
Preconizam um bem-estar mais geral:
O Yoga que nos alimenta as almas
Melhorando o nosso lado emocional,
Corpo e mente libertos dos seus traumas
Equilibra o aspecto físico e espiritual.
pilates investe mais na postura
Costas mais fortes e barriga lisa e dura.


13
Do bodybalance ainda não falei
Mas não porque possa ser esquecido
Apenas uma vez experimentei
E pouco faltou para ter morrido.
Os movimentos são calmos, bem sei,
O esquema é bonito, faz sentido,
Mas para certas posições manter
Nem imaginam quanto é preciso gemer.


14
A música está lá, pr’a disfarçar
Pode ser que ao ouvi-la nos esqueçamos
Que os músculos estão tensos, a esticar
E as articulações todas estalamos.
Só quando já a hora está a acabar
E, acreditem, já nem disso conta damos,
Já deitadas, só queremos é dormir
Com a tal música que continuamos a ouvir.


15
A cardio local é sempre a abrir
E começa por ser muito divertida
Salta à esquerda e à direita e a sorrir
Sempre atentas para seguir a batida
Desenganem-se, a alegria é a fingir,
Os sorrisos, são só esgares de fadiga.
Faço a aula com a plena consciência,
Que pequei. Esta é a minha penitência!


16
E também vos direi já, meus senhores
Que para clientela arranjar
Anda a Prof. por salas e corredores,
E deita a mão a quem pode arrebanhar.
É insistente e não se comove com dores
Ou desculpas que tentemos inventar,
E prá aulinha lá vamos sendo levadas
Quais sabinas p’los romanos raptadas.

Apanhada na cadeia

Já tardava e até já estava a estranhar, mas finalmente lá fui apanhada por uma cadeia destas que, de vez em quando, circulam aqui pelo mundo da blogosfera.

Esta tem as seguintes regras:

1 – Pegue no livro mais próximo com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;

2 – abra o livro na página 161;

3 – na referida página procurar a quinta frase completa;

4 – transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada;

5 – aumentar, de forma exponencial aimprodutividade, fazendo passar o desafio a mais cinco bloggers à escolha.

Bom, lá fui eu escada acima, pois em relação aos livros que se encontram mais perto de mim não conseguiria a requerida aleatoriedade, e retirei da estante um, que me pareceu com arcaboiço para 161 páginas. E tinha até bastantes mais. Cuidadosamente procurei a referida página, contei cinco frases e aqui passo a transcrever criteriosamente a quinta:

E, contudo, apesar das minhas dúvidas, dos ciúmes, das angustiosas interrogações, saber que a menina má estava ali, real, viva, num lugar concreto, embora fosse longíssimo de Paris, encheu-me a cabeça de fantasias.”

O livro é de Mário Vargas Llosa e chama-se “Travessuras de uma menina má”. Na minha opinião é um romance belíssimo, talvez um pouco desconcertante, bem escrito que vale a pena ler.

Deixado o meu contributo, lanço aqui o repto a mais cinco blogues. Aqui vão:
Grama a grama; Hora de almoço; Carecaraiboso; Quinta fase da lua e Dusinho

Boa sorte!

domingo, 11 de novembro de 2007

Dia de S.Martinho


Imagem "S. Martinho" de El Greco
Hoje é o dia de S. Martinho e, tal como diz o ditado dia de “ir à adega e provar o vinho”.

É também o dia dos tradicionais magustos em que se reúnem os amigos e, em volta de fogueiras onde vão sendo assadas as castanhas, vão também bebendo a água-pé. Alguns, os mais afoitos, saltam a fogueira em grande algazarra enquanto outros, enfarruscam as caras dos que conseguem apanhar.

Enfim, um divertimento pegado para quem achar tais actividades divertidas. Eu confesso que a única coisa que verdadeiramente aprecio, são as castanhas e as conversas com os amigos.

É também natural nesta época beneficiarmos de umas tréguas em termos de condições atmosféricas e vivermos uns dias primaveris que intercalam os já longos dias de outono até aqui vividos. Isto porque um tal de Martinho, legionário romano originário da Panónia, actual Hungria (mas dos bonzinhos, entenda-se) ao ver um mendigo semi nu, na berma da estrada cheio de frio dado que o dia estava chuvoso e agreste, pegou na sua espada e, numa atitude de grande nobreza de alma, cortou a sua quente capa ao meio, dando uma das metades ao mendigo para se agasalhar.

Ora Deus, que não dorme e que é extremamente sensível a atitudes deste jaez, imediatamente ordenou à intempérie que se retirasse, transformando-se assim o dia numa amena primavera. Enfim, do meu ponto de vista, depois de Martinho ter remediado a situação ao dar cabo de uma capa ainda em tão bom estado, também já não se justificaria lá muito a alteração das condições atmosféricas....Bom, mas é apenas a minha opinião... Até porque, a partir daí, neste período do ano e para comemorar tamanho altruísmo e bondade, há sempre uns dias amenos no meio do já avançado período outonal.

Pois é, mas a tradição já não é o que era e, o que se verificou hoje, dia de S.Martinho é que as pessoas passeavam alegremente de tshirts e havaianas que AINDA NÃO LARGARAM desde o verão, e comiam as castanhas assadas confortavelmente sentadas nas esplanadas AINDA NÃO DESMONTADAS desde a época balnear, a usufruir dos quentes raios de sol que NÃO DEIXARAM AINDA DE BRILHAR!

Tivesse havido estes desvios climatéricos no Séc. IV DC e teríamos agora um santo a menos no panteão católico e naturalmente, levaríamos para todo o sempre com um outono sem direito a suavizações.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"Summer of sixty nine"


Vou às compras!

Como qualquer dona de casa e mãe de família, consciente, coloco os sacos reutilizáveis na mala do carro, a lista de compras na mala de mão (julgo eu) e lá vou eu rumo ao supermercado habitual a fim de me dedicar a mais uma dessas tão estimulantes tarefas que nos estão reservadas.

E lá vou, mais ou menos em piloto automático, cantarolando distraidamente as músicas que entretanto vão passando na rádio enquanto que eu, ou pelo menos aquela parte de mim que não controlo, vagueia imparável e incansavelmente por temas bem menos prosaicos do que as compras que tenho que fazer.



Ainda Bem!

A dada altura, algo me faz sair desse limbo (desculpem, bem sei que já não existe, mas agora deu-me jeito…) em que me encontro. De repente apercebo-me das palavras que digo ao assassinar barbaramente a música que Brian Adams cantava no momento: Summer of 69. Cantava eu então convictamente “those were the best days of my life”.

Ao tomar consciência do significado das palavras que dizia e porque o meu pensamento é, de facto, irrequieto e independente da minha vontade, em vez de, como devia, se direccionar para as compras que estava prestes a fazer (se era melhor carne ou peixe, se ia fazer sopa de legumes ou uma canjinha, se o papel higiénico que ia levar deveria ser perfumado ou não; se de três ou de quatro folhas…), põe-se a vaguear incontrolavelmente tentando decidir quais teriam sido, até agora, the best days of my life.

Enquanto isto, já tinha chegado ao supermercado e, de carrinho na mão, para lá ia enfiando diversos artigos, os necessários e os outros, de forma mais ou menos aleatória, ignorando completamente a lista o que, embora habitual, hoje tomava contornos nunca vistos. É que aquele eu que não controlo, aquela parte de mim que não está minimamente preocupada com as couves, os ovos ou os pensos higiénicos que é necessário levar para casa, continuava sonhadora a fazer desfilar incessantemente, mais ou menos como num filme, as imagens de todos os “melhores dias da minha vida” que conseguia recordar.

Não vos vou dizer quais foram. Mas devem ter sido bastantes pois, quando cheguei a casa e arrumei aquela quantidade de artigos estranhíssimos que havia trazido, constatei que tinha passado uma tarde de sonho. Ficou-me cara, é certo, tomei contacto com produtos que nem sei bem para que servem mas que agora constam das minhas prateleiras mas valeu bem a pena.

É que, de um modo geral, temos sempre tendência para recordar o que nos desgosta e nos faz infeliz contudo, julgo que na vida de todos nós, conseguiremos encontrar mais momentos felizes do que podíamos imaginar.
Um conselho: quando fizerem este exercício de busca, de pesquisa, façam-no nas vossas casas, comodamente instalados. É, muito provavelmente mais agradável, fica seguramente incomparavelmente mais económico e não têm depois de andar a inventar utilizações para produtos que vos são totalmente desnecessários e quiçá, até preocupantemente prejudiciais…

Summer of 69

Letra da Música
I got my first real six-string - bought it at the five and dime
Played it til my fingers bled - it was the summer of '69
Me and some guys from school - had a band and we tried real hard
Jimmy quit and Jody got married - I shoulda known we'd never get far
Oh when I look back now - That summer seemed to last forever
And if I had the choice - ya - I'd always wanna be there
Those were the best days of my life
Ain't no use in complainin' - when you got a job to do
Spent my evenin's down at the drive-in - and that's when I met you - ya
Standin' on your mama's porch - you told me that you'd wait forever
Oh and when you held my hand - I knew that it was now or never
Those were the best days of my life - back in the summer of '69
Man we were killin' time - we were young and restless
We needed to unwind - I guess nothin' can last forever - no
And now the times are changin'
Look at everything that's come and gone
Sometimes when I play that old six-string
I think about ya wonder what went wrong
Standin' on your mama's porch - you told me it would last forever
Oh and when you held my hand - I knew that it was now or never - ya
Those were the best days of my life - oh ya - back in the summer of '69
Ya - me and my baby in '69
It was the summer of '69

Está visto. "It runs in the family"!


Imagem: "Gatos" da net. Retrato de família...

Ao ler os comentários que por vezes fazem aos meus posts, deparei-me, com alguma surpresa, com um texto enorme. Com estranheza, há que me encher de coragem e dar início à leitura não podendo sequer imaginar a razão pela qual um simples poema poderia suscitar tamanho comentário. Fui lendo. À medida que prosseguia fui percebendo que, muito mais do que um comentário, se tratava de um texto escrito, a meu ver, com raro sentido de humor.

Percebi também que o autor do comentário que se auto intitula de “CarecaRaivoso”, não era outro senão um desses familiares (e família, como sabem, não escolhemos) terrivelmente vocacionados para a escrita de comentários em blogues que, como todos sabemos, se querem sucintos requerendo, portanto, alguma capacidade de síntese.

Como efectivamente achei que se tratava de algo com imensa graça, aconselhei-o a colocar este e/ou outros trabalhos num blogue próprio e não, deixa-lo a “entupir” o meu espaço de comentários. Convenhamos que foi uma forma subtil, além de inteligente, que aqui a Donagata utilizou para evitar vulgaridades no seu distinto blogue! É que eu sou uma Senhora, bolas!

Deixo-vos agora com um pequeno excerto do texto e, para aqueles cuja curiosidade for mais forte do que o juízo, aqui vai o endereço onde poderão divertir-se com o resto:

http://www.carecaraiboso.blogspot.com/


disse...
olá senhora DonaGata desculpe estar a incomodar daqui é o CarecaRaiboso, careca porque pois claro raiboso porque sou do Porto carago, e gosto muito do seu belógue só é pena as poesias não rimarem porque assim nem parece poesia e já diz o povo que quem não se lhe arrima é porque nem parece prima e então eu estava a pensar nisto tudo e veio-me uma melancolia sei lá um pensamento ou se calhar foi da cagadela daquela pomba que me deixou aturdido, e a senhora desculpe DonaGata por este atrevimento e nem parece mas sou filho de boas famílias que até estou cheio de ganhar prémios, o primeiro ainda era pequenino quando a minha mãezinha me levou ao concurso do bebé mais lindo na paróquia de Rio Tinto que é uma paróquia que fica em Rio Tinto, e logo aí ganhei um prémio, que saudades, que logo que cheguei toda a gente começou a dizer meu Deus, porque eu acho que sou muito espiritual, e outros começaram a vomitar, mas o que se segue é que o senhor padre, que Deus o tenha em boa memória, deu à minha mãe um saco preto e dez escudos e uma medalha do último lugar do bebé mais lindo e a minha mãe lá me pôs o saco na cabeça e guardou a medalha e comprou-me uma boina com os dez escudos e eu gostava muito dessa boina e eu gostava mesmo era de a usar de lado mas a minha mãe achava que me ficava mesmo mesmo bem era de frente e depois ela levantava a boina quando era para eu comer, mas com a boina ou com o saco eu andava sempre era mesmo às cabeçadas a tudo e assim as pessoas não eram tão religiosas porque como não viam a minha cara não diziam meu Deus porque pronto sou feio…

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"A gift to friendship"

Imagem: "Gift to friendship" de Ginger Witte
Estava triste hoje de manhã.
A tarefa que me tinha proposto cumprir afectou-me mais do que podia imaginar. E a minha (suposta) habitual força esmoreceu abrindo assim uma porta à saudade.
Sentia uma nostalgia que se me colava à pele e me prendia no vórtice profundo da minha alma.

Mesmo assim, ou melhor, precisamente por me sentir assim, forcei um pouco a minha recente resistência e regressei ao local que considerei o meu reduto, em termos profissionais (e não só), por muitos e bons anos e aonde já não ia há um bom par de meses.

Surgi de surpresa. E mesmo que apenas pelo tempo que leva a tomar um cafezinho e a dizer umas tontarias, voltei a viver momentos que constituíram parte importante da minha vida até há bem pouco tempo e a sentir o conforto de estar rodeada daquela mãozinha cheia de amigas/os.

E, no meio da confusão habitual, quando olho para o local onde normalmente se expõem as informações importantes ou as mensagens cuja necessidade de destaque é imprescindível, eis que me deparo com um poema meu, publicado neste blogue e escrito também num momento de grande angústia.

Algo se acendeu em mim e aquela melancolia que teimava em se agarrar, soltou-se. Da tristeza passei à comoção. Uma gratidão profunda foi aquilo que me assolou no momento. Ninguém tem o direito de se sentir triste quando existem pessoas lindas que, mesmo à distância, nos entendem ao ponto de pegarem naquilo que foi a expressão de um momento mais negativo e o colocam em destaque como gesto de solidariedade, mostrando que, mesmo longe e apesar das suas próprias agruras, estão por perto, atentas...

Se fiz amigas/os destas/es, é porque a minha vida faz todo o sentido; permitam-me esta vaidade!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Uma tarde bem passada

Imagem - Cat Reading da net
Hoje decidi que ia reservar uma boa parte da minha tarde a ler alguns dos meus poetas preferidos.

Sentei-me confortavelmente no sofá, rodeei-me de uns quantos livrinhos e toca de saborear alguns dos poemas que selecciono calmamente. Digo- os em voz alta, sempre, pois gosto de sentir as palavras a rolarem atrevidas umas, tímidas ou ingénuas outras, de encontro ao meu palato. Algumas são tão fortes que quase ferem, outras, as mais delicadas deixam-nos a ligeira impressão do roçagar de uma pena.

Ao meu lado, também confortavelmente sentadas, de preferência até em cima do livro que estou a ler, a Utopia, a Luna, A Tracy , a Carlota e o Envy, aproveitam para apanhar os agradáveis raios de sol que nos aquecem ao mesmo tempo que vão lançando expressivos olhares de verde aprovação. É que os meus gatos também são apreciadores de poesia...

E se, porque o poema o pede, ou porque assim me dita a vontade, me entusiasmo e ergo um pouco mais a voz, logo a Carlota, sempre a mais crítica, solta um ligeiro “arrulhar” de advertência, ao mesmo tempo que me contempla com aquele seu olhar pleno de luz.

Agora vou apenas aqui partilhar um ou dois dos “bombons” que saboreei só para vos deixar de água na boca...




Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu’ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escuta é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen em “Livro Sexto”




A rosa e o mar

Eu gostaria ainda de falar,
da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
o mar tão impetuoso,
que não sei como os juntar,
e convidar para o chá
na casa breve do poema.
O melhor é não falar
sorrir-lhes só da janela.

Eugénio de Andrade




AMIZADE

Desfiz os teus nós
com os meus dedos.
Escrevi os meus sonhos
na tua pele.
Deitei nas tuas mãos
a minha cabeça.
Vi nos teus olhos
a minha censura.
Atei os meus laços
na tua ternura.
Moldei o meu barro
com a tua vontade.

Já não sei o que é meu,
que me deste tanto,
nem sei se é teu
este medo, este espanto.
Dói-me o teu muro,
a barragem de silêncio,
este frio que me tolhe,
este corpo que me encolhe.

Desfaz os meus nós
com os teus dedos…

Maria Sofia Magalhães em “A luz que se esconde”

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

"As Healthclubíadas" (continuação - 2)


Imagem da net

(Afinal o juízo sempre é pouco)


6
E vós, as amigas penitentes
Que comigo padeceis convictamente,
Que pecados de gula cometestes,
Para assim expiardes duramente?
Foi a natinha que de manhã comestes,
Que vos leva a sacrifício tão pungente?
E agora? – Hora e meia a pedalar,
E o Prof. com um sorriso a controlar.


7
E vós, professores impiedosos
Que nos vedes a sofrer, a ofegar,
Que apesar destes feitos valorosos,
Continuais a insistir, a maltratar;
Quando já em arquejos perigosos
Estamos o workout a terminar,
Eis que, tocais lá no botãozinho,
E dizeis: - É só mais um bocadinho!


8
Nem as deusas do Olimpo e suas manhas
Sentadas em seus tronos deslumbrantes,
Com Gama tão prestáveis nas façanhas,
Se dedicam a acudir às implorantes.
Elegantes essas deusas, mas tacanhas,
Pois se julgam assim, tão importantes.
Minerva, Juno, Vénus, deusas fingidas,
Valeis pouco ante estas gentes destemidas!


9
Quanto à “hidro”, só agora vou falar,
É intensa a tortura habitual,
É o forte puxar da água e o empurrar,
As flexões e os saltos sem igual,
E quando já só queremos descansar,
Soltas neste elemento primordial.
Vêm Duberdicus* e Nabia* ajudar
Volvendo as águas para nos relaxar.

* Duberdicus – deus das fontes e das águas na mitologia lusitana
* Nabia – deusa dos rios e da água na mitologia galaica e lusitana


10
É certo que também temos que ajudar,
Rodar o torso, a anca e esticá-los,
Puxar, puxar o braço até estalar.
Os músculos das pernas, é alongá-los
Até no rabo bater o calcanhar
Juntando os joelhos, e controlá-los.
Se julga que é fácil, não se iluda,
Às vezes era bem vinda uma ajuda.


11
A música é agradável, divertida,
A água está quentinha, a preceito,
E lá vamos acompanhando a batida
A insistir p’ra lhe ganharmos o jeito!
Se em flexões e esticões nós nos cansamos,
E às vezes já nos falta o ar no peito,
Há momentos para um pouco lazer
É o tempo de amizades acender.

domingo, 4 de novembro de 2007

Apenas

(Repto aceite!)


Uma folha caída,
Apenas uma folha caída,
Apenas.
Dourada e só.
Parei.
Pesou-me a sua leveza,
O seu fardo de folha solitária,
A sua renúncia,
O seu fim.
Peguei-a com ternura
E,
Talvez num sonho
(ou por inspiração)
Como se fosse poeta,
Levei-a à minha praia.
Soltei-a ao vento
E,
De um fôlego só,
Soprei-a lá bem para o fundo,
Bem para esse âmago,
Essa essência intangível
Onde o mar se funde com o céu.

Fiz dela
A minha estrela.

Dona gata em 2007-11-04

Imagem Stars de Van Gogh

sábado, 3 de novembro de 2007

"A Alma Trocada" de Rosa Lobato de Faria

Li ontem o livro “A alma trocada” com alguma expectativa. Por um lado porque é uma escritora de quem já li obras de que gostei muito e por outro, pelo tema que aborda, talvez um tanto inesperado: a homossexualidade masculina.

A sua escrita, um pouco diferente, talvez mais madura, agradou-me, como sempre, dado o seu cariz eminentemente poético. O tema foi, do meu ponto de vista, tratado com desenvoltura, sensibilidade e realismo, sem pruridos ou eufemismos em momentos hipoteticamente mais delicados.

Não consegui entender (perdoem-me) qual a mensagem subliminar contida na utilização de algumas palavras, aparentemente descontextualizadas, que, dado que até ao final da leitura não consegui entender perfeitamente o sentido, apenas serviram para quebrar o fluxo narrativo. Penso, obviamente, que não seja esse o objectivo.

Ficou a ideia de uma tarde de leitura agradável, bem passado, seguramente, mas sem deixar grandes marcas. Não foi, definitivamente, o livro da autora que mais me impressionou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Outono


Uma folha caiu
em plena estrada.
Era apenas uma folha
uma folha a cair
no meio da estrada.

Uma folha a cair.
Mais nada.

Lisboa, 30-10-2001
Manuel Alegre em “Doze naus”