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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sonhei




Sonhei

Sonhei que voava

E comigo voavam as borboletas, os meninos, 
as bailarinas, os sonhos, todas as palavras improváveis 
de que são feitos os poemas

e tu…


Sonhei

Sonhei que sonhava

E sonhava como só as crianças sonham
E voava. E as borboletas, os meninos, 
as bailarinas, os sonhos e todas as palavras improváveis 
com que construímos os poemas e arrumamos vidas…

e tu voavas comigo.


Sonhei

Sonhei que acordava

E ao acordar voavam ainda as borboletas, os meninos, 
as bailarinas, os sonhos, as palavras 
e um dos mais belos poemas de todos os poemas belos com que eu podia sonhar:

Tu!

2012-02-08
Poema dedicado à minha amiga e ex-aluna Joana Moura Ferreira no dia em que completou 18 anos de imensa coragem.

sábado, 17 de novembro de 2012

Um poema



Nem imaginas como hoje
gostaria de escrever um poema.

Mas está a chover e
as pedras estão molhadas e tristes.
Desbotadas pelas levadas de pés anónimos
que as percorrem apressados.

Está a chover, sabes?
E assim, o poema não quer sair.
Faltam-lhe os melros, as rolas, as libelinhas
e as poucas flores choram grossas gotas de hálito azul.

Há gaivotas.
Estão em terra todas juntinhas  e arrumadas para o mesmo lado.
Mas gaivotas não são a mesma coisa…

Nem imaginas como hoje gostaria de escrever um poema…

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Às malvas



Hoje apetecia-me mandar tudo às malvas.

Que é como quem diz que o que eu queria mesmo era o privilégio de fazer apenas aquilo que me apetece. 
Borrifar-me para as obrigações, para as conveniências, para os compromissos. Enfim, livrar -me de todas essas grilhetas que me azedam e me amarram os dias.

E, em vez disso, ocupar-me com alguma coisa lúcida…
Ou, ainda melhor, não me ocupar com absolutamente nada e deixar – me vadiar, completamente absorta, pelos caminhos mais recônditos da imaginação.

Mas não será a realidade um conveniente produto da imaginação?

Como está pragmática a minha imaginação!
De tão praxista não lhe consigo encontrar uma pontinha que seja de fantasia; dessa irrealidade bonita que a devia compor.

Resta-me o desânimo!

Mas será mesmo que já não divisarei o devaneio? Já não conseguirei ascender a esse querido patamar que me permite o delírio?
Que imbecilismos são estes que surgem de todos os lados e me amarram a uma realidade boçal que não me deixa voar? Ou a uma imaginação amarrada, também ela, e que não se permite criar-me outra realidade, superior, mais tolerável ?!

Hoje vou recusar esse marasmo!

Hoje vou mandar tudo às malvas!!!!

domingo, 11 de novembro de 2012

Grito


"O Grito" de Edvard Munch

É este sentimento de impotência
que me incendeia de soslaio.
É esta incapacidade de soltar as amarras do alento
que me segreda raivas que me subjugam.
É este medo, esta angústia que me assola
me paralisa, me aniquila, me morde as entranhas
que me faz gritar de medo. 
Espreito o amanhã
apenas com o canto mais secreto do olhar. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Hoje o mar


Fotografia tirada em Matosinhos

Hoje estava lindo o meu mar.

Roubou-me o olhar que vagueava indeciso
por flores que já não há,
por pessoas cinzentas que passavam cinzentas
em poses cinzentas,
por aves esquivas que voavam distantes e cinzentas...

Estava lindo o meu mar hoje!

Roubou um ou dois raios ao sol
que, inflamados, fenderam as nuvens
e se espreguiçaram na prata das águas.

Tão lindo que estava o meu mar hoje!