Páginas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

FELIZ ANO NOVO

(Imagem: Vocal)

Aproveitem este "magnífico" coro e tenham uma excelente passagem para 2008.


(Imagem: Fireworks Finale)

Que o próximo ano vos traga, em dobro, tudo aquilo porque anseiam.


(Imagem: Happy New Year)

Beijos para todos.
Divirtam-se

domingo, 30 de dezembro de 2007

"A casa da paixão" de Nélida Piñon

Foi por mero acaso que me chegou às mãos o livro “A casa da paixão”. Ao ler as referências feitas à autora e sabendo-a pioneira, como mulher e escritora de língua portuguesa, na atribuição de alguns prémios bem como no exercício de cargos de grande destaque (primeira mulher a presidir a Academia brasileira de letras), foi com curiosidade e expectativa que dei início à sua leitura.

De início não me foi totalmente agradável, o que acontece sempre que leio livros em português do Brasil; levo sempre algum tempo a habituar-me àquelas pequenas nuances na língua que não parecem “encaixar” bem.

Ultrapassado esse aspecto comecei a apreciar devidamente o que lia.
Livro muito denso, pejado de mudanças abruptas quer ao nível da construção frásica quer ao nível da própria narrativa, extremamente metafórico, em que a linguagem assume um papel preponderante. As palavras ultrapassam a sua relação entre significado e significante, indo muito além disso, reinventando sentidos, ultrapassando as limitações que lhe são historicamente inerentes.
A linguagem utilizada é eminentemente poética, de cariz erótico e muito trabalhada ao nível psicológico.

De agradável leitura embora não fácil. Exige do leitor tanto quanto lhe consegue proporcionar.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Divagações em torno de um presente de Natal

(Imagem da net)
Devo dizer que o Pai Natal cá de casa foi deveras generoso comigo em relação aos presentes que recebi. Aliás é já um hábito, sou uma Gata muito mimada!
Mas, é em relação a um destes presentes que me apetece divagar um pouco apenas pela razão de ter sido causador de um momento de raríssima elegância protagonizado por mim.

O presente em questão trata-se de um par de sapatilhas ou ténis (1) especialíssimas para “woman training” que me foram oferecidas com o propósito específico de aligeirar as longas agruras das minhas manhãs no ginásio.

Que gentileza! Que atenção! E que lindas são as ditas sapatilhas!

Terminados que estão os festejos natalícios, há que regressar ao healthclube e retomar todas aquelas actividades deprimentes com vista a perder os milhões de calorias ingeridas em tão curto espaço de tempo.

Como o que tem de ser tem muita força, lá fui eu a uma aula de cardiofitness, orgulhosamente calçada com as ditas sapatilhas, reluzentes e prontas a ajudar-me (assim era esperado).

Começa a aula e há que, ao som de uma música de forte batida, saltitar, balançar, cruzar a perna pela frente, cruzá-la agora por trás, flectir, distender, bater palmas, eu sei lá!... Enfim uma coreografia digna de atletas olímpicos. E lá estava eu mais as minhas novas sapatilhas a dar o nosso melhor num esforço conjunto digno de nota.
Tudo parecia correr mais ou menos bem embora já quase não tivesse bem a consciência do que estava a fazer (dada a falta de oxigenação no cérebro, nada de novo), quando, de repente, eis que entorto um pé e me sinto a cair abaixo das sapatilhas!
Para não fazer uma entorse que poderia ser desagradável, num acto reflexo, deixei-me tombar executando um elegante voo digno, quiçá, de uma Margot Fontaine, aterrando de forma ainda mais elegante com os joelhos a bater estrondosamente no chão do ginásio.

A Prof, assustada, com o barulho, suponho e intrigada com o meu desaparecimento do seu campo visual, lança-se em corrida julgando que, finalmente, havia conseguido o seu objectivo oculto: que uma de nós estriquinasse (palavra fabulosa que a minha filha me ensinou, tinha que a usar embora não tenha a mais pequena ideia de qual seja a sua grafia).

E lá estava eu, agarrada às fabulosas sapatilhas, desapertando os cordões, ou atacadores (2), magoada, sobretudo no meu ego embora os meus joelhos não se deixassem também ignorar, ao mesmo tempo que me indagava das verdadeiras razões da oferta das mesmas: seriam elas para me facilitar o workout ou exterminadoras implacáveis?!
Estaria eu envolvida numa maquinação maléfica cujo objectivo seria fazer-me estriquinar (cá está novamente, simplesmente fantástica!)? É que as sapatilhas têm um piso ainda bem altinho, sei lá, aí uns 3 cm! Dá uma valente queda!

Pelo sim e pelo não continuei a aula descalça tendo-as colocado a uma distância confortável dos meus pés. É que o seguro morreu de velho!!!


Notas

1) Interessante esta forma de dar nome de modalidade desportiva a um tipo de calçado. Quase tão bom como chamar cimbalino ou bica ao cafézinho delicioso coberto daquela espuminha... ou picheleiro ao homem que trabalha nas canalizações...
2) Tão interessante como os exemplos anteriores e tão a propósito: atacadores ou cordões? Seguramente atacadores neste caso específico, sapatilhas não fiáveis...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

História antiga

(Imagem: Fuga para o Egipto de Paula Rego)
Era uma vez, lá na Judeia, um rei,
Feio bicho, de resto:
Um cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E na verdade, assim acontecia,
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Ou não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.


Miguel Torga, Antologia Poética

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Este já passou!

(Imagem: Tudo pronto para receber a família.)
(Imagem: Pormenor do centro de mesa)

Finalmente acabou o Natal!
Desiluda-se quem possa pensar que tenho alguma coisa contra o nascimento do tal Menino (ou de outro qualquer). Não, não tenho.
Simplesmente, uma vez que não vivo a quadra com o espírito religioso que ela pressupõe e, precisamente por ser supostamente esse o espírito que deveria estar subjacente a tudo o resto e, na maioria das vezes não está, desagrada-me profundamente o carácter absurdamente consumista que tomou e com que eu inevitavelmente pactuo embora contrariada. A verdade, porém, é que não consigo deixar de o fazer; a tradição é um forte poder!

Todavia, devo dizer, que hoje, dia 27, um pouco mais relaxada, até já nem acho a quadra assim tão deprimente!
Consegui juntar cá em casa toda a família. Éramos 21. Consegui o ânimo necessário para a alindar de modo a que todos sentissemos a festa e, mais importante (não é certamente o mais importante, mas sim o que mais me preocupava), consegui cozinhar aceitavelmente para esta gente toda de modo a ficarem razoavelmente satisfeitos. Enfim, pelo menos ninguém aparentou um ar suficientemente nauseado para me criar traumatismos psicológicos relativos ao meu desempenho culinário. Mas também são todos tão queridos....

A mesa era grande e reinou a animação própria das reuniões familiares. Estavam presentes quatro gerações! É que eu já tenho uma sobrinha neta...
As Avós encabeçavam a mesa mas, os mais animados, eram os seis sobrinhos adolescentes com quem fui entabulando conversas, tipo, refrescantes, tipo acerca de cenas totil fixes, ou então, tipo aquelas cenas das notas, tipo assim muito injustas, até porque, tipo a prof. era totil chata, pá.
Á meia-noite abriram-se os presentes com a confusão habitual de papéis rasgados, fitas arrancadas, embrulhos trocados e exclamações mais ou menos entusiasmadas.
Os mais novos foram novamente os mais animados até porque são os únicos alvoroçados quanto aos presentes de Natal.

Por fim, regressaram às suas casas, deixando para trás os despojos da festa. E nós, os da casa, depois de recompormos a sala e concluirmos os preparativos necessários para voltar a receber as mesmas pessoas no dia seguinte para o almoço do Dia de Natal, colocámos os nossos sapatos (já/ainda não há sapatinhos) junto à árvore e fomos dormir sonhando, se calhar, com as surpresas que lá iríamos encontrar de manhã.

É que para nós, cá os da casa, o Pai Natal ainda existe...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Boas Festas felinas



Como não podia deixar de ser aqui vão as boas festas da minha grande família de quatro patas.
Puurrrrrr....

Boas Festas

(Imagem: Cat's corous by Louis Wain)
Apenas umas palavrinhas que pretendem ser assim uma espécie de mensagem de Natal.

Desejo a todos os que por aqui costumam passar um excelente Natal, com tudo aquilo a que cada um considerar ter direito.

Desejo que tenham animadas reuniões de família e, sobretudo, reuniões em que o mais importante não sejam os presentes que se recebem ou se dão mas sim o prazer de estarem juntos.

Consigamos todos usufruir da alegria que é termos uma família que amamos, pequena ou grande, de alguns amigos com quem possamos realmente contar e da tranquilidade de vivermos em paz.

Sejam felizes!!!

domingo, 23 de dezembro de 2007

NATAL

(Imagem: Loneliness de Chagal)
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha
Obras Completas do Poeta
Lisboa, Universitária Editora, 2002

Recordar

sábado, 22 de dezembro de 2007

"Akhenaton o Rei Herege" de Naguib Mahfouz

Dei início à leitura deste livro do qual tomei conhecimento através do blogue “O Enigma e o Espelho”exactamente por aí ser recomendado e também por um conjunto de outras razões que o tornavam imperdível a meu ver.

Em primeiro lugar porque trata de um tema que sempre me fascinou uma vez que, em termos de formação, tenho também uma “costelinha” na área da História. Tenho uma enorme curiosidade pela história do Egipto desde os seus primórdios, sendo este período um dos que me suscita maior interesse.

Depois, por ter como autor um escritor árabe, galardoado com o Nobel da Literatura em 1988 e que, além disso, foi perseguido e considerado herege (que interessante coincidência) devido aos seus livros, tendo até sofrido um atentado perpetrado por fundamentalistas islâmicos.

Ainda por, na sinopse, ser descrito com a estrutura de um romance policial, género que, quando bem escrito, aprecio bastante.

Finalmente por ser também referido como “uma espécie de expedição arqueológica”. Quem é que não gostaria de participar numa expedição às areias do Egipto confortavelmente sentada no seu sofá?

Bom, terminei a sua leitura e devo dizer que foi uma enorme desilusão.
O autor enveredou por um tipo de narrativa em que vários depoentes falam de um mesmo assunto. É uma forma de escrita ambiciosa mas de difícil gestão em que é necessário um grande esforço para se conseguir a interligação perfeita entre as várias narrativas, recorrendo a estratégias diversas como, por exemplo, o contraste, para que resulte em algo com interesse.

Não me pareceu ter sido o caso. O livro acabou por se tornar uma sucessão de narrativas insípidas e desinteressantes, mesmo do ponto de vista literário, que se distinguem apenas pelo facto de serem a favor ou contra o Faraó.
Não me pareceu tampouco que as referidas narrativas/depoimentos revelem da parte do autor um conhecimento suficientemente aprofundado do período histórico em questão; finais da XVIII dinastia, Séc. XIV a.C., período também conhecido como de Amarna.

É certo que se trata de uma época em relação à qual são tantas as as dúvidas quanto as certezas. É um período além de enigmático, um tanto obscuro ainda para os historiadores e nem sempre alvo de opiniões consensuais no seio dos egiptólogos mais proeminentes. O material de estudo é relativamente escasso, ao contrário do que acontece em outros períodos mesmo mais remotos, uma vez que tendo sido considerado herege pelos faraós seus sucessores, todos os vestígios do curto e controverso reinado de Akhenaton, foram criteriosamente destruídos. Todas as inscrições foram apagadas e o seu nome banido da lista de Faraós que governaram o Egipto.

Contudo, penso que apesar dos constrangimentos que resultam do que acabei de expor, o autor poderia ter sido mais empenhado em termos de investigação histórica, tendo podido, na minha opinião, criar um livro um pouco mais audacioso.

Poemas de Natal


NATAL

O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.


E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.


Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.


A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa

Poemas de Natal


(Imagem: Aldeia de Natal, da net)
Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor
Há neve que faz mal
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar
Chove no Natal presente
Antes isso que
nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem a quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Vela


Mais uma vez rendida à evidência das estatísticas!
Ora aqui vai mais um gráfico para ponto de cruz com o qual poderão executar até um pequeno presente de Natal.
Pequeno, claro, porque o tempo também já escasseia...

Poemas de Natal

(Imagem da net)

Este é seguramente um dos meus preferidos. Apreciem-no! Vale a pena!

DIA DE NATAL

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta

De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinhamesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinhodo Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.


António Gedeão

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"O Traficante de Armas" de Hugh Laurie

Acabei de ler o livro que havia iniciado com imensa curiosidade dado que sou fã do seu autor. Não enquanto escritor, não lhe conheço outras publicações, mas na sua qualidade de actor cujo desempenho me encantou desde a sua participação em Blackadder em que protagoniza o príncipe George (ao lado de Rowan Atkinson enquando ainda lhe achava piada), até ao actualíssimo Dr. House.

Com “O Traficante de Armas”, Hugh Laurie, criou um romance interessante, de leitura agradável, contendo um tipo de humor cáustico e contundente, muito ao jeito do que esperaríamos ouvir da boca do Dr. House.

Dá para pensar quanto daquela personagem rabugenta, politicamente incorrecta, irascível e terrivelmente irritante, não reflectirá também um pouco da personalidade do actor que lhe dá vida, Hugh Laurie...

O enredo é tremendo se considerarmos o número de voltas que dá, bem como o número de situações arriscadas em que coloca o protagonista.

Julgo que a intenção terá sido também a de satirizar um pouco os romances deste género. Contudo, ao fazê-lo, criou ele próprio um livro que, sendo um misto de suspense e de comédia cuja escrita denota grande inteligência é, ele próprio, um exemplo do género satirizado.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Domingo à tarde

Encolhida no sofá,
Envolta em mantas fofas,
Em gatos que se enroscam em mim
Ronronantes de mimo
E em folhas de jornais esquecidas,
Gozo o fugaz prazer da inacção.
Tento esvaziar a mente!
Tento parar o fluxo constante
De pensamentos inquietos
Que teimam em manter-se.
Em acordar-me
Para o que quero estar adormecida.
Em lembrar-me
O que pretendo esquecer.
As chamas, na lareira,
Devoram a madeira crepitante
Elevando-se em orgias de cor.
Quem me dera
Poder elevar-me com elas
E dissolver-me, lentamente, em fumo!
Apesar de desligada,
A televisão mostra-me imagens
Que eu não quero ver,
Emite sons que eu não quero ouvir.
Quero estar vazia, oca.
Receptáculo de outro eu,
Que não este
Que mal reconheço.
E de quem não sei se gosto.

Donagata em 9/12/2007

(Imagem: "Dimanche Aprés-midi (1980) de Leonor Fini)

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Motivos fantásticos para comemorar!

(Imagem da net)
Ainda acerca do poste anterior. Realmente ontem foi dia de todas as comemorações!
Vejam só:
Não só festejei o centésimo poste como também, ao mesmo tempo e, muito mais importante, atingi o patamar de proficiência que me permitiu concluir com sucesso um link para o You Tube sem que desse erro!!!

É mesmo verdade! É espantoso!
Na base da tentativa e erro (de um número infindável de tentativas e de consequentes erros), estou a ficar um ás nisto das TIC. E quando digo um ás, é mesmo um ás dos bons.

Julgo não estar a exagerar se disser que penso ter já atingido, em termos de utilização das novas tecnologias, claro, o grau de competência de um indivíduo, vá lá, de ... doze anos. Bom, mais realisticamente e sem falsas modéstias, de treze, pronto.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Finalmente o centésimo poste!


(Imagem: Threatning Skies de Van Gogh)

Pois é, já escrevi cem! Tudo começou a brincar, a experimentar, a tactear e já lá vão cem postes.
E sabem que mais, continuo a brincar, a experimentar, a tactear e, sobretudo, a aprender. E que prazer me dá!
Claro que para alguns é uma ridícula ninharia mas, para mim, é um feito; dos pequeninos, é certo, mas um feito!

E para comemorar, nada melhor do que as palavras de um poema que Louis Armstrog imortalizou com a sua inconfundível voz: "What a wonderful world"

Hoje é assim que quero ver o mundo. Amanhã se verá!

What a wonderful world de Louis Armstrog

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself what a wonderful world.

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself what a wonderful world.

The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands saying how do you do
They're really saying I love you.

I hear babies crying, I watch them grow
They'll learn much more than I'll never know
And I think to myself what a wonderful world
Yes I think to myself what a wonderful world.

domingo, 16 de dezembro de 2007

"O estranho caso do cão morto" de Mark Haddon

Recomendo vivamente!

Não, desta vez não vou comentar, descansem.
Não tenho a mínima intenção de transformar este bogue num espaço dedicado à crítica literária. Não possuo a formação ou as capacidades de análise e de síntese que mo permitam fazer com o mínimo de propriedade. O que tenho feito em relação às minhas leituras tem-se limitado à simples expressão das opiniões que delas formo, mais ou menos fundamentadas.

Hoje vou apenas recomendar a leitura de um livro “O estranho caso do cão morto” de Mark Haddon.
Li-o quando da sua edição, nas férias de 2003, e foi fantástico. Por um lado porque é lindíssimo, por outro porque me ajudou a perceber algumas das atitudes das pessoas (no meu caso, das crianças) que sofrem do “síndrome do espectro do autismo” e, assim, melhor as poder ajudar.

Como pessoa ligada à Educação e ultimamente à área mais específica da gestão escolar, liguei-me muito à procura das formas mais adequadas de dar resposta a crianças com este tipo de problemática.
E, talvez por isso, por me encontrar muito sensibilizada para este problema, a leitura deste livro, escrito supostamente por um autista de quinze anos, fez-me mergulhar na sua mente, na sua percepção do mundo “exterior”, na sua lógica própria, na sua lucidez, pondo até, por vezes em causa o conceito de “normalidade”

O autor, psicólogo e professor de crianças autistas, leva-nos ao longo deste romance, através do humor e de muita sensibilidade a mergulhar neste mundo próprio, de difícil acesso, de difícil compreensão e de, ainda mais difícil abordagem.

A não perder. Está outra vez nas bancas.
Ideal para presente de Natal.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Árvore de Natal

(Imagem: a dita- cuja árvore de Natal. A gatinha que se vê (mal) à direita, na imagem, não é adereço, é a Utopia, um doce de gata que, obviamente, ajudou nas decorações e agora está a descansar.)

Finalmente lá me consegui deixar de “panunfices” (desculpem, mas aprendi esta palavra com um amigo e andava à procura de pretexto para a utilizar. É encantadora...), dei um pontapé no desinteresse e outro na inércia, deitei mãos à obra e dei início às decorações de Natal cá de casa.

Não julguem que é tarefa fácil! A casa é grandinha e, a verdade, é que sou bastante esquisitinha nestas coisas. É que, tenho para mim que as pessoas que comigo irão partilhar esta festa, merecem muito mais que a simples refeição tradicional. Merecem que tente proporcionar-lhes um ambiente festivo, acolhedor e, se possível, de bom gosto.

A decoração natalícia é uma tarefa que considero de família, portanto escolhemos, sempre que possível, um dia em que estejamos todos em casa para dar início ao processo.
Então lá fomos ao sótão buscar as caixas (cinco e grandes) que contêm os enfeites acumulados ao longo dos anos. Há que tirar tudo cá para fora, escolher o que vai ser utilizado este ano e rearrumar o que resta.

Depois foi só ir colocando os enfeites de acordo com o plano previamente estabelecido o qual havia já sido acordado de forma consensual. Normalmente tenho direito a voto de desempate (embora as más línguas lhe chamem “veto” mas eu nem sei o que isso é).

E com tudo isto lá deixámos a árvore de Natal feita assim como alguns, poucos, arranjos.
Agora é só ir continuando...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

"O Sétimo Selo" de José Rodrigues dos Santos

Ao terminar a leitura deste último romance de José Rodrigues dos Santos ficou-me uma sensação de desconsolo e, até de desconcerto.
Sou apreciadora do autor enquanto jornalista e mesmo enquanto romancista. Tenho um grande apreço pelo seu apurado trabalho de investigação actualizada acerca dos temas que escolhe. Acho oportuno e de grande interesse actual o tema que aborda neste romance. Contudo, fiquei com a sensação estranha de que algo não tinha funcionado.

Em termos da estrutura formal do enredo, José Rodrigues dos Santos faz, quanto a mim, uma abordagem demasiado próxima daquela que utilizou em “A Formula de Deus”.
Vejamos:
A mesma personagem principal Tomás, historiador, criptologista e professor na Universidade é contratado por “alguém” para desvendar um enigma e encontrar um amigo seu desaparecido; tal como no anterior, só que o amigo era do pai e não seu...
Depois de aceite o desafio, Tomás vê-se envolvido numa sucessão alucinante de peripécias e aventuras, envolvendo risco da própria vida; tal como no anterior...
A acompanhá-lo nessas aventuras, pelo menos em parte, está uma beldade arrebatadora; desta vez é russa, da outra era iraniana...
Depois desse imenso périplo de situações perigosas, tudo termina mais ou menos bem embora “in extremis”; tal como no outro...
No anterior Tomás tinha que gerir um grave problema pessoal no meio de toda a confusão, a doença terminal de seu pai e a sua impossibilidade em estar presente. Neste tem também de lidar com a perda progressiva de faculdades da sua mãe, incapaz de viver sozinha, levando-o a ter de tomar a opção dolorosa de a colocar numa casa de repouso.

Enquanto decorre a acção, este livro, tal como o anterior, está pejado de conversas entre personagens cujo objectivo é, quase podemos dizer, meramente didáctico, com longas e repetidas explicações acerca de temas como o aquecimento global e suas causas, a posição dos diversos países e a escassez dos combustíveis fósseis. Pese embora a pertinência e importância inquestionável e incontornável dos assuntos em causa, essas explicações, do meu ponto de vista exageradas (não é um assunto tão difícil de entender e, supostamente, o interlocutor é professor numa Universidade...) fazem com que o livro sofra quebras importantes no seu ritmo. Também isto já havia acontecido em “A fórmula de Deus” mas como as explicações aí se referiam a assuntos pouco próximos do domínio comum tal como a teoria da relatividade e outros conceitos desenvolvidos por Einstein e noções de física quântica, estas explicações eram imprescindíveis tornando-se parte integrante do enredo não parecendo maçadoras. Sem elas o romance tornar-se-ia incompreensível para uma parte razoável dos seus possíveis leitores.

Porém, apesar de parecer que, a meu ver, claro, tem alguns pontos menos positivos, recomendo, repito, recomendo a sua leitura.
Apesar de tudo é um livro que nos acorda, bruscamente, devo dizer, para problemas que, na maioria das vezes preferimos ignorar e fazer de conta que não é nada connosco.
Fazer-nos encarar de frente a perenidade de coisas que tomamos como certas e eternas é francamente assustador. Contudo é necessário. É que essa escassez, esse fim anunciado, não é algo fruto da imaginação de alguém a dar conteúdo a um qualquer livro de ficção científica.
Não, é algo realmente próximo e que poderá ainda afectar-nos a nós, estes que aqui andamos agora.
Isso já é outra conversa, não é?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Há coisas fantásticas não há?


(Amizade, imagem da net)

Isto da Internet tem coisas fantásticas não tem?

Aconteceu há uns dia atrás!
Estava eu a fazer aminha ronda habitual pelos blogues do costume ao mesmo tempo que, clicando aqui e acolá, quase ao acaso, ia dando espreitadelas, mais ou menos atentas, aos blogues em que entrava. Até que de repente um deles me despertou uma atenção muito especial:
Por um lado porque, tratando-se de um blogue essencialmente dedicado à fotografia, revelava imagens de excelente qualidade e focavam eventos e assuntos que vinham de encontro aos meus gostos e interesses pessoais;
Por outro lado porque essas fotografias retratavam todas elas aspectos do Porto a minha cidade do coração.

Tive curiosidade em verificar quem era o autor de tão agradável blogue e, surpresa das surpresas, deparei-me com o nome de uma pessoa de quem, em tempos, tinha sido muito amiga mas a quem as voltas da vida me haviam feito perder o rasto.
Seria a mesma pessoa? Seria apenas seu homónimo? Parecia-me grande a coincidência dado que, já na altura em que eramos amigos bem chegados (há já trinta e qualquer coisa anos), o hobby desse meu amigo era a fotografia para o que tinha de facto uma enorme sensibilidade.

Foi ele quem fotografou o meu casamento! É que eu detestava aquelas fotografias tradicionais de poses previamente estudadas e completamente antinaturais além de parvas. E ele, esse meu amigo, já nessa altura embora amador estava muito à frente...

Tirei-me dos meus cuidados e, uma vez que o blogue fazia referência ao seu E-mail, enviei-lhe uma mensagem na qual lhe fornecia alguns elementos que poderiam determinar se se tratava ou não do meu amigo “escondido” há tantos anos.

No próprio dia tive a confirmação. Era mesmo ele, o tal amigo do qual há tanto tempo desconhecia o paradeiro. Para mim foi uma grande alegria e, para ele, penso que também não tenha sido uma coisa muito desagradável.
Tenciono reatar esse contacto perdido e talvez, quem sabe, um pouco dessa amizade que em tempos nos uniu.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A Flor

(Imagem: Flower, da net)

Estive hoje a ler e resolvi partlhar um pouco. Desfrutem.



A flor

Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-le papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala, onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas linhas com que deus faz uma flor!

José de Almada Negreiros

"Uma mulher não chora" de Rita Ferro

Não sou uma grande apreciadora de um tipo de literatura actual que algumas autoras portuguesas actuais têm vindo a desenvolver. Considero que abordam temas de grande futilidade, geralmente ligados à condição da mulher moderna e emancipada, sem profundidade e de qualidade literária sofrível.
Apesar disso, é já o terceiro livro que leio de Rita Ferro e, mais uma vez, distancio esta autora do grupo das chamadas escritoras de literatura light, seja lá isso o que for.

Livro sobre mulheres na casa dos quarenta, divorciadas, modernas, descomplexadas, independentes e sexualmente desinibidas.
Muito introspectivo, desmontando constantemente (ou pelo menos tentando) os sentimentos mais íntimos de uma mulher dividida entre a incerteza do que é amor ou simples relação sexual, surgida do impulso carnal, perene e, contudo, absolutamente prevalecente.

Cheia de dúvidas acerca da dispensabilidade do homem na vida da mulher, revela alguns medos, esconde outros de si própria sem conseguir fugir ao sonho romântico. Esta clivagem traz-lhe momentos de infelicidade, sentindo uma grande insegurança em relação a si própria e cito:

“Ou começava a ser normal conceber o paradoxo de que a felicidade me poderia tornar deslocada, perdida, infeliz.”

Ou:

“O que haveria de medonho no cumprimento de mim mesma? De sinistro, na virtude? De monótono, na sabedoria? De perverso, na graça?”

De qualidade literária quer na forma quer no vocabulário escolhido que é cuidado não cedendo à vulgaridade.

(Imagem: fotografia da autora)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

As compras de Natal

(Imagem da net)
Hoje foi dia de Centro Comercial.
Aproveitei ter a companhia da filha e lá fomos as duas numa tentativa de despachar pelo menos uma parte das compras de Natal. Completamente gorada, devo dizer, a referida tentativa, claro, mas absolutamente conseguida uma enorme irritação, frustração, revolta ou algo que nem consigo muito bem definir.

“Compras de Natal”! Já o conceito de “compras de Natal” tal como actualmente o entendemos me irrita. Ou seja uma orgia desenfreada de compras e mais compras de objectos de utilidade no mínimo duvidosa que escolhemos, embrulhamos, carregamos e colocamos, reluzentes, junto à árvore de Natal, ou Presépio, ou ambos.
Quanto mais embrulhos e mais coloridos lá colocarmos melhor será o Natal!

É claro que após o cerimonial da abertura com o desembaraçar das fitas, o rasgar dos papeis, o abrir as caixas, os sorrisos resplandecentes, as expressões de surpresa comovida, nada daquilo vai fazer verdadeiramente jeito a ninguém (ou teriamos de gastar fortunas) e, em alguns casos, os presentes poderão ainda acarretar o seguinte problema adicional: e-agora-o-que-é-que-eu-vou-fazer-com-isto?

São as malhas eficazes do consumismo desenfreado às quais, embora contrariada e muito, muito irritada, não sou capaz de fugir.

Até porque, em boa verdade, não imagino sequer um Natal em que não tenha um presentinho para cada uma das pessoas que cá vêm (e são sempre muitas). O que eu abomino mesmo é o acto de comprar; de inventar necessidades, de decidir qual o presente perfeito (que nunca é) para cada um, de gerir racionalmente um orçamento pré-definido (o qual nunca cumpro), de não esquecer a lembrancinha de ninguém...

Enfim, uma canseira estéril para a qual já não tenho a mínima paciência.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Anoitecer com chuva

(Imagem da net)
Imersa numa densa escuridão
Que teima em envolver-me
Vestindo-me o corpo e a alma,
Escuto:
As gotas de chuva tombam,
Pesadas,
Intensas,
Ritmadas,
Nas folhas das árvores do jardim,
Que gemem baixinho
Num sussurro.
Pelos vidros da ampla janela,
Através da qual
Não vislumbro senão sombras,
Deslizam fios de água
Que suportam lágrimas azuis.
Lágrimas de um choro
De quem já foi perdoado,
Ou lágrimas de perdão
De quem nunca havia chorado.


Donagata em 30/11/2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

"A vida aventurosa de Sparrow Drinkwater" de Trevor Ferguson

Recomendo vivamente.
É um livro desconcertante. Balança constantemente entre o real e o imaginário num “bailado” de grande beleza em que o fio ténue que separa um do outro é, muitas vezes, indetectável.

História complexa em que a quantidade de situações insólitas se vão sucedendo transmitindo sempre um misto de ternura e beleza das quais temos dificuldade de nos soltar interrompendo a leitura.

Conta uma história plena de magia, de um rapaz que, tendo nascido num manicómio onde a sua mãe se encontrava, vai acabar por atravessar ao longo de uma vida atribulada, todo o continente americano em busca do pai (um corvo, segundo a sua mãe), da mãe de quem entretanto se perde, de si próprio largado no mundo real.

Belíssimo.