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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Dizem


no meu jardim

Mais uma Primavera,
dizem
e com ela procuro despir-me
deste desespero nu.
Procuro suster a vida
que se escoa brandamente
levando os sonhos,
a angústia dos sorrisos,
a música dos amores-perfeitos,
as limalhas de cor.

Mais uma Primavera,
dizem
e as nuvens vestem-se
de uma luz nova
espantada
e tingida de rosas e anis.
Fecho bem os punhos
onde aperto os sonhos.
Empurro as paredes,
as cores, os sons,
os cheiros que me afogam.


Mais uma Primavera,
dizem
e a vida escorre devagarinho
rolando sílabas frias,
descobrindo palavras
numa incoerência sábia,
desvendando segredos
naquela lentidão possível
de quem desfaz quimeras antigas

Mais uma Primavera,

dizem




Abril 2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Agora sou água do mar

Aguarela de Maria Manuela Silva

Agora sou água do mar

Sou o silêncio de que são feitos os sonhos.
Sou grito rouco de palavras de calar
e guardo em mim todos os segredos da areia.
Não preciso mais de certezas,
nem de fingir percursos,
e tampouco embarco em derivas inúteis
que mais não são que
patéticas geometrias do absurdo.
Não sofro já de futuros incertos
e guardo a saudade aqui mesmo,
no cós do imaginário sem limites.
Vogo na franja da onda
e adormeço no regaço da minha própria intimidade.

Agora sou água do mar.

2016-05-11


Nota: poema construído sobre uma aguarela de Manuela Silva