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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Abril



Todos deveriam conhecer Abril!
Abril é mesmo bonito sobretudo quando Abril é em Portugal.
Abril cheira ao sal das lágrimas que se penduram pelos bicos, nas pontas das folhas ébrias de verde e brincam ao sabor das diabruras da brisa.
Cheira ao som das cores de todas as borboletas que pousam em todas as flores que cheiram ao seu próprio voo.
Abril sabe bem.
Sabe a chilreios de aves livres que se passeiam livres por céus de um azul muito livre e muito límpido e muito fresco.
Abril tem muitas imagens de guardar memórias.
Imagens lindas como cravos vermelhos, rostos felizes, dedos em “vê”, pessoas na praça, muitas pessoas na praça, olhares de esperança, sorrisos de quem confia…
Mas Abril, às vezes, cada vez mais vezes, também tem chuva, dias tristes, cores de desesperança, cravos de fazer de conta, “grândolas” desafinadas, olhares cinzentos, bocas sem sorrisos, ou se sorrisos, de esguelha, não sorrisos, crispações, mãos erguidas em punhos bem cheios de revolta e dor.
E passeiam na praça eunucos incompetentes, muito bem vestidos, muito bem falantes, de sorrisos resplandecentes que estragam Abril. Que lhe tiram o viço, o cheiro bom das coisas boas. Que calcam as flores no minuto antes de voarem e assustam as aves e matam as borboletas porque, sem o voo das flores, já não vale a pena viver.
E há menos pessoas nessa praça onde sobejam os tais eunucos inábeis, muito menos pessoas na praça e muito mais desalento, muita, mas muita saudade da cor da voz das pessoas que afinavam cantando a “Grândola” quando a Grândola tinha o sabor, a frescura e a limpidez do azul da Liberdade.