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segunda-feira, 28 de abril de 2008

"O Ano Em Que Devia Morrer" de Miguel Pinto

Por recomendação de alguém que muito prezo no que diz respeito aos gostos literários (e a muitas outras coisas), li o livro “O ano em que devia morrer” de Miguel Pinto.
Logo ao ler a pequena sinopse da contracapa percebi que se tratava de um tema que me suscitava toda a curiosidade e muitas dúvidas; a vida em Cuba em pleno período da revolução de Fidel, contada por alguém que, supostamente*, a apoiava e activamente defendia os seus valores sendo militante activo e premiado do regime. Ao encetar uma relação com alguém “duvidoso”, não aprovado, entra numa corrente de represálias, de traições e planos urdidos para o desacreditar que culminam com a sua prisão.

O livro lê-se muito rapidamente quer pelo interesse que suscita o tema que desenvolve, quer pela forma simples, despretensiosa mas muito interessante da sua escrita.
Um livro, na minha opinião, francamente autobiográfico que, ao longo das suas 268 páginas, nos vai transportando através de uma realidade cada vez mais negra confirmando assim aquilo que já há muito suspeitava quer pelo pouco que foi, ao longo dos anos, transparecendo para o exterior, embora muito filtrado e deturpado até, quer pelo que pude constatar aquando da minha visita a Cuba que fiz com olhos muito atentos.

A troco de uma boa saúde e educação, gratuitas, privam-se as pessoas das mais elementares liberdades, até a liberdade de ter vontade de. Será que vale a pena? Pergunto-me qual é o interesse de chegar a um luxuosíssimo resort e ter a transportar-me as malas para o quarto, um indivíduo licenciado em Direito e com uma pós graduação em Direito Criminal feita em Coimbra?! OK. Teve acesso a uma educação superior, de qualidade, gratuita e agora se exercer Direito, o que só pode fazer para o estado, leva a que tenha uma qualidade de vida muito pior do que andar a carregar com as malas dos turistas!!! Parece-me haver aqui um “ligeiro” contra-senso, ou não haverá?

Bom, mas continuando no livro, devo dizer que, aqui e ali, me fez lembrar um pouco o Papillon o qual já li há imensos anos. Também acaba por contar os infortúnios de alguém que, caído em desgraça em termos políticos, sofre as agruras das prisões cubanas.
Recomendo.

*Quando utilizo aqui a palavra “supostamente” não quero, de forma nenhuma, pôr em causa o testemunho do autor. Ressalvo apenas a possibilidade de alguma ponta de ficção que possa estar associada a uma obra que, segundo o próprio, embora de cariz auto-biográfico é um romance.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

"Acende a Chama da Leitura"

(Imagem do poema que me foi oferecido pela Ana Paula)

Anteontem fui, agora como "individualidade" (situação muito mais confortável), à abertura da Feira do Livro que, todos os anos se realiza no Agrupamento onde eu trabalhei e que, de algum modo, durante algum tempo, também ajudei a conduzir.

A Feira do Livro era uma das realizações que me era mais querida e fico muito feliz por verificar que é sempre grande o empenho que a Escola põe na sua concretização tendo criado um espaço verdadeiramente convidativo para todos os que a visitam; grandes e pequenos.

Este ano tem como tema “Acende a Chama da Leitura” e, por isso, ao entrarmos para o recinto onde se realiza, todos passamos por um arco simbólico formado por duas grandes tochas incandescentes. Linda, a ideia, e de extraordinário efeito!

Na cerimónia de abertura a Coordenadora e minha amiga Ana Paula, depois das inevitáveis boas-vindas e das palavrinhas protocolares, terminou a sua intervenção com a leitura de um poema muito bonito e de especial significado dado que se comemorava também o Dia da Terra.

É esse momento que eu quero partilhar convosco. Para isso cliquem na imagem de cima para conseguirem lê-lo.É de Jorge de Sousa Braga e, acreditem, vale mesmo a pena.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Mundial do Livro

(Imagem de Shaun Ferguson Books)

Hoje comemora-se o “Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, pelo menos em cem países, por deliberação da Conferência Geral da UNESCO em 1996 e visa promover o livro e o gosto pela leitura.

Curiosamente, foi uma tradição catalã que terá determinado esta comemoração no dia 23 de Abril, dia de S. Jorge (Saint Jordi para os locais).

Habitualmente, nesta província espanhola, os cavaleiros ofereciam às suas damas, neste dia, uma rosa e estas, retribuíam oferecendo um livro.

Hoje, (provavelmente pela falta de cavaleiros, digo eu) perpetua-se ainda essa tradição com a oferta de uma rosa a todas as pessoas que comprem um livro neste dia.

À comemoração nesta data não será também alheio o facto de grandes autores a quem normalmente se presta tributo neste dia como Cervantes, Shakespeare, Inca Garcilaso de la Vega e Vladimir Nabokov terem nascido ou morrido em dias 23 de Abril.

Portanto vamos lá hoje partilhar livros e flores como se não houvesse amanhã! Vamos lá espalhar alegria e cultura que, como todos sabemos, devem caminhar de mãos dadas.

Desafio

Desafio!
(Imagem de Vicky Dolabella)

Não há mesmo muitas coisas
Assim que me esteja a lembrar
Ou mesmo a congeminar


Me dêem maior prazer do que
Estas de que vou falar

Imaginar e sonhar
Mergulhar em discussões
Poder ouvir e falar
Ouvir outras conclusões
Rir muito, rir até chorar
Tomar boas decisões
Olhar em frente e avançar.


São coisas que não me importo
mesmo nada de fazer
E agora daqui exorto
mais alguns a responder.


A proposta é manifestar,
daquilo que vos ocorrer,
seis coisas que não se importem
de ter, ou então de fazer.

Foi uma nuvem de orvalho
Que o desafio lançou
e aqui a Donagata
para os seguintes o despachou:


Defender o quadrado

Poesia à solta

O enigma e o espelho

A minha Nuvem

Fragmentos

segunda-feira, 21 de abril de 2008

"A Praia do Destino" de Anita Shreve

Mais uma vez aqui estou a fazer a recensão (parafraseando A. Teixeira) de um livro daqueles que trocamos no tal “Healthclub” muito à minha medida.

Desta vez um romance muito interessante, de grande sensibilidade, que se lê de uma assentada apesar das suas 416 páginas.

O enredo, que se desenvolve no virar do século XIX e início do século XX, na Nova Inglaterra, explora com muita qualidade narrativa e uma invulgar subtileza uma relação apaixonada, absolutamente impossível por confrontada com todos os tabus e preconceitos sociais que existiam (alguns ainda existem!) nesse período, nesse local, católico e terrivelmente conservador.

Fala-nos também da coragem, da luta contra o estabelecido, do altruísmo, da dedicação, do Amor.

História excelentemente contada, aguçou-me a curiosidade de ler algo mais da obra desta autora que não conhecia.

Deixo-vos com algumas palavras da autora que escolhi do livro.

“…E agora interroga-se se, em todas as vidas, não haverá momentos no tempo, talvez quatro, cinco ou mesmo sete, em que a vida se transforma completamente ou dispara numa direcção não imaginada, uma direcção que parecia demasiado fantástica ou demasiado penosa para ser previamente contemplada. Estes momentos podem surgir espontaneamente, quando menos se espera, e muitas vezes em circunstâncias difíceis, desastradamente erradas ou até banais, e podem chegar tão suavemente ou tão fugidiamente que parecem meros passarinhos a pousar no ramo mais saliente de uma árvore. Com a excepção de que esses pássaros em particular não voltam a levantar voo.

…E, o que é mais extraordinário, no finito contínuo do tempo pelo qual todas as pessoas viajam, o terrível momento é fixo, inamovível, incapaz de ser obliterado, por mais fervorosa ou apaixonadamente que se possa mais tarde desejar esse apagamento.”

PORQUE EU MEREÇO! (Que mais não seja pela minha incrível modéstia)


Ora bem, seja lá o que for que acertou na cabeça de JF e o levou (e muito bem) a distinguir Defender o quadrado com este prémio, deve ter feito ricochete e atingiu também a Sofia. Esta, certamente em profundo transe, vá de me honrar com tão distinta nomeação.

Agradeço-lhe profundamente o tempo que vai perdendo por aqui e, por minha vez, além deste (obrigatório), aqui vão mais alguns blogs que são também, para mim, de visita diária.

Estes são apenas alguns dos que visito diariamente, mas não posso nomeá-los todos…

Para continuar esta cadeia as regras são as seguintes.

  1. Este prémio deve ser atribuído aos blogs que gostamos e visitamos regularmente postando comentários
  2. Ao receber o selo é um blog bom sim senhora!! devemos escrever um post incluindo: o nome de quem nos deu o prémio com o respectivo link de acesso, a tag do prémio, a indicação de outros 7 blogs
  3. A tag do prémio deve ser exibida no blog

Obrigada a todos os que por aqui se detêm nem que seja só por um bocadinho. Aos que deixam vestígios da sua passagem, a esses, tenho mesmo que agradecer ainda mais pois, ou são masoquistas, ou distraídos.

sábado, 19 de abril de 2008

Aguardar ao entardecer

(Imagem "Paris" de Marc Chagall)

Quando ao fim do dia chego a casa com cautelas
e vagarosamente me aproximo a observar,
procuro o brilho de olhos que das janelas
me vigiam no meu lento avizinhar.
Os meus gatos pachorrentos mas felizes,
que me aguardam num sereno repousar
fazem pose para que eu os poetize,
e com languidez gozam do prazer
que experimentam ao poder aproveitar
os derradeiros raios de sol do entardecer.
E é ao vê-los assim tão confiantes,
tão soltos mas também tão expectantes,
tão seguros, tão altivos e tão belos,
com olhares tão meigos, tão sinceros,
que me rendo embevecida só de os ver
e percebo que eu sem eles,
era eu sem ser.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"Boca do Inferno" de Ricardo Araújo Pereira

Acabei de ler o livro de Ricardo Araújo Pereira “Boca do Inferno” há uns dias e não tinha ainda aqui exprimido a minha opinião acerca do mesmo (Oh que pena!!! Exclamarão aqui os incautos leitores).

Pois bem, aqui vai.

É uma compilação de contos já publicados na Visão que, como já suspeitava, espelham o que de melhor se escreve (neste caso uma vez que o autor, como sabemos, tem muitas outras valências de igual qualidade) no campo do humor em Portugal. Possuidor de um género de escrita cuidado e inteligente torna risíveis, por vezes verdadeiramente hilariantes, situações do quotidiano; algumas de grande projecção e do conhecimento de todos, outras, tão desconhecidas como insólitas.

É francamente admirável a forma, aparentemente fácil, com que consegue fazer humor de onde nada parecia possível nascer pervertendo o real através da sua ironia certeira e acutilante.

Umas mais hilariantes do que outras, todas estas crónicas têm o cunho pessoal de Ricardo Araújo Pereira que o distingue, na minha opinião, no novo universo do humorismo em Portugal (ou não fora ele um gato) …

Termino com palavras suas:

“UM LIVRO ESSENCIAL PARA COMPREENDER O NOSSO TEMPO, ESPECIALMENTE A PARTE DA TARDE”.

domingo, 13 de abril de 2008

La Bohème de Charles Aznavour

Hoje talvez esteja um pouco nostálgica. De qualquer maneira isto é LINDO!

Je vous parle d'un temps,
Que les moins de vingt ans,
Ne peuvent pas connaître,
Montmartre en ce temps là,
Accrochait ses lilas,
Jusque sous nos fenêtres,
Et si l'humble garni,
Qui nous servait de lit,
Ne payait pas de mine,
C'est là qu'on s'est connu,
Moi qui criait famine et toi,
Qui posait nue,

La Bohème, la Bohème,
Ca voulait dire, on est heureux,
La Bohème, la Bohème,
Nous ne mangions,
Qu'un jour sur deux.

Dans les cafés voisins,
Nous étions quelques uns,
Qui attendions la gloire,
Et bien que miséreux,
Avec le ventre creux,
Nous ne cessions d'y croire,
Et quand quelques bistrots,
Contre un bon repas chaud,
Nous prenaient une toile,
Nous récitions des vers,
Grouppés autour du poêle,
En oubliant l'hiver.

La Bohème, la Bohème,
Ca voulait dire,
Tu es jolie,
La Bohème, la Bohème,
Et nous avions tous du génie.

Souvent il m'arrivait,
Devant mon chevalet,
De passer des nuits blanches,
Retouchant le dessin,
De la ligne d'un sein,
Du galbe d'une hanche,
Et ce n'est qu'au matin,
L'on s'asseyait enfin,
Devant un café crème,
Epuisés, mais ravis,
Faut-il bien que l'on s'aime,
Et que l'on aime la vie.

La Bohème, la Bohème,
Ca voulait dire, on a vingt ans,
La Bohème, la Bohème,
Et nous vivions de l'air du temps.

Quant au hasard des jours,
Je m'en vais faire un tour,
A mon ancienne adresse,
Je ne reconnais plus,
Ni les murs, ni les rues,
Qu'y ont vus ma jeunesse,
En haut d'un escalier,
Je cherche l'atelier dont plus rien ne subsiste,
Dans son nouveau décor,
Momtmartre semble triste,
Et les lilas sont morts.

La Bohème, la Bohème,
On était jeunes,
On était fous,
La Bohème, la Bohème,
Ca ne veut plus rien dire du tout.



sábado, 12 de abril de 2008

"A AMEAÇA GLOBAL O IMPÉRIO EM CHEQUE A guerra do Iraque em crónicas" por General Loureiro dos Santos

É seguramente, este, o comentário a um livro que mais hesitações me provocou ao ser feito. Talvez nem o devesse fazer dado que se refere a uma área que eu não domino, ponto final. Embora me interesse pela História em geral, aquela parte desta que diz exclusivamente respeito aos cenários de guerra e seu desenvolvimento, não provoca em mim qualquer tipo de arrebatamento. Acho aliciante analisar as causas de diversas naturezas que podem determinar (ou já determinaram) o deflagrar de um conflito, bem como me interessa o ponderar das consequências. Tudo aquilo que fica lá pelo meio, as operações militares propriamente ditas, no terreno, devo confessar que não me atraem como tema de análise bem como, normalmente, me incomodam deveras.

Afinal, poder-se-á perguntar, para que fui eu ler um livro que, dadas as minhas já expostas condicionantes, só poderá ser para mim uma enorme maçada?

Pois bem, não gostar não significa necessariamente não acompanhar minimamente os acontecimentos. E esse acompanhamento, embora pouco rigoroso, já me havia levado a entender que esta guerra (do Iraque) não me parecia uma guerra convencional, pelo menos como aquelas que me fui habituando a analisar ao estudar a história mundial. Desde muito cedo que se começou a desenvolver no meu entendimento a ideia (maluca, julgava eu) que os supostos vencedores estavam cada vez mais vencidos. Nada disso me arreliaria muito, tendo em conta que não sou especial fã dos americanos e da sua síndrome de “donos do mundo”e, muito especialmente de Bush que considero absolutamente incompetente. Contudo, algo me dizia que essa derrota poderia, de algum modo, constituir um risco para a ordem mundial.

Ora a oportunidade de poder ler, de uma assentada, um conjunto de crónicas (63) contendo, não só a análise retrospectiva, estratégica, dos acontecimentos feita por um reputadíssimo especialista como ainda, e mais interessante até, as suas previsões, na grande maioria das vezes, tão próximas do que realmente aconteceu (para esta análise tive que ir pesquisar e devo dizer que me deu muito trabalho pois já se trata de um período extenso de tempo), pareceu-me imperdível.

E valeu a pena apesar do já referido trabalho que me deu. Considero que se trata de um documento histórico de grande relevância que contribuiu muito para um melhor entendimento não só do que se passou nestes seis anos de guerra como, sobretudo, das razões e das forças, muitas vezes um pouco ocultas (para mim) que determinam algumas operações. Interessante foi também aperceber-me que aquilo que havia já intuído, afinal, corresponde, pelo menos em parte, à realidade… O que me deixa um pouco assustada, devo dizer.

Como já referi, fiquei impressionada com a capacidade revelada pelo General Loureiro dos Santos em antecipar a maioria das operações de uma forma tão próxima da que realmente se passou. Outras houve (não muitas que eu tenha detectado) em que a proximidade não foi tão grande mas, parafraseando Mário Carvalho “Os profetas mais competentes são os pósteros. Só falham em pormenores e em sinceridade. De resto, a previsão ajeita-se aos factos”…E este profeta, é tudo menos póstero.

Resta-me pedir desculpa, a quem de direito, pelo atrevimento deste comentário que poderia não ter feito. Contudo, é um hábito meu, já conhecido, vir aqui desabafar acerca dos livros que vou lendo (pelo menos de alguns). Perdoem-me, mas gosto de aqui deixar as impressões que me suscitam, as quais, cheias de erros ou muito acertadas são, sem qualquer outra intenção, apenas isso mesmo: as minhas impressões.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Escrevo!


Olho as orquídeas que florescem sob a laranjeira!
Passo-lhes os dedos, ao de leve, com cuidado.
Tão macias! Tão exóticas! De cores tão suaves,
e, contudo, tão irresistíveis!
Gritam alto o fim do tempo triste,
cinzento e frio, em que a própria natureza,
se encrespa e parece tudo castigar.
Fazem coro com os melros negros que debicam
aqui e ali, os pequenos insectos do jardim,
exibindo, orgulhosos, os seus bicos de intenso amarelo
(como gosto de os ver, altivos).
Fazem coro com as rolas que arrulham
nos galhos dos carvalhos que avisto do jardim,
cuja verdura tenra é também um alegre hino
ao renovar da alegria, ao reforço da vida.
E os pardais?
Esses, que todo o ano por aqui deambulam,
surripiando descaradamente a comida do cão,
não se atrevendo na dos gatos,
andam agora mais alegres,
mais arrojados,
disputando a fartura que já se adivinha.
E eu, dou por mim enternecida,
Espreitando quase religiosamente tudo isto
e ensaio a melhor forma de fazer parte deste mesmo hino.
Escrevo!

Donagata em 2008-04-11

Preguiça

(Imagem: Envy num daqueles seus momentos)

Hummm.... E é tão bom!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

"contos Vagabundos" de Mário de Carvalho

Enquanto vou lendo um livro que exige de mim um grande nível de atenção, um recurso quase permanente à memória e até alguma pesquisa adicional para que melhor me possa situar e compreender o que leio, fui intercalando com um outro, de leitura mais ligeira. É que, tenho que confessar, a minha capacidade de manter a atenção muito tempo focada num assunto já não é o que era ou, mais provavelmente, nunca foi lá grande coisa.

Assim, lá fui lendo os “Contos Vagabundos” de Mário de Carvalho. Trata-se de uma compilação de pequenos contos, como o próprio título nos sugere, dezassete, ao todo, já publicados anteriormente em revistas e/ou outras antologias.

Muito interessante, de leitura facilitada pela qualidade da prosa bem como por se tratar de um livro composto por pequenos contos e que sintetizam, em minha opinião, os vários registos de escrita de Mário de Carvalho.

São efectivamente vagabundos pois oscilam entre a crítica demolidora, o hilariante, o irónico, o burlesco, o insólito, o fantástico, a fábula e, até, o absurdo. Todas as situações que refiro se encontram inscritas num quotidiano ou dele são eduzidas de uma forma que, por vezes o desconcertam.

Gostei, além de que teve a enorme vantagem de me ir dispersando a pensamento…

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Leitão à ...Aguada de Cima


Ainda em relação ao poste “Festa em Aguada de Cima”, deixei dito que uma das curiosidades que lá ouvi é que a tão apreciada iguaria gastronómica “leitão da Bairrada”, surgiu, nada mais, nada menos, aqui, em Aguada de Cima. Ligada, provavelmente aos farnéis dos cumpridores de promessas na festa das “Almas Santas da Areosa” e, mais recentemente, às feiras mensais que têm lugar no recinto envolvente da Capela.

De acordo com os locais, já nos farnéis que ali eram partilhados entre os romeiros que ali acorriam, aparecia a dita iguaria. Contudo, só em inícios do século XX, um tal Ti Marcelino, regressado do Brasil, decidiu montar o seu negócio de comes e bebes numa das barracas da dita feira. Tendo como especialidade o leitão assado, a ele se dedicou com inusitado sucesso. Não se tendo limitado à feira, percorria as ruas de aguada de Cima vendendo a iguaria de porta em porta.

Sucedeu-lhe um aprendiz seu o “Morcego” de seu nome António Almeida que veio a expandir o negócio dando-lhe projecção internacional.

Hoje em dia os restaurantes e os assadores de Aguada de Cima são a principal referência na arte de bem confeccionar o genuíno leitão da Bairrada, embora os mais conhecidos sejam os que se encontram junto à estrada nacional, já fora desta localidade, logicamente pela sua situação.

Mais interessante ainda será a história da Chanfana prato ainda mais típico da gastronomia local.
Talvez venha a partilhá-la…

Observações:
Não é de estranhar que a iguaria tenha o nome da Bairrada uma vez que Aguada De Cima confina com a Bairrada.
Esta história foi-me contada oralmente por locais, e confirmada no sítio da Junta de Freguesia.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Festa em Aguada de Cima

(Imagem: Capela das Almas em Aguada de Cima)


Ontem, a convite de alguém que considero já como família, visitei Aguada de Cima, terra que conhecia apenas de nome, para assistir ao último dia dos festejos da sua romaria anual a “Festa das Almas Santas da Areosa”.

A festa inicia-se sempre no Domingo de Pascoela dia em que as imagens que se encontram na Igreja se deslocam em lenta e, julgo que penosa, procissão até à Capela das Almas onde se mantêm durante uma semana. Esta procissão (a que não assisti), além dos andores com os Santos, conta ainda com anjinhos, elementos da Confraria e respectiva banda de música. Diz quem assistiu que o início já estava a chegar à Capela quando saíram da Igreja os últimos participantes. E, digo-vos eu, que vi, que o percurso é muito extenso e íngreme.

Não sendo uma pessoa de crenças religiosas, absorvi contudo, muito atentamente, tudo quanto consegui numa perspectiva mais sociológica e até histórica, talvez; a da preservação das tradições e do património cultural.

Assim, enquanto a missa se desenrolava ao ar livre, visitei a Capela das Almas e aspirei profundamente o forte odor que emanava do alecrim e da alfazema que cobriam inteiramente o seu chão. Tradição curiosíssima assim como o arco elaboradíssimo, construído e enfeitado com plantas e flores que bordejava a entrada. Observei-a em termos arquitectónicos tendo verificado que se trata de um modelo de corpo octogonal, seguido de uma capela-mor rectangular. Os retábulos, três, são muito bonitos e todos do século XVIII. O maior alberga a imagem do Arcanjo S. Miguel. Curiosa a cantaria, habitualmente em pedra, aqui em grés de tom branco, ou não nos encontrássemos nós numa zona de grés por excelência.

A Igreja não tive oportunidade de visitar, porém, despertou-me especial atenção uma das suas imagens que seguia na procissão “O Senhor Crucificado”, de rara beleza e, segundo apurei, toda ela de madeira. Não sendo, de acordo com a informação que obtive, das mais valiosas, pareceu-me muito bonita e pouco comum.

Enquanto por ali andava fui sabendo que ainda aparecem, embora cada vez em menor número, lavradores que vêm cumprir as suas promessas, geralmente relativas às colheitas, dando voltas à capela com os seus carros de bois enfeitados.

Fui-me também informando acerca da história e das lendas de Aguada de Cima que achei interessantíssimas.

Mas, como a prosa já vai longa, para não me tornar excessivamente maçadora, apenas deixo como curiosidade um cheirinho ….a leitão! Pois é, é que o famoso leitão da Bairrada, iguaria gastronómica tão apreciada por alguns, não nasceu na Bairrada, nasceu mesmo aqui. Mas em relação a isso, se calhar, falarei amanhã.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

"O Vale da Paixão" de Lídia Jorge

Tal como já havia acontecido com o livro “Rápida, a sombra” de Vergílio Ferreira, também este foi encontrado, por ler, entaladinho entre os já lidos, numa tarde em que reorganizava as estantes do escritório.
Bom, já remediei esse assunto e terminei hoje a sua leitura.


Excelente como, aliás, a sua autora já nos habituou.


Uma manta de soldado é o ponto de partida para uma interessantíssima narrativa feita por uma personagem que nunca se identifica que, ao tentar reconstituir a vida do pai, que compõe baseada na sua memória e na sua saudade, vai descrevendo também o destino de uma família/sociedade que não sabe muito bem para onde caminha.


Pela mão de uma prosa eivada da mais bela poesia, ora suave ora brutal, caminhamos através de cinquenta anos dos finais do Sec. XX, observando a fuga à autoridade gratuita, a emigração, a decadência do mundo rural e o surgimento de outros valores económicos (o turismo, por exemplo).
Recomendo vivamente embora não seja preciso…

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Novas tendências Primavera/Verão (cárdio-localizada)

(Imagem: René Magritte)

Novas coreografias e outfits muito mais interessantes aqui para as aulas de exterior que se adivinham.

O público, como bem sabemos, é estruturalmente semelhante embora não tão entusiasticamente participativo. Contudo julgo que, no geral, tudo se adequa perfeitamente.