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domingo, 31 de agosto de 2008

"Eu hei-de amar uma pedra" de António Lobo Antunes


Acabei de o ler hoje. Gostei muito. Romance muito interessante embora de leitura um pouco difícil dado o tipo de escrita, quebrada, típica do autor.

O livro conta-nos uma história de amor, é verdade. Contudo essa história serve apenas de suporte, de fio condutor, para o que é realmente importante nesta obra: as personagens. Estas, quer as que protagonizam a já referida história de amor, quer as que as envolvem, são trabalhadas de forma exímia.

O autor leva-nos, quase sem darmos por isso a acompanhá-las nas suas recordações e a viver com elas as suas tristezas, as suas frustrações, os seus desamores, as suas solidões, a rejeição, o abandono…

Para tal, António Lobo Antunes dividiu o livro em quatro partes fundamentais, cada um com diversos capítulos:

Fotografias

Consultas

Visitas

Narrativas

e é através dessas fotografias, das consultas, de visitas e por fim de narrativas, que nos vão surgindo, inteiras, consistentes e fortes, mas também cruas e tormentosas as personagens.

Apresenta-as, por vezes descontextualizadas, sem que se entenda logo o grau de importância que virão a ter. É, na minha opinião, o caso da personagem feminina que protagoniza a história de fundo.

Sem dúvida um excelente livro.

sábado, 30 de agosto de 2008

Inspiração

(Imagem da net)

O post anterior foi inspirado aqui.

Por vezes precisamos também de um pouco de inspiração para que as aprendizagens não se tornem enfadonhas mas, sejam eficazes. Não há receitas, obviamente, mas há práticas nitidamente mais sucedidas do que outras.

O professor, tem de puxar pela imaginação e o aluno tem de trabalhar. O esforço tem sempre de ser de ambos (já para não falar nos diversos agentes que causam "ruído" em termos de educação).
Aqui, não há milagres!

Reforcemos a redundância!


Este texto que vou postar é apenas um jogo de palavras do tipo dos que costumava fazer com os meus alunos com vista a interiorizarem, de forma agradável, um conceito (neste caso específico seria a noção de pleonasmo), ao mesmo tempo que iam treinando as suas capacidades de escrita (aqui seria a poesia, utilizando quadras com rima cruzada ou alternada).

Tratava-se, normalmente, de trabalho de grupo e eu funcionava como orientadora, tira-dúvidas, indicadora de fontes…

Este não resultou de trabalho com alunos (não me recordo de ter alguma vez trabalhado com eles o pleonasmo, ou redundância). É, meramente, um exemplo.


Reforcemos a redundância!

Vou falar do pleonasmo! Ou melhor, da redundância.

Segundo uns, os letrados, e se usado com esmero,

é um truque de linguagem, conferindo até elegância.

Segundo outros, é exagero, vício de forma, tosco erro.


Vejamos então melhor o que vos quero dizer:

Se vejo pequenos detalhes que me causam confusão

Se exulto de alegria, ou de antemão estou a prever:

é vício, é erro, está mal. Só provoca agitação!


Se me repito de novo, se te encaro cara a cara,

se tenho um segredo secreto que é o elo de ligação

entre um facto verídico e um sonho que sonhara:

está errado, viciado, superabundante. Assim, não!


Agora se junto tudo e arrumar arrumadinho,

enquanto com estes olhos, vejo o dia a amanhecer.

Se continuo a tentar, escrever bem escritinho,

enquanto do céu azul, desliza a chuva a chover.


Se além disso este poema, a mim me parecer gracioso,

é porque usei redundâncias, das aceites, das literárias.

Então, só me resta a mim sorrir, um sorriso radioso

e agradecer a inspiração, que surde, extraordinária!


Meus amigos e leitores, é o meu critério pessoal,

e falo cá para fora com a mais franca convicção:

tendes aqui poetisa, de estro fenomenal,

tais são os ardis de escrita (se não for outra a razão)!


Legendas: com esta cor estão assinalados os pleonasmos “viciosos” (esta classificação é sempre relativa…).

Com esta assinalei os aceitáveis ou mesmo aqueles que constituem reconhecidamente recursos estilísticos (também relativa esta divisão. As “divisões” servem apenas como indicativo).

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Poesia in Progress


Mais uma sessão de “Poesia in Progress” e mais um êxito a dever-se, como sempre ao empenho e à devoção da Dina (da Poetria), bem como aos seus incondicionais colaboradores.

Desta vez o tema foi a poesia brasileira e tivemos oportunidade de ouvir, dita de formas diversas, poetas como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Olavo Bilac, Chico Buarque de Holanda, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Murillo Mendes, Adélia Prado, Paulo Leminski e muitos outros, num ambiente descontraído e agradável como já vem sendo hábito nestas sessões.

O evento foi acompanhado à viola pelo jovem Joaquim Bustos.

E assim se passou mais uma noite de forma saudavelmente agradável.

É preciso referir que é preciosa a colaboração do café Progresso, cuja gerência está sempre pronta a participar na divulgação de eventos culturais de diversas índoles. Além disso tem uns crepes que são óptimos acompanhamentos de poesia ou de música; São crepes culturalmente evoluídos…

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Lágrima

(Imagem daqui)

Não sei como suspender.

Não sei como a enxugar,

como lhe pegar,

como arrumar,

esta lágrima gelada,

que se pendura obstinada

no débil fio da recordação.


Será que a quero mesmo perder?