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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Simplesmente são


Há dias em que as pessoas se sentem verdadeiramente alegres. São dias claros, com brilho. Têm o perfume do rosa, do laranja e do vermelho dos morangos muito maduros. São dias quentes independentemente da temperatura que possa fazer. 

Nesses dias as pessoas estão a distância nenhuma da serendipidade. E eis que surgem, do nada, pessoas encantadoras, coisas encantadoras, acontecimentos encantadores. Enfim, um verdadeiro concurso de encantos. E as pessoas sentem-se encantadas…

Nestes dias as pessoas são sobretudo infâncias e não sentem saudades de futuro nenhum. Por isso esses dias têm também aroma de verde-claro como os rebentos muito tenros das árvores.

Geralmente tende a não haver vazios, nesses dias. Sacode-se a alma, enrola-se a lucidez, desmede-se o tempo, matizam-se os sentidos e inalam-se todos os perfumes de todas as palavras que nunca foram e nunca serão ditas. Há silêncios, portanto, mas são silêncios bons como o silêncio das borboletas, das nuvens, dos sonhos e das palavras que se gritam.

Ah, e são dias em que a água é perdulariamente doce. Não desse doce do açúcar, mas do outro, do das coisas verdadeiramente doces e boas como o orvalho da manhã ou um raio de sol nos joelhos.


Há pessoas que têm dias em que se sentem verdadeiramente alegres e, nesses dias, essas pessoas simplesmente são. 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Hoje Não


Não te aproximes hoje,
não te (re)conheço,
não quero mesmo saber o que vejo.
Deixa-me aqui só,
apenas eu e as minhas realidades esdrúxulas,
eu e os meus silêncios de tule,
eu e a minha lentidão de nuvem,
eu e esta sede de mais, de sempre mais,
eu e este desassossego que me ausenta.
Não te aproximes hoje
não saberia o que te dizer,
não saberia como te olhar.
Deixa-me ficar aqui,
só eu e esta escuridão insuportavelmente clara,
eu e a minha insanidade sóbria,
eu e esta imbecilidade gorda,
eu e as minhas confusões bastantes,
e os tules em silêncio…
e as nuvens vagarosas…
e a sede… e a inexistência…
Não te aproximes hoje.
Hoje não.
Não posso.

Hoje quero a lonjura do mar!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Querer



O que eu queria, mas queria mesmo muito
com aquele querer que consome energias, acorda todas as vontades,
acende pressas e abre brechas na alma


aquele querer intenso que desassossega,
que empurra fúrias com um ruído murcho de flores de seda,
que conduz vidas ao comprido do tempo


com aquele querer em tons de rubro,
que incendeia o sangue, dilata veias, varre pudores
e provoca um bafo quase tangível, espesso, que quase dói


o que eu queria mesmo…


Era que parasse a chuva.

Estou farta!!!!