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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Parabéns Miguel



Estreei-me contigo nessa difícil arte de ser mãe.
Eras apenas uma pequenina gota de delírio,
uma promessa de futuro, 
um rosário de horas molhadas de luz.
Estreei-me contigo nesse jogo de incertezas
que se penduram no tempo
e nos fazem sentir saudades
de um futuro sonhado
e exacto      e bom.
Construímos juntos pedaços de mundo
que colorimos de risos,
de cabelos pouquinhos e loiros
e de outras pequenas felicidades
que mantêm ainda o cheiro do espanto.
Inauguraste em mim esse amor ferino
que repuxa a alma, que fere
e, todavia,
acaricia como o calor de um sopro,
abriga como abriga a casa que é minha
e está cheia de sonhos muito antigos. 
Cresceu então em mim uma lucidez nova,
um romper de receios,
uma inquietação de folhas,
um tropeçar no assombro de ti,
uma mão cheia de caminhos por andar
com contornos de ternura e cheiro a mar
E os amanheceres nascem limpos
2016-08-10

sábado, 6 de agosto de 2016

Mamã e titi em 2016-08-06


À medida que o tempo avança
(ou que vais avançando no tempo)
e o cabelo embranquece, a pele enruga,
as pernas ganham pesos que não tinham,
as distâncias perdem o sentido,
as trivialidades se agarram à carne das palavras
e os tempos não são mais o que eram

surgem assim, ao de leve,
numa semântica de acaso
momentos de uma candura pueril
e feliz

E sorris com as flores, com os raios de sol
nas paredes pintadas de fresco
e com as bolachinhas de chocolate.
O horizonte fica mais breve mas não importa
encharcas o ar de cenas miudinhas,
de palavras ao rés da pele,
inventas pequenas malícias ingénuas,
por vezes doces,
outras nem tanto
e sorris.

E desgostas das tuas mãos engelhadas.
Mesmo assim arriscas um afago prolongado
no gato que dorme a teu lado
e sorris
e sorri também o gato.

Olhas-me com esses olhos gordos de tempo
e és de novo criança.




2016-08-04