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domingo, 29 de junho de 2008

Bom, mas mesmo muito bom, foi o "Samba de gafieira"

Boas notícias. Já não me encontro em estado de estupor! Não, agora em fase de rescaldo e de grande expectativa, aguardo, ainda aturdida as consequências nefastas que poderão advir da minha admirável (até eu me admiro) e doce inconsciência.

Enfim, lá acabei por rodopiar em cima dos belíssimos sapatos (que sempre chegaram a tempo) e lá me fui movimentando pelo palco com o ar mais “poderoso” possível, mesmo à matadora (como convinha à música), até que reparei que o meu cai-cai branco se encontrava bastante visível sob o generosíssimo decote do top preto, o qual se foi tornando mais generoso com os movimentos. Portanto “elegantérrimo”!

Aí, aproveitando um dos vigorosos rodopios, procurei, disfarçadamente, subir o top. E consegui! Mas além disso, consegui também desconcentrar-me e virar-me para a assistência uns segundos adiantada na coreografia em relação ao resto do pelotão (bailarinos, vá lá).
Está claro que, como qualquer boa artista, sorri, aproveitei o adianto para acabar de subir o top e prossegui muito compenetradamente o resto da dança, bem sincronizada (bem, será um pouco exagerado) e sem outros percalços dignos de nota.

Como havia feito de antemão o aviso que não iria estar disponível para autógrafos nem para entrevistas, segui calmamente para o meu camarim onde, estranhamente, não me aguardava a garrafa de champanhe que, indubitavelmente, tinha merecido. Vá-se lá saber porquê!

Mais a sério. Bom, mas mesmo muito bom, foi o samba de gafieira interpretado por dois dos professores. Parabéns Cláudia e Marcus.

E para a Cláudia, especialmente, um enorme agradecimento pelo trabalho que teve a ensaiar pessoas com “duas pernas esquerdas” sem nunca ter perdido a paciência nem a boa disposição.

É claro que também nos endrominou para irmos ao espectáculo mas, até aí, se revelou uma profissional de mão cheia.
Nota: Para quem fizer o link para o youtube e vir o filme, tenho a dizer que a "nossa" Klau dançou muito melhor!

Parabéns.

"O Anjo mais estúpido" de Christopher Moore


Devo confessar que não conhecia o autor e, de acordo com o que apurei, é a primeira obra sua traduzida para o português. Quanto a mim, ou houve alguma infelicidade na escolha ou, mais traduções, não serão imprescindíveis.

No meu ponto de vista, o título está bastante de acordo com o conteúdo no que concerne à palavra “estúpido”.
Livro de humor, inserido num tipo tão ao gosto dos novos humoristas portugueses (os quais aprecio bastante sendo até verdadeiramente incondicional de uns quantos) não conseguiu, apesar disso, pelo menos para comigo, cumprir o objectivo de me fazer achar-lhe piada.
Não nego que tem excertos de um humor forte, corrosivo, por vezes macabro; piadas interessantíssimas de crítica social mas, como livro, no seu todo, de suposta sátira aos contos de Natal, é morno e pouco estimulante.

Li algures que se dirigia a um público inteligente…

Daí, talvez a razão do meu desapontamento!
Isso e o facto de já não estarmos imbuídos do espírito de Natal…

terça-feira, 24 de junho de 2008

Festa de S. João no Porto

(Imagem: Cascata de S. João)

Dia de S. João no Porto é, já dizia Fernão Lopes na sua “Crónica de D.João I” dia de “maior folgança da cidade”, festas “cheias de animação e entusiasmo desabrido”.
Festa eminentemente popular, provavelmente de origem pagã, tendo em conta alguns costumes e rituais que a caracterizam bem como a própria data, oportunamente próxima do solstício de Verão. O saltar das fogueiras, as cascatas (presépios de Verão) normalmente com água (fogo em oposição à água); o esfregar o orvalho do amanhecer pelo corpo enquanto gesto provocador de fertilidade; o possível simbolismo fálico do alho-porro; os ramos de cidreira (produto da terra) que se esfregam pelas cabeças dos passantes, são actos que nos levam a aceitar, a comprovar até segundo Hélder Pacheco, a relação dos festejos religiosos com os movimentos cósmicos.

O S. João do Porto terá sido um eremita que viveu no século IX, no norte do país que, finda a sua isolada vida, terá sido sepultado em Tuy onde permaneceram as suas relíquias, alvo de peregrinação de muitos fiéis que o consideravam um santo muito “eficaz” contra as febres.
Segundo reza a tradição, a Rainha D. Mafalda, consorte de D. Afonso Henriques (século XII) terá mandado trazer a cabeça do santo para a Igreja de São Salvador de Gandra (em Cabeça Santa Penafiel). Parte dessa relíquia terá sido depositada na capela da “Santa Cabeça”na Igreja da Nossa Senhora da Consolação (a qual, embora tenha efectuado “apuradas” pesquisas, não consegui localizar), no Porto.

Todavia, o que hoje se celebra ainda com grande fulgor no Porto deve-se à assimilação deste santo com o S. João Baptista (também ele eremita e também decapitado por ordem de Herodes Antipas), que nasceu no dia 24 de Junho (razão do dia da festa) e a que o povo dedica grande devoção.

Os festejos começam no dia 23 à noite, normalmente com uma boa sardinhada bem acompanhada de vinho, cerveja ou sangria. Após o repasto organizam-se rusgas nas quais os foliões se munem de molhos de cidreira, alhos-porros e, mais recentemente, martelinhos de plástico com os quais batem (alguns bem freneticamente) na cabeça dos passantes e percorrem as zonas onde a folgança é mais intensa e mais típica: a baixa do Porto, as Fontainhas, a Ribeira, a Foz…
São também muitas as barraquinhas de farturas e as vendas do tradicional manjerico “recheado” de quadras populares pejadas de brejeirices.
Um pouco por todo o lado são lançados balões de papel, com gomos de diversas cores, que sobem e se passeiam ao sabor da brisa enfeitando os céus da cidade.
Depois do imponente fogo-de-artifício lançado sobre o Douro, o folguedo continua pela madrugada dentro, sendo frequente terminar nas areias das praias da Foz e do Castelo do Queijo onde se recuperam forças, se curam grandes carraspanas enquanto os corpos se “banham” nas tradicionais “orvalhadas”.

Já manhã, para muitos, lá se regressa a casa para o tradicional almoço de anho. Isto, é claro, para os que ainda encontram ânimo para almoçar.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Estado de autêntico estupor!



Estou em estado de choque! Diria mais, estou em estado de perfeito estupor!

Querem saber porquê? Bem, é uma história longa portanto, o melhor é desistir já.

Não desistiu? Então aqui vai.

Não sei muito bem como, mas é que não sei mesmo, vi-me a fazer parte de um grupo de dançarinas/os que irão participar na “Festa de Final de Ano Lectivo da Body Motion”, escola de dança que eu não frequento, como elemento do healthclub que (esse sim) frequento e que vai ter uma participação especial na referida festa.

Ora bem, aí começa a minha estupefacção. Se é verdade que andamos a ensaiar a “Buleria” de David Bisbal há já uns tempos, não é também menos verdade que, nunca imaginei, de início, que fosse para sair daquelas quatro paredes.

Ora como é que dei esse grande salto é que ainda estou para entender. Lá que num determinado momento me comprometi a ir, é verdade. Como é que o fiz, não sei. Só vos digo, devia estar com uma grande pedra, de endorfinas, claro. Primeiro cansam-nos. Depois, quando não damos já nem por burro nem por albarda, fazem-nos perguntas difíceis às quais respondemos sem fazer ideia do que dizemos. É assim, julgo eu, que nos apanham.
Mas agora não há volta a dar, a festa é já para a semana e palavra dada é palavra dada.

Agora, poder-se-á perguntar: se o caso já se arrasta há semanas qual a razão de, apenas hoje, ter entrado em tal estado de assombro?

É que vesti hoje, pela primeira vez, os “corsários” vermelhos de Lycra coleante que, a par de uns sapatos, também vermelhos com salto de 9,5 cm, (que ainda não chegaram) e de uma suposta túnica preta (a qual também ainda não tenho), farão parte do traje que irei usar.

Pronto, creio que não é necessário explicar mais nada. O ginásio tem espelhos a toda a volta o que fez com que eu caísse em mim e lamentasse amargamente a falta de juízo com que fui contemplada à nascença e que, como se pode inferir pelo exposto, não tem melhorado nada com o passar dos tempos.

Resta-me pedir ao S. João, já que estamos na véspera de comemorar o seu dia, que, embora não seja lá muito bem a sua área de influência, me ajude a ultrapassar este momento difícil sem perder completamente a credibilidade que ainda vou tendo por estas bandas…

Observação para quem viu o filme:
Repararam, certamente, que nenhum dos participantes (nem o belíssimo cavalo) se encontrava equipado de corsários vermelhos de licra coleante…

"O sonho mais doce" de Doris Lessing


Livro muito bom ( foi com ele que Doris Lessing ganhou o “Prémio Nobel da Literatura e 2007”) embora, talvez por isso, eu tivesse ainda outra expectativa…
A autora vai-nos dando, de forma suave e com grande sentido de humanidade, uma perspectiva dos acontecimentos políticos, sociais e correntes de pensamento que foram surgindo sobretudo entre os anos 60 e finais dos anos 80. Penso até que poderemos mesmo recuar até aos tempos da 1ª guerra mundial através de Júlia.

Através de uma narrativa simples, clara, de personagens muito bem construídas, Doris Lessing vai-nos conduzindo ao longo de três gerações, centrando a maior parte do livro numa grande casa de Londres, onde vive uma família e mais um sem-número de pessoas, na sua maioria amigos dos filhos, jovens, que aí crescem e vão modelando as suas mentalidades, as suas personalidades, as suas consciências políticas, sempre sob o olhar atento de Frances, a influência das visitas pontuais de Jonny, e a complacência de Júlia.

Aqui as verdadeiras heroínas são as mulheres, personagens que sobressaem pela sua heroicidade serena, pela sua abnegação, pela forma corajosa de responder às agruras da vida.

De realçar também, a forma como a autora fala da realidade em África, revelando um conhecimento profundo e uma enorme desilusão. Desmistifica um pouco a imagem que, muitas vezes, queremos ter das ajudas humanitárias, da forma como são usadas e das dificuldades dramáticas dessas populações. Também aqui é através da visão de outra mulher, Sylvia, verdadeira homenagem à força motivadora do sonho, que vamos percorrendo um panorama desolador de miséria física e, sobretudo, moral.

Sem dúvida um livro a não perder.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Hoje, sou feliz!

Hoje, dia muito especial, contemplo mais uma vez este belíssimo pôr-do-sol sobre o mar. Estou feliz, rodeada pelos que amo, festejada por todos quantos a quem, de algum modo toco, lembrada por muitos daqueles em quem deixei uma marquinha por pequenina que tenha sido.

Enquanto contemplo a mancha de fogo que vai descendo vagarosamente sobre as águas ao mesmo tempo que lhes empresta um brilho prateado, vou recordando os já muitos sóis que vi desaparecer; ora em dias brilhantes de calor; ora em dias em que o frio me gelava, ou de chuva que me caía em lágrimas pelo rosto.

E são já tantos! Tantos que talvez nem queira recordá-los todos…
Tanto que já vivi! Tanto de bom que a vida me tem oferecido! Tanto, também, que já me tem roubado!

À minha volta, as pessoas um tanto distraídas, empolgadas e tristes (Portugal está a jogar e a perder concluindo assim a sua participação no Europeu), permitem-me este inacreditável momento de introspecção, de reflexão.
Percorro rapidamente o fio da minha vida e reparo que abrando em alguns nós, que ainda não desatei, que provavelmente não conseguirei desatar nunca, mas prossigo. Observo as opções que tomei nas grandes encruzilhadas. Terão sido as melhores? As piores? Oferecer-se-iam outras alternativas que não ponderei?

Vivi muito mais do que espero ainda viver. Provavelmente, nunca teria ousado esperar que a vida me desse tanto: das grandes e das pequenas coisas que a formam. Que me ensinasse a exultar com pequenos fragmentos que, por vezes, fazem tanta diferença. Que me ajudasse a juntá-los todos, cuidadosamente, e construir uma vida, a minha. E, além disso, me ensinasse a usá-la para tocar, também um pouco, alguns dos que me rodeiam.

Olho em volta e admito sem hesitações: Sou uma mulher de sorte! Sou feliz!

2008-06-19
(Imagem: "Three ages of a woman" by Gustav Klimt)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um dia especial

(Imagem da net de autor desconhecido)
Poema feito para mim por alguém muito especial!

Seguramente um dos melhores presentes que recebi hoje.
Nesse Olhar
Há esperança nesse olhar,
Há flores,
Há todo um céu cheio de cores,
Há mar…
E riso,
Um alegre e sentido riso
A cada doce pestanejar!


Ruth Ministro

Obrigada a todos pelo enorme carinho que me dispensaram, pela amizade pelo bem que me fazem.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ainda a "Biblioteca de Alexandria" Curiosidades II


Os papiros
Os rolos de papiro que se encontravam na Biblioteca de Alexandria mediam 25 cm de altura por 11m de comprimento (alguns terão alcançado até os 30 m).
Eram escritos sem separação de palavras, com a excepção de uma pausa (paragraphos). Não continham vírgulas nem outra pontuação.
As folhas eram denominadas por “cólemas”. Eram coladas umas às outras antes da sua utilização e a página que abria o rolo era designada por “protocollon

O Pentateuco ou Torá para os hebreus

Pentateuco significa “os cinco rolos”. Esses cinco rolos correspondem aos cinco primeiros livros da Bíblia. Como já referi foi na Biblioteca de Alexandria que tiveram a sua primeira tradução para o Grego feita no século III a. C. por 72 rabinos.

São eles (os livros):

Génesis, o primeiro livro, narra os acontecimentos da criação do mundo na perspectiva judaica. Génesis é o início, é o princípio da criação dos céus, da terra, da humanidade e de tudo em que existe vida; de todos os seres. Passa ainda pelos patriarcas hebreus até à fixação deste povo no Egipto.

Êxodo. Conta a história da saída do povo hebraico do Egipto onde se mantiveram por 400 anos em situação de escravatura. Narra a vida de Moisés a sua liderança em relação ao povo de Israel, o estabelecimento da lei e a construção do Tabernáculo. É o início de um relacionamento entre este povo recém-saído do Egipto e Deus. É a organização do judaísmo.

Levítico. É sobretudo um livro de carácter legislativo. Apresenta o ritual dos sacrifícios, normas que diferenciam o puro do impuro, a lei da santidade, o calendário religioso e outras normas que regulariam a religião.

Números. Este livro, de grande interesse histórico, fornece detalhes acercada rota utilizada pelos israelitas no deserto e o local dos seus principais acampamentos. Primeiro o recenseamento do povo no Sinai e os preparativos para retomara marcha. Depois a jornada do Sinai até Moabe. E, finalmente, os eventos na planície de Moabe antes da travessia do rio Jordão.

Deuteronómio que contém os discursos de Moisés ao povo, no deserto, durante o seu êxodo do Egipto à Terra Prometida por Deus.

(Imagens: 1ª Papiro com escrita hieroglífica e hieráticada antiga Biblioteca de Alexandria que faz parte do espólio da actual.
2ª Thorá ou Torá)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Ainda a "Biblioteca de Alexandria" Curiosidades

Um dos incêndios

Conta-se que um dos incêndios que destruiu uma parte da biblioteca terá sido provocado, embora não intencionalmente, por Júlio César.

Quando em perseguição do seu inimigo de triunvirato, Pompeu ( primeiro triunvirato composto por Júlio César, Pompeu e Marco Lúcio Crasso), César chega a Alexandria, governada na época por Ptolomeu XII, irmão de Cleópatra.

Pompeu acabou por ser decapitado pelos tutores do jovem faraó julgando este que assim ganharia os favores de Júlio César. Então, como comprovativo da sua “ajuda”, envia - lhe a cabeça de Pompeu bem como o seu anel.

César fica horrorizado com a crueldade da atitude, embora lhe tenha dado jeito, e predisposto a destronar Ptolomeu XII sobretudo depois de ter conhecido Cleópatra VII por quem se apaixonou irremediavelmente (o Egipto teve como faraós 14 Ptolomeus e 7 Cleópatras, embora, normalmente, se conheça apenas uma; a que fez perderem-se de amores quer Júlio César quer, mais tarde Marco António um dos elementos do 2º triunvirato. Segundo a conhecida lenda, acaba por se suicidar após derrotada por Octávio na batalha naval do Áccio, tornando-se assim definitivamente, o Egipto, parte do Império romano).

Consegue, através da força, colocá-la no poder.

Os tutores do jovem faraó, que se opunham à deposição deste, são mortos, mas um consegue fugir. Então, para que não houvesse a mínima possibilidade de escape, Júlio César manda incendiar todos os navios incluindo os seus.
O incêndio alastrou-se, tendo atingido uma parte da biblioteca ou destruído obras que se encontravam ainda em barcos para lá serem colocadas (encontrei ambas as versões).

domingo, 15 de junho de 2008

Foi na sexta-feira e tive a honra de participar neste evento. Tratou-se de uma das duas comemorações (de que eu tive conhecimento) dos 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa e foi lindo!
A outra, teve lugar em Lisboa e teve como entidade organizadora A Casa Fernando Pessoa e o patrocínio da CML!!!
Esta, em que eu participei, deveu-se, como muitas outras actividades no âmbito da divulgação da poesia e do teatro no Porto, à Livraria Poetria (obrigada Dina) e a bons colaboradores interessados na disseminação da cultura nas suas diversas vertentes: literária, musical, plástica….

Teve lugar no Café Progresso, como é também já habitual, e tornou-se um serão verdadeiramente fascinante. Os textos de um dos nossos maiores poetas (para muitos mesmo o maior) magistralmente lidos pelos participantes, associados aos magníficos improvisos musicais do saxofone, do acordeão, do violoncelo e do violino, criaram uma atmosfera verdadeiramente mágica.

Talvez possamos dizer, como única nota menos positiva, que se tornou uma sessão muito longa e com alguns textos que também o eram … Mas como verdadeiros pessoanos, não só isentamos como entendemos a dificuldade que todos tivemos em seleccionar, para eliminar, textos que tanto apreciamos.
Apenas uma amostra do que li:
O menino da sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Biblioteca de Alexandria

Ainda acerca do estatuto da mulher em Alexandria, eis um excerto de Carl Sagan que ilustra bem como ascendia a cargos tão importantes cultural e institucionalmente falando.

Nem sempre, é claro, com bons desfechos. Mas esses, resultaram como muito frequentemente ao longo da história, da “defesa dos valores cristãos”. E que valores!

“Hipátia (370-415 DC), filha de Theron, era uma cientista, matemática, astrónoma, líder da escola de filosofia neo-platónica e directora da Biblioteca de Alexandria. Cirilo, o arcebispo de Alexandria, odiava-a por ela ser um símbolo da ciência e da cultura que, para a igreja primitiva, representavam o paganismo. Ela continuou o seu trabalho apesar das ameaças até que, no ano de 415, foi cercada pelos monges e paroquianos de Cirilo, despida e esfolada até a morte com cacos de cerâmica. Seus restos foram queimados, suas obras destruídas e Cirilo foi canonizado.”

Carl Sagan - Astrónomo e escritor americano, 1934-199

Dado que o excerto nos remete para a biblioteca de Alexandria, gostaria de partilhar algumas, poucas, curiosidades acerca deste Templo do Saber dos tempos clássicos.

Pensa-se que a Biblioteca da Alexandria tenha sido iniciada por Ptolomeu I (305-283 a. C.), auto denominado Sóter (o salvador), incitado por Demétrio de Falero. Contudo, quem terá levado essa tarefa avante terá sido seu filho, Ptolomeu II ou Ptolomeu Filadelfo (o amado da irmã, [por ter contraído matrimónio com sua irmã a exemplo de alguns faraós da antiguidade egípcia]). Remonta também ao seu reinado O Farol de Alexandria e um canal que liga o Nilo ao Delta.

Terá sido construída junto do “Moseion”, que significa, em grego, lugar dedicado às musas, divindades da mitologia inspiradoras das artes.
A sua organização inicial tem sido sempre atribuída a Demétrio de Falero.

Entre 280 a. C. e 416 terá reunido o maior acervo de livros da antiguidade. Estima-se que albergasse mais de 400 000 rolos de papiro podendo até ter chegado a 1 milhão.
Destinava-se a preservar e a divulgar a cultura nacional, embora possuísse documentos de toda a parte do mundo civilizado. Fabricava e vendia papiros. Era um centro de cultura e fonte de investigação para o mundo das ciências e das letras tendo deixado por isso um legado determinante para o desenvolvimento da humanidade tal como a conhecemos. A ela estão ligados directamente nomes como a já referida Hipátia de Alexandria, Calímaco de Cirene, Euclides de Alexandria, Eratóstenes de Cirene, Aristófanes, Apolónio de Perga, Aristarco de Samos, para citar apenas alguns e, indirectamente, outros como Arquimedes de Siracusa e Nicómono de Gerasa.

Foi aí que foi elaborada a Septuaginta (em latim, setenta). Formada por setenta manuscritos que constituem a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros da bíblia), conhecido entre os hebreus por Tóra (escrituras hebraicas), para o grego (século III a. C.), organizadas por setenta e dois eruditos, rabinos, em setenta e dois dias (segundo a lenda).
A Septuaginta foi também usada como base para diversas traduções da Bíblia.

Também aí, Zénodo estruturou a Ilíada e a Odisseia em 24 cantos cada retirando-lhe os versos espúrios. Era também encarregado da tutoria dos príncipes reais a quem devia educar nas leituras e no gosto.

A biblioteca foi destruída parcialmente inúmeras vezes até vir a ser completamente extinta. Até há bem pouco tempo responsabilizavam-se os muçulmanos na pessoa de Omar de Damasco de ter ordenado ao seu general Amrou a sua destruição pelo fogo aquando da ocupação da cidade pelas tropas árabes (em 642). Contudo, actualmente, a teoria mais consensual é a que diz que terá sido destruída por uma multidão cristã, provavelmente no ano de 391, instigada pelo Patriarca de Alexandria, o Bispo Teófilo, cristão fundamentalista, o qual terá visto ali o que ele considerava um depósito de maldades, de paganismo e ateísmo. Quando os muçulmanos tomaram a cidade já nada restaria da antiga biblioteca.

Em 2004, é noticiado que um grupo de arqueólogos descobre uma estrutura de 13 salas, capazes de albergar mais de quinhentos alunos, que se supõe ser o que resta do maior templo do saber dos tempos clássicos.

Em 2003 é construída uma nova Biblioteca de Alexandria procurando-se que possa vir a ocupar o lugar e a importância da sua antecessora.

Vamos lá justificar o nome do blogue!


Está, finalmente, um calor que nos faz sentir melhor. Desvanece-se este cheiro a bafio que todos nós já transportávamos e começa a apetecer-nos mostrar partes do nosso corpo que até agora se aconchegavam confortavelmente nas roupagens tristes de inverno.

É por isso que, mais uma vez tentando não defraudar todos aqueles que, enganados pelo nome do blogue, aqui vêm procurar um gráfico, aqui vos deixo um adequado à época.


Legumes! É tudo quanto vos aconselho a comer para que possamos caber nas alegres roupagens de Verão. Vá lá, umas frutinhas também pode ser.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

As mulheres alexandrinas

Poucos anos depois de Alexandre Magno ter fundado aquela que viria a ser a capital do Egipto Ptolomaico (331 a.C.), Alexandria era já a rainha do Mediterrâneo.
De carácter híbrido, uma cidade grega em território egípcio, era um reconhecido centro de comércio e de cultura. Aí acudiam gentes de todas as origens atraídas, talvez, pelas oportunidades de enriquecimento, pela fama dos seus monumentos (O farol de Alexandria), pela sua grandiosidade (só comparável, mais tarde a uma Roma imperial ou a Constantinopla e, na actualidade, quiçá, a Nova York do século XX…), ou pelo prestígio das suas instituições (Biblioteca, Museu, Escola de medicina). Embora o seu carácter miscigenado, nem sempre as suas três comunidades mais numerosas – egípcios, gregos e judeus – coexistiram em harmonia.

E, neste contexto, qual era o estatuto da mulher alexandrina? Estamos a falar do século IV a. C.!

Como comprovado por uma imensidade de papiros conservados, verifica-se (algo surpreendentemente) que a situação da mulher no Egipto greco-romano era, provavelmente, muto melhor do que em qualquer outra época anterior ao século XX.
Embora não fossem consideradas cidadãs e, salvo raras excepções, necessitassem de um tutor que as representasse, são mencionados e confirmados em documentos quer públicos quer privados, alguns direitos interessantes que lhe assistiam.
A mulher podia: herdar e fazer testamento; ser proprietária de terras e bens imóveis e gerir um negócio.
Também se nota uma curiosa igualdade nos contratos de casamento e de divórcio. O casamento não era religioso e pressupunha uma simples coabitação formalizada por um contrato. Este, continha cláusulas de rescisão em caso de divórcio, restituição do dote e separação de bens, com iguais direitos para ambas as partes.
Desfeito o contrato de vida em comum perante um tribunal, chegado a acordo mútuo, cada um era livre e, tanto o homem como a mulher poderiam , se o quisessem, voltar a casar.

Algumas mulheres obtiveram também grande prestígio nas áreas das ciências, das letras e da filosofia as quais podiam desenvolver como qualquer homem. O caso mais paradigmático é o de Hipátia de Alexandria filósofa e matemática, ligada à célebre Biblioteca de Alexandria
Pois é. E tudo isto se passava entre os séculos IV a.C. e V d.C. !!!

E agora como é por aquelas bandas?
(Imagem: Hipatia de Alexandria)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

"A árvore das palavras" de Teolinda Gersão


… Já acabou? Que pena!... Havia chegado à página 223, num sopro, sem dar por isso, quase. O fim deste cativante romance que faz jus aos outros (poucos) que conheço da autora.
Composto por três partes distintas que nos vão transportando com naturalidade à Lourenço Marques dos anos 50/60, ao seu sentir de cidade, aos seus cheiros, à sua luz, às suas gentes.
De palavras simples, as personagens vão-se desnudando complexas, profundas, absorventes.
É espantosa a forma como Teolinda compõe o tratamento narrativo dos tempos das personagens, apressando-nos, ou aquietando-nos ao sabor de uma escrita que tanto se detém em momentos, em detalhes, do mais prosaico quotidiano, como nos arrebata com o poder do sonho, da poesia.
Este efeito deve-se também à aparente fragmentação da narrativa (também aqui o tratamento narrativo dos tempos) uma vez que há uma quase permanente oscilação entre as personagens narradoras, prendendo-nos constantemente a atenção e despertando interesses inadiáveis; é quase impossível parar.
Recomendo vivamente. A mim está-me a custar muito pousá-lo (acontece sempre com os livros que me agradam muito). Irei, certamente, reler alguns excertos absolutamente encantadores quer pela sua magia quer pela ingenuidade que deixa transparecer, quer apenas pelo gosto de reler as palavras.
Apreciem apenas um pouco:

“Na Casa Preta não havia medo dos mosquitos, nem se receava, a bem dizer, coisa nenhuma. Na Casa Preta as coisas cantavam e dançavam. As galinhas saiam do galinheiro e pisavam a roupa caída do estendal, cagando alegremente sobre ela. Lóia gritava enxotando-as mas desatava a rir ajoelhada na terra, esfregava outra vez a roupa com um quadrado de sabão e regava-a com um regador cheio de água.”


“Todas as coisas do quintal, dançavam, as folhas, a terra, as manchas do sol, os ramos, as árvores, as sombras. Dançavam e não tinham limite, nada tinha limite, nem mesmo o corpo que crescia em todas as direcções e era grande como o mundo. O corpo era a árvore e o corpo era o vento.”

domingo, 8 de junho de 2008

Um fim de tarde excelente

Ontem, para me distrair um pouco do fervilhar que parecia atingir todos, em qualquer lugar, por causa do jogo que a nossa selecção iria disputar, acabei por passar um final de tarde, calmamente a ouvir Serge Lama.

Mais uma das vantagens de frequentar o tal "HealTh Club" à minha medida. É que eu já não me recordava destas músicas. Julgava até que nem as conhecia... Mas, de facto, não só as conhecia como me dizem muito. Têm uns poemas maravilhosos. Obrigada por me terem permitido recordá-las.

Vou partilhar convosco um dos meus preferidos:



Je ne rêve plus je ne fume plus
Je n'ai même plus d'histoire
Je suis seule sans toi
Je suis laide sans toi
Je suis comme un orphelin dans un dortoir
Je n'ai plus envie de vivre dans ma vie
Ma vie cesse quand tu pars
Je n'ai plus de vie et même mon lit
Ce transforme en quai de gare
Quand tu t'en vas

Je suis malade, complètement malade
Comme quand ma mère sortait le soir
Et qu'elle me laissait seul avec mon désespoir
Je suis malade parfaitement malade
T'arrive on ne sait jamais quand
Tu repars on ne sait jamais où
Et ça va faire bientôt deux ans
Que tu t'en fous

Comme à un rocher, comme à un péché
Je suis accroché à toi
Je suis fatigué je suis épuisé
De faire semblant d'être heureuse quand ils sont là
Je bois toutes les nuits mais tous les whiskies
Pour moi on le même goût
Et tous les bateaux portent ton drapeau
Je ne sais plus où aller tu es partout
Je suis malade complètement malade
Je verse mon sang dans ton corps
Et je suis comme un oiseau mort quand toi tu dors
Je suis malade parfaitement malade
Tu m'as privé de tous mes chants
Tu m'as vidé de tous mes mots
Pourtant moi j'avais du talent avant ta peau

Cet amour me tue si ça continue
Je crèverai seul avec moi
Près de ma radio comme un gosse idiot
Ecoutant ma propre voix qui chantera

Je suis malade complètement malade
Comme quand ma mère sortait le soir
Et qu'elle me laissait seul avec mon désespoir
Je suis maladeC'est ça je suis malade
Tu m'as privé de tous mes chants
Tu m'as vidé de tous mes mots
Et j'ai le cœur complètement malade
Cerné de barricadesT'entends je suis malade.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Triste curiosidade...

De acordo com um breve artigo publicado numa revista de história (Historia y vida), que por sua vez refere o diário polaco Rzeczpospolita, o barracão 24 do Campo de concentração de Auschvitz, terá funcionado como prostíbulo no qual as prisioneiras, obrigadas a escolher entre a prostituição ou a morte, “ofereciam” os seus favores sexuais aos companheiros de infortúnio.

A situação, que havia sido já abordada pelo historiador Laurence Rees, foi agora confirmada por uma testemunha. Josef Szajna, professor polaco e ex-prisioneiro em Auschvitz tatuado com o número 18729, foi quem fez tão peremptória afirmação da qual o diário polaco se fez eco. Segundo o citado, terá sido Himmler, chefe das SS, que em 1942 terá decidido abrir bordéis em dez dos campos de concentração e de extremínio.

O objectivo seria o de premiar os presos que melhor colaborassem com as SS e aumentar a produtividade dos campos. Contudo, a existência de tais lugares, acabou por se tornar ainda um grande negócio pois os prisioneiros que ganhassem o direito de frequentar estes bordéis teriam ainda de pagar 2 marcos, o equvalente a um maço de cigarros, aos elementos das SS que geriam o negócio.
Os que adquirissem o direito de visitar o bordél, subiriam ao nível mais elevado do, já citado, barracão 24 onde as "meninas" se encontravam vestidas com roupas bonitas, limpas oferecendo uma impressão de normalidade a qual, sem dúvida, constituiria um atractivo intransponível para homens que viviam diariamente um profundo pesadelo.

Para além do negócio e do controlo dos próprios campos de concentração, uma vez que os implicados em qualquer acto de insubordinação perdiam o direito de frequentar o bordel, tratou-se de uma forma requintada de aumentar o opróbrio. Quer de quem se prostituía quer de quem utilizava os seus favores. Companheiros na desgraça e unidos no mais profundo da humilhação humana.

É naturalmente, graças a esse sentimento de ultraje, que a existência destes prostíbulos, se bem que seja um facto indubitável para quase todos, tenha sido sempre um tema tabu.
Silenciado pelas mulheres que se prostituíam bem como, obviamente, pelos seus “clientes”.

Quem aceita acordar o seu inferno?


(Imagem: Pintura de David Olére "Experimental Injection")

segunda-feira, 2 de junho de 2008

"Eça Agora" de vários autores *


Eça Agora” de sub-título "Os herdeiros de os Maias", escrito por vários autores, é, segundo creio, a terceira experiência deste grupo de escritores de, chamemos-lhe, escrita à desgarrada. Tal como Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão fizeram quando escreveram “Os mistérios da Estrada de Sintra” considerada, quando pela primeira vez foi publicado em livro, a primeira incursão pelo policial feita por autores portugueses.

É um livro divertido em que a escrita dos sete autores se vai quase fundindo numa só. Na minha opinião um pouco mais interessante do que as duas experiências anteriores, mas é mesmo isso: divertido e bem-disposto.

Com um enredo paralelo ao dos “Maias”, com as personagens deste reinventadas e colocadas num novo contexto social, político e económico, este início do século XXI, cada um dos autores aplica-se arduamente na análise e na crítica acutilante de alguns aspectos dessa mesma sociedade à medida que vai movimentando as suas personagens sem fugir à linha imposta pela obra original.

Foi de leitura agradável, divertida, ligeirinha, sem deixar grandes marcas. Quanto a mim escusava-se aquele final um tanto à laia da “boa velha novela mexicana”…

* Os autores são: Alice Vieira, João Aguiar, José Fanha, José Jorge Letria, Luísa Beltrão, Mário Zambujal e Rosa Lobato de Faria

domingo, 1 de junho de 2008

Sobre o Palácio do Marquês de Valle Flor IV( O palácio)

Sala Japonesa, assim designada por estar inteiramente decorada com elementos de estilo orientalizante. Neste período, a Europa vivia fascinada pelo Oriente, sobretudo pelo Japão. Era também uma forma de demonstrar a atenção ao mundo, o interesse e abertura à modernidade. As pinturas desta sala, de Eugénio Cotrim, introduzem elementos japoneses, alguns deles de grande simbolismo e significado. É o caso das bolas nambam que, muito embora venham progressivamente a perder o seu significado, ainda hoje se oferecem no Japão no dia de Ano Novo. Outro elemento simbólico é o uso de linhas onduladas na decoração do tecto o que, segundo a crença oriental, afasta os maus espíritos. Depois é o conjunto de elementos como lírios, flores de cerejeira, amendoeiras, o Fujyama, a ponte de Quioto, o grou, nas composições decorativas que realçam ainda mais a tendência inteiramente oriental da sala.

Sala Luís XV. Sala de grande imponência que me impressionou, em primeiro lugar, pelo brilho e pela transparência conseguidos através de um felicíssimo jogo de espelhos que decoram as várias consolas enquanto refractam a luz que entra pelas amplas janelas e portas. As suaves tonalidades de pastel que se estendem do tecto suavemente pelas paredes, também ajudam a conferir uma sensação de unidade a todo o ambiente ornamental. Encontram-se aqui todos os elementos que caracterizam a gramática estilística deste período: Estilização de folhas de acanto, conchas, volutas, linhas espiraladas, rosas, feixes de juncos, florinhas e ramos de palmeira, palmitos, bem como talvez o elemento mais característico do Luís XV o “crête de coq”. Também as grinaldas sobre superfícies espelhadas encimadas por espanholetas assim como a decoração dos lambris, das cartelas e o recurso ao “tromp l’oeil” (tão ao gosto da época) são dignos de nota. Digna de nota é também a grande tela colada ao tecto bem como as situadas sobre as portas. A do tecto, com uma pintura a óleo da autoria de Carlos Reis (1863-1940) mostra-nos uma figura feminina com uma coroa de flores rodeada de outras figuras de crianças. No conjunto destacam-se panejamentos de cores ocre e rosa (que envolvem a figura feminina) bem como uma fita azul que flui ao longo da tela até duas das figurinhas dos “putti” (figuras de crianças que simbolizam o amor) mais distantes e ajuda a equilibrar a composição. De um modo geral, a pintura deste período (rocaille ou rococó) caracteriza-se pelo tratamento, com elegância e graça, da felicidade, da alegria, do brincar…

A Capela, construída posteriormente encontra-se no topo nascente do edifício em simetria com o átrio principal. Do primeiro piso, exactamente no topo nascente, abre-se um amplo varandim de onde se pode contemplar todo o espaço circular da capela, encimado por uma cúpula com rosácea em vitral. A capela foi dedicada à Imaculada Conceição, cuja imagem, no altar, se impõe. As imagens existentes na capela, com a excepção da de S. Filipe, vieram todas de Paris do atelier de Barson Romain. As paredes são revestidas por grandes vitrais, de cariz um tanto diferente dos restantes do palácio e cuja temática se centra no simbolismo religioso. Proporcionam uma luminosidade particular a todo o espaço.

Os grandes Salões, hoje salas de refeições do hotel, ocupam toda a ala nascente do edifício com acessos directos aos grandes jardins, levando a crer que se destinavam às grandes festas, bailes e banquetes. A decoração dos tectos e paredes recorre a elementos do estilo Regência; estuque bem trabalhado e folha de ouro que realça, pelo brilho, a importância a dar às formas e ao espaço. A decoração que completa tecto e paredes introduz um motivo particularmente utilizado nas salas de música, acessórios compostos por instrumentos musicais, assinalando um tema e a função do espaço. As colunas e pilastras são estriadas e os capitéis compósitos do período faustoso de Luís XIV e Luís XV. Em grande destaque podemos ver um brasão do marquês nos cantos do tecto que, de resto é sobrecarregado de motivos florais, ramos de loureiro e de palmeira, juncos, remates de moldura com recurso à espanholeta e aos palmitos. Nos remates dos arcos das portas, folheados a ouro, ressalta a utilização, ao centro, da concha, motivo recorrente em estuque branco em frisos e lambris. As pinturas, de Constantino Fernandes, integram-se no estilo sobretudo pelos temas: o prazer da dança, a alegria, o nu feminino envolto em tecidos de grande leveza, transparência e brilho.

O Jardim. No jardim do palácio podemos encontrar várias influências estilísticas. Desde o chamado “jardim à francesa”, de traçado geométrico, regular e simétrico até ao “jardim paisagista” o qual pretende imitar a paisagem natural. A variedade encanta e os desníveis tornam-no magnífico. Muito bem defendido do ambiente exterior urbano, proporciona tranquilidade e um certo intimismo. Podemos encontrar esculturas representando as quatro estações, junto à actual piscina, antigo lago assim como, por todo o jardim, outras ligadas à mitologia greco-romana
FIM! (Uf! Dirá quem leu)