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domingo, 19 de dezembro de 2010

Concerto para violino e orquestra

Piotr Iliych Tchaikovsky

Levada pelos doces gemidos do violino,

solto a alma,

perco-me de mim.

Derivo, solta e delicada, por entre trilhos esquecidos

até que sou arrebatada pelas marés vivas da orquestra.

Abraça-me um arroubo de sons inebriantes.

E reinvento caminhos.

Toco a imponderabilidade.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Delírio


(Imagem daqui)

Estou em delírio!
Agito os braços quietos num frenesi
-metafórico-
e sacudo as pernas suspensas na cadeira
enquanto esfrego os apensos pés um no outro
- não tão metaforicamente - confesso.
Que inquietude!
Caí sem pára-quedas numa sala familiar que mal reconheço,
semeada de gente que não quero conhecer
mas que insiste em derramar, sem qualquer temperança,
cargas de sabedoria que não procuro,
embrulhadas em discursos palavrosos que não entendo.
Esses, os eruditos,
soçobram sob o peso de livros, cadernos, folhas amarrotadas e sujas
que alardeiam a cultura maior, a sapiência no seu expoente máximo.
E eu, DISTANTE. distante. distante.
Fujo, em delírio.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sob o salgueiro


(Fotografia de Mestre Eduardo Teixeira Pinto - "Outono")

Sob o salgueiro de ramos despidos
pingando em desalentos sobre as lajes,
estende-se uma velha corda.
Tão triste…
E a roupa que dela pende,
tão triste…
tão lavada de esperança,
tão à mercê do vento e da sorte.
Nem o brilho da ardósia molhada pelas lágrimas do tempo,
nem a erva vadia, sem raça, que se intromete
numa promessa de verdes pálidos,
nem o cinza azulado das águas do rio
que correm para a foz numa urgência de vida,
lhes aliviam a desesperança.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Imagine



Para recordar!

Completam-se hoje trinta anos do assassinato de Lennon à porta dos seu apartamento de Nova York às mãos de Mark David Chapman.

Imagine!!!!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ausência

(Imagem daqui)

A ausência que deveras me dói

é a que se instala no vazio de ti.

Abre brechas na pele, na carne, nas entranhas,

deixando um sulco de sal que arde em mim.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Não chegava


Só hoje arranjei coragem para aqui deixar este registo. A coragem que vem com a saudade...


Não chegava.

Não, não era ainda suficiente a inquietação dos dois últimos dias.

Os picos de medo, de ansiedade, o desassossego permanente.

Não chegava a agonia que sentia colada à pele ao regressar.

Não.

Afinal não chegava.


Aguardava-me algo que nem sonhara.

Aguardava-me a urgência teu olhar, Carlota.

Estranho olhar esse como se estivesses feliz mas angustiada.

Como se sentisses alívio mas te mantivesses assustada.

Como se esperasses tudo mas sem contar ter nada.

Estranho olhar esse, Carlota!


Estranho olhar esse, Carlota, que me deu logo a perceber

aquilo que, em verdade, me recusei saber.

Despedias-te de mim. Eu sabia.

Pedias-me ajuda. E eu queria.

Querias conforto. E eu não conseguia.

Consegui apenas fixar os teus olhos, Carlota,

afagar-te mimar-te, beijar-te enquanto te via rastejar,

enquanto te ouvia ronronar,

enquanto te levava, a chorar.


Estranho olhar esse, Carlota, que te vi quando te deixei.

Estou certa, Carlota, que me dizias que nunca mais te olharei…


2010-08-12