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quarta-feira, 31 de março de 2010

Frases batidas


(Imagem: Fotografia de César Augusto Romão da série "Interiores")

Estou só.
Estou tão só!!!
Estou tão desesperadamente só…
Mesmo rodeada por todos quantos me amam,
sou só.
Ainda que no meio da maior multidão
sou sempre só,
encerrada em mim,
nos meus pavores, nos meus pesares.
Repiso, mesmo sem querer, esta tecla, mais que batida.
Vou para além.
Ultrapasso a solidão simples…
Estou só.
Estou só e assustada.
Estou.
Eu.
Só.

segunda-feira, 29 de março de 2010

“Amor; Città Aperta” de Danyel Guerra


Foi com imensa curiosidade acompanhada de uma grande expectativa (que muitas vezes se torna nefasta dado o nível a que colocamos a fasquia) que li, num ápice, o livro “Amor; Città Aperta” que o próprio Danyel Guerra me havia gentilmente oferecido.

Pois é, foi-me presenteado pelo próprio por quem nutro uma elevada estima e grande consideração, se bem que o nosso conhecimento não seja muito extenso no tempo.

Está assim, pode-se dizer, comprometida a isenção da análise que possa fazer. E, naturalmente até haverá alguma verdade nisso. Contudo, não é a primeira vez que o faço e tento sempre distanciar-me, tanto quanto possível, da relação de conhecimento, amizade ou vínculo familiar que tenho com o autor do que leio.

Mas vamos passar ao que interessa e, na verdade, também ninguém é obrigado a concordar com a minha opinião. É isso mesmo: apenas a minha opinião.

O livro é composto por um conjunto de crónicas, muitas delas já publicadas no Jornal de Notícias (que desperdício) ou em outras brochuras como catálogos de exposições.

Todas elas se iniciam com uma saudação a uma das muitas musas que inspiram o Danyel. Neste caso, se nada me escapou, não as musas do panteão clássico mas as outras, as mais actuais, as mais palpáveis nem que apenas no celulóide da película do cinema, ou nas palavras impressas de um poema…

Todas elas também apresentam, um tanto à laia de subtítulo, excertos de poemas, ditos de cineastas ou de artistas de outras artes, referências aos clássicos, emprestando-lhes, logo aí, uma conotação com o erudito, com a prosa rebuscada que é seu apanágio.

Ao percorrer estas dezanove crónicas deparei-me com a evidência (já esperada, aliás) de um sentido de humor finíssimo que se estampa em todas elas.

Divinos, para quem, como eu aprecia, uma boa facécia, o recurso a jogos de fonética em palavras, bem como jogos de significância das mesmas que ajudam a abrir uma ampla porta ao chiste e à crítica refinada.

Deparei-me com uma escrita riquíssima, daí o meu comentário: “que desperdício”, feito uns parágrafos acima.

É que, sem desprestígio para a escrita jornalística que pode e deve, se me permitem, ser boa, não denota este excepcional registo literário. Até porque, ao destinar-se a um determinado público, não seria, de todo, apreciada ou até, inteiramente compreendida.

À medida que ia progredindo na leitura do livro mais se consolidava em mim a ideia, preconcebida, assumo, de vastíssima cultura que o Danyel possui e que derrama em catadupas imparáveis com o fluir da sua escrita.

Ao longo do que parece ser uma “simples” crónica relativa a uma cidade, um transporte, uma viagem, uma cena de um filme, perpassa todo um mundo de aprofundado conhecimento em áreas como a música, o cinema, a pintura, a história, a literatura e a sua estilística, que são inequivocamente transversais a toda a sua escrita.

Por tudo isto, devo dizer que transformou uma tarde de domingo que prometia ser cinzenta (não tanto por fora, mas na alma) numas horas muito bem passadas.

sábado, 27 de março de 2010

Ontem


Ontem, o dia se fez noite

a claridade se fez breu,

a alegria se fez dolência,

e eis que me perco de mim

a um ponto de já não ser eu.


O que era pequeno se fez grande,

o imenso se apoucou,

o chão fugiu-me dos pés

e o eu que vagueava,

sem alternativa, acordou…

sexta-feira, 26 de março de 2010

Tu e o meu bolo de chocolate (a alternativa que não li)


(Imagem "Exhibicion" de Louis Wain)


Margarida estava num alvoroço assombroso. Andava pela casa toda, compondo daqui, virando d’acolá, num frenesim quem nem mesmo ela, se lho perguntassem, justificaria.
A verdade é que o caso não era para menos; os seus dois irmãos, estudantes em Coimbra, chegavam hoje a casa para um merecido, se bem que curto período de férias.
Se isso, por si só era já uma animação inusitada naquela casa, com eles vinha também Leonardo colega e amigo de ambos. Margarida apenas tinha tido oportunidade de o ver uma vez. Mas a verdade é que a mera lembrança daqueles olhos escuros e profundos que pareciam escrutiná-la embora com laivos de cumplicidade, era o suficiente para a levar ao ponto de exaltação em que se encontrava.

A verdade também é que eram escassas as oportunidades que Margarida tinha para conviver vivendo assim, como vivia, naquela belíssima quinta, apenas com a sua mãe, os seus preciosos livros, os cães e o Faruk, o seu gato. Este era um bicho muito especial que lhe havia sido oferecido pela madrinha, senhora da sociedade do Porto que, de forma muito expedita o havia pedido directamente, por carta, ao Xá da Pérsia, Reza Pahlavi. E que este, numa atitude que apenas os soberanos sabem ter, lhe havia enviado como oferta.

Tinha um pelo longo e sedoso de tom marfim com todas as extremidades de um cinza azulado. Os olhos, de um azul intenso, sobressaiam no seu focinho redondo denunciando uma expressividade pouco comum nos animais. Parecia sondar as pessoas.
Era absolutamente dedicado a Margarida, estabelecendo com ela longos e barulhentos, diga-se, “diálogos”.
Eram os desabafos, as confidências, as dúvidas que Margarida não se atrevia a ter com ninguém e que, a criatura, de algum modo parecia entender e apaziguar.

Bom, mas voltemos à exaltação inusitada de Margarida.

Estava previsto que os rapazes chegassem pela hora do chá e, D. Leonor, havia dito a Margarida que tratasse de o aprontar convenientemente. Fazia, esta tarefa, parte do treino de preparação para ser uma Senhora; para gerir uma casa, naturalmente na sombra de um marido de posição…

Assim havia sido com D. Leonor, com sua mãe, D. Gomersinda e haveria de o ser também com Margarida.

Margarida passou a tarde dando ordens na cozinha, arranjando as flores que havia colhido, engomando ela própria a toalha de linho bordada pela avó (aquela dos miosótis azuis que tão bem ligava com o serviço de chá que tencionava utilizar, Sèvres branco) … Enfim, num infinito vaivém.

Inquieta, foi para a cozinha para, ela mesma, confeccionar o famoso bolo de chocolate receita da avó Gomersinda que, por sua vez, a tinha recebido da sua grande amiga D. Palmira do Condado de Vila Pouca. Não é que fosse difícil, mas tinha os seus truques e, Margarida, queria tudo absolutamente perfeito.

E, finalmente, tudo pronto.
A mesa estava linda! As flores azuis, fresquíssimas, artisticamente arranjadas, competiam em beleza com o espantoso bolo de chocolate que sobressaía de entre o branco das chávenas e o pintalgado azul da toalha.

Tudo pronto. E ainda bem, pois nesse exacto momento ouviu-se a algazarra dos cães que saudavam os recém-chegados. Antero e Eduardo entraram e correram para ela que, um pouco embaraçada, se viu às voltas pendurada nos braços de ambos.
Como tinha saudades destas brincadeiras!
Leonardo, um pouco mais atrás, cumprimentou-a mais cerimoniosamente.
Ao grupo juntou-se a mãe e, Margarida, um pouco impaciente foi-os conduzindo para a saleta onde se encontrava servido o chá preparado com tantos enlevos.

Abriu a porta e, de repente, exclama por entre o burburinho bem-disposto da conversa:
- Tu!!! E o meu bolo de chocolate!!!
Ao mesmo tempo empalidece e sofre uma ligeira tontura. É prontamente amparada por Leonardo o único que se apercebeu da sua aflição porque os restantes soltavam gargalhadas incontroláveis perante o que viam.

Na sala, em cima da mesa, Faruk ora mastigava, ora lambia o bolo que Margarida passara uma boa parte da tarde a fazer com requintes de cozinheira apurada.

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Clube de Escritores"


(Imagem do filme "O clube dos poetas mortos")

Tenho andado tão assarapantada que até me esqueci quer de mencionar o evento, quer de aqui colocar o texto que escrevi para a função.

Foi já no passado Domingo que se deu início ao “Clube de escritores” uma iniciativa da Edita-me.

Perante um mote, as pessoas deveriam produzir um texto que não poderia ultrapassar uma folha A4 o qual viria a ser lido, pelo próprio ou por outrem, no dia do encontro.

Para este primeiro encontro o mote era “Tu e o meu bolo de chocolate”.
Bem palerminha, é verdade!

O encontro sucedeu no carismático bar portuense "Labirintho" que serve, por tal sinal, um fabuloso bolo de chocolate.

Eu, ia para ler, a minha função de sempre. Mas à última da hora, deu-me uma febre de escrita e há que meter a mão num bolo que não é meu (não o de chocolate, o da escrita) e toca a produzir uma pequena parvoíce para me divertir um pouco e aguilhoar o evento que, diga-se de passagem, foi bem animado mesmo sem a minha modestíssima contribuição.

Pois aqui vai o que saiu. Divirtam-se se conseguirem…


Tu e o meu bolo de chocolate

É hoje, pensava Carlota para com os seus botões (que, por acaso nem tinha nesse dia).

É hoje! Dizia ela alto e bom som para quem a quisesse (ou não) ouvir (talvez por não ter os tais botões com quem pensar…).

É mesmo hoje que me vou atrever. Dar o grande salto. Deixar de ser o elemento a mais; a que vai compor o ramo; a que tem por missão realçar a beleza do trabalho de outros.

Chega, Bolas!

Também quero ser artista!

Subir ao plateaux e ser apresentada com honras e fanfarras como vejo outros serem!

E tudo porquê? Porque aqui a menina Carlota sempre foi mais de falar…

É verdade que sim. É verdade que falar se não bem, pelo menos muito, é um dom que tem. Mas com os diabos! Será que não conseguirá sair desse gueto em que ela própria se enfiou até às cordas vocais??

Claro que sim. Claro que vai sair. E é hoje!

Come os kivis apressadamente, faz o café e arranja o pão já com as ideias a fervilhar que nem uma panela de sopa. Dá instruções à funcionária para ficar mais liberta podendo desse modo dar asas à eventual criatividade, faz festas aos gatinhos, mas poucas e explica-lhes porquê, atira um piropo ao cão que fica surpreendido com semelhante coisa antes mesmo do café e corre para o computador.

Esfrega as mãos, estica os braços (exercícios de aquecimento, para quem não tenha entendido) e prepara-se para o acontecimento mais importante, mais emocionante, mais degradante que é escrever algo que lhe impõem!!!!

E então, lentamente, premindo conscientemente cada tecla do computador escreve:

- Tu! E o meu bolo de chocolate!




domingo, 21 de março de 2010

E mais um miminho!!!!

Dia Mundial da Poesia


(Imagem daqui)

E porque hoje é o dia mundial da poesia, vou partilhar convosco um pequeno poema, que leio muitas vezes.
Usufruam!

Dou-te as palavras
como quem se despe
secreta e completamente.

Fico nua e solitária

toda a alma descoberta
no papel

e nos teus olhos

a imperfeição da minha pele.

O poema como espelho

deste medo

que me vejas

só, nas tuas mãos.

De Maria Sofia Magalhães in "da Sombra que somos"

quinta-feira, 18 de março de 2010

“2666” de Roberto Bolaño



Finalmente! Acabei!

Pois é, acabei de ler o livro que já apelidava, conformada, de “omeulivroparatodooanode2010”. Não que fosse retardando a sua leitura por incompatibilidades com a sua escrita. Nada disso. Apenas se interpuseram um montão de outras leituras, essas obrigatórias, que me levaram a interrupções frequentes. Além disso, o livro contém 1030 páginas, de letras pequeninas, e é de formato grandito. Por tal, nada adequado às minhas habituais leituras ao deitar e ao acordar as quais, poderiam até colocar-me em risco de vida, sei lá?! É que levar com um peso tal na testa não poderia de todo ser inócuo (para a testa)!

Agora que já disse o que não tem interesse nenhum mas sabe bem, passo então a falar do livro propriamente dito e daquilo que me suscitou.

É, como já referi um livro grande e, no meu ponto de vista também um grande livro. Está dividido em cinco partes distintas as quais, aliás, criaram no autor a vontade de que fossem publicados cinco livros individuais. Tal não aconteceu por opção dos herdeiros que explicam a razão no início do livro e, quanto a mim, faz todo o sentido.

O livro está escrito de uma forma peculiar, presumo que característica de Bolaño, uma vez que já a havia notado em “Os detectives Selvagens”.
Eu, leitora, vou seguindo o curso da escrita que é agradável, fluente, por vezes de forte pendor poético, sem me preocupar muito com o que é suposto as personagens atingirem, com o que procuram, com a resolução da trama… Quando dou por mim apenas quero ler e ler sem que tenha importância fundamental o desenlace. Ou até a forma como se interligarão as partes; ou mesmo se se interligarão… é que a escrita, só por si está conseguida de uma forma que chega a ser quase hipnotizante (permitam-me a quase hipérbole)…

Lê-se, na capa, que “A vida humana inteira está dentro destas palavras ardentes” frase retirada do “The Independent”. E, na verdade, não posso estar mais de acordo.

No mesmo livro acompanhamos um grupo de intelectuais de vários países que se tornam amigos porque procuram o seu escritor “fetiche”. Essa demanda leva-os até ao México local para onde crêem que o autor se terá deslocado.

Aí mesmo, em Santa Teresa (cidade fictícia), somos espectadores de uma quantidade indescritível de mortes de mulheres, barbaramente assassinadas, violadas e mutiladas ao mesmo tempo que acompanhamos as mornas investigações e os aspectos peculiares da vida de um prisioneiro acusado da autoria de algumas mortes.

Somos soldados da Wehrmacht enquanto acompanhamos Hans Reiter pelos campos de batalha da frente ocidental.

Somos Archimboldi quando escreve, quando ama, quando cuida da sua mulher doente.

Somos Lotte quando vive ensombrada por terríveis pesadelos, apesar dos quais não pára de acreditar poder vir a encontrar o seu irmão “gigante” que foi para a guerra e a quem nunca mais viu.

Enfim, somos tudo isso sem sermos mais do que nós a acompanhar devaneios escritos que têm tanto de belo como de angustiante e misterioso e em que a violência e a morte serão, talvez, o fio condutor…

A ler, sem dúvida.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Jogadora



Joguei e perdi.
Perdi porque joguei o amor.
Amei e perdi sem jogar.
Joguei e perdi, por amor.
Mas, por amor, acabei a ganhar …

sábado, 13 de março de 2010

E pronto! E lá fui!


Eros e Thanatus

E pronto! E lá fui!

Pois é, pela primeira vez na vida estive no papel de moderadora de um debate com gente muito conhecedora a rodear-me do lado de cá da mesa e um público repleto de pessoas muito mais capacitadas para o efeito do que eu.

Enfim! Consequências da minha doce e extemporânea, diga-se, inconsciência que me faz “embarcar” em projectos que me parecem perfeitamente viáveis mas que, chegada a hora, me deixam absolutamente incapacitada de terror.
É então aí que eu me pergunto qual a droga que eu teria tomado para me apanharem a dizer que sim a semelhante exposição para a qual (e naquele momento já sem o seu efeito) constato que não estou minimamente preparada nem sou de todo capaz de executar com propriedade.

Foi ontem, no Clube Literário do Porto que eu me vi rodeada de dois poetas com provas mais que prestadas na matéria a moderar uma conversa cujo tema era:

“Eros e Thanatos, o amor e a morte na poesia”.

Ei!!!! Grande coisa! Dirão vocês.
Esse é um tema mais do recorrente e que percorre, tal qual uma maldição, a poesia desde Horácio com o seu tão famoso conceito de Carpe Diem ( que terá ido buscar aos epicuristas)até aos nossos dias com, apenas para exemplificar, o belíssimo poema de Alexandra Malheiro (uma das tais que me ladeava) do qual aqui deixo a primeira estrofe.

Urgente

Urgente?
Urgente
é o pão na boca do pobre,
urgente
é o céu
que a todos nos cobre,
urgente é a mão que afaga
e me acode,
urgente
é o não que
na língua me morde.

É verdade, não contesto a insistência do tema nem tampouco a existência de extensa matéria a esse respeito.
Contudo, exactamente por isso mesmo, estava em mim latente a preocupação de não estarmos ali a fazer mais do mesmo e, sobretudo da mesma forma…

(Reparem que, até para tentar relatar o acontecimento o estou a fazer do modo atabalhoado como, naturalmente, o orientei… É que não me ficava nada mal, mesmo nada mal, apresentar as pessoas da mesa!)

Pois bem, estava ladeada por, como já referi, Alexandra Malheiro, poeta com três livros publicados em papel e um quarto em formato digital e que é, nas palavras de Pedro Abrunhosa que assina o prefácio do seu último livro “Luz Vertical”Poeta inteira, ela própria vertical, infinita e remanescente, mostra-se finalmente como uma das mais surpreendentes novas vozes que se impõem no panorama da literatura nacional”.

Do outro lado estava Rui Almeida, poeta estreante no que concerne não à publicação, pois tem textos seus em colectâneas e revistas, mas à publicação em livro seu com o “Lábio Cortado”. Ganhador, com esse mesmo livro, da primeira edição do prémio de poesia “Manuel Alegre” instituído pela C.M.de Águeda.
No posfácio que creio ser de Paulo Sucena, um dos membros do júri, podemos ler também o seguinte: ”Estamos perante uma poética que estabelece uma subtil conjugação entre a palavra e o mundo, assumida numa apresentação do poema como produto da linguagem.” E diz-nos ainda que “O título do livro…é por si só uma terrível marca do tempo presente… permite-nos falar de uma voz cortada, de um ser imperfeito de uma vida que sangra.”

E agora atentem! No meio, estava eu. Sem prefácios de Pedro Abrunhosa, sem posfácios de Paulo Sucena e sem juízo nenhum pois que me tinha proposto a semelhante função.

Bom, lá tive que assumir aquilo que me propusera e dei início à sessão não sem que antes me tivesse dado uma vontade imensa de largar a correr, num gesto impulsivo, creio até que de auto-defesa, pela Rua Nova da Alfândega.
Não o fiz, claro, mas tive que ir despindo sucessivas peças de roupa, tais eram os calores que me avassalavam.

Como o fiz, o que fiz, se disse muita coisa que não deveria ter dito, se omiti muito do que era importante dizer, se cumpri com as regras mais ou menos estabelecidas ... Enfim, se moderei ou não, convenientemente, o debate, isso não sei.
Sinceramente, aquelas quase duas horas passaram num ápice sem que eu me tivesse dado muito conta do que fazia.
O público, ilustre, devo dizê-lo, foi excelente. Colaborou e enriqueceu a sessão com o seu saber e as suas intervenções e/ou perguntas pertinentes.

E, quando dei por mim, tinha encerrado o debate.
Estava viva, ninguém me lançava olhares assassinos pelo que supunha que acabaria por sair incólume desta assumida imprudência .

Termino, pois a prosa vai já longa. Deixo-vos, contudo, bem acompanhados. Vou deixar-vos com o poema de Rui Almeida que dá título ao livro. Usufruam!


É o lábio cortado que molha o ventre.

Um ciclo de lentidão entranhada
Disperso no vício da suavidade,
Como pedra circulando nos poros,
Que arromba a pele segura pela sede,
Suposto contorno de suor ágil
A entrar na sequência da queimadura.

Entretanto seca o rumor da boca,
A ruptura alcança fertilidade
E o olhar transforma as mãos em segredos.

Ah! E quanto ao tema…. Bem, tirem as vossas conclusões. Certamente não andarão longe das que ali abordámos.

terça-feira, 9 de março de 2010

"575" em grande!

É hoje!

Às 17horas na Estação do Metro do Bolhão.

Concerto da banda "575"!

Se puder, não falte. Vale mesmo a pena. É música original, com letras próprias, é um grupo português, é genuíno, é bom!

São estas pequenas/grandes coisas que podem fazer a diferença no seu dia...

Agora, apenas um cheirinho da sua última apresentação:



domingo, 7 de março de 2010

Hoje, no Clube Literário do Porto


(Pedro Branco e Zé Manel dos Santos)

Como já vem sendo hábito, normalmente no primeiro domingo de cada mês, realizou-se mais um “Clube de leitores” no Clube Literário do Porto. Desta vez tinha como escritores convidados, os poetas Carla Madureira e Pedro Branco.

Apesar do dia cinzento que se anunciava e do trânsito inusitado no Porto naquela zona da cidade a verdade é que o “piano-bar” estava bem cheio e com pessoas que participaram de forma interessada e assaz pertinente.

(A assistência embevecida...)

Não fora já, só por si, de grande interesse o evento tal como costuma ser, este teve a particularidade de encerrar com um recital de poesia e canções que Pedro Branco, acompanhado pela sua viola e por Zé Manel dos Santos, teve a amabilidade de nos oferecer.

A excelente interpretação de Zé Manel que declamava, em perfeita simbiose com a de Pedro que cantava, conferiram a esta sessão momentos de rara beleza quer pelo conteúdo profundo que os poemas veiculavam quer pelo aspecto cénico revelador de um bom gosto a apostar na simplicidade.

Terminou com um momento deveras emotivo em que foram bem visíveis os “brilhozinhos nos olhos” que aquela lagrimazita teimosa se empenhou em deixar em todos nós.

Bem-hajas Pedro por seres como és e por fazeres de todos nós receptores esfomeados da tua arte.

Vamos esquecer a chuva e dar voz ao "ROUXINOL"

Não pude deixar de partilhar convosco esta pérola da nossa cultura que me foi recomendada.

E haverá lá coisa melhor do que um "Rouxinol" para nos alegrar numa manhã cinzenta e triste de Domingo?

Boa sorte!!!!