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As personagens são do mais absurdo possível, retratando de forma também absurda estratos sociais bem definidos, muito superficiais e folhetinescas.
À medida que prosseguia na leitura, fui criando uma opinião um pouco diferente: penso que todo este absurdo a todos os níveis (até em termos de linguagem) tem como intenção satirizar a chamada literatura “light”, seja lá isso o que for.
Manuela Gonzaga, numa colagem ao modelo e aos parâmetros do romance cor-de-rosa, constrói uma crítica carregada de humor e de referências a lugares comuns de carácter social e cultural; uma sátira mordaz ao que de mais superficial e frívolo tem a nossa sociedade neste já Sec. XXI. Não falta a trintona de boas famílias, rica mas destravada, patrocinada para aparecer nas revistas cor-de-rosa, o editor de obras de referência desiludido e falido querendo um bestseller mesmo que de má qualidade literária, a mãe solteira, gira e culta, a empregada doméstica de leste que é médica, o escritor medíocre bem sucedido, o conde rico que se apaixona pela strip teaser, o fotógrafo gay... e mais não digo ou estragaria o gozo da descoberta.
Interessante a utilização de textos de introdução e de finalização em cada capítulo. Os primeiros fazem um resumo dos capítulos anteriores e os segundos destinam-se a levantar as várias hipóteses de prosseguimento da trama, procurando “prender” o leitor, bem à laia dos folhetins radiofónicos dos quais,confesso, já não me recordo muito bem, assim como das telenovelas (essas completamente actuais e em força) nas suas “cenas dos próximos capítulos”.
Enfim, vale pelo humor, pela ligeireza com que se lê e pela (espero eu que não apenas suposta) crítica à tal literatura ultra light mas de grande sucesso em termos de vendas que é , no final, o género em que o próprio livro se insere... Ou não?
Pequeno excerto que penso ser, de algum modo, elucidativo:
“...De resto, logo às primeiras linhas do romance (...) pensou filosoficamente: «Esta merda é uma bosta. E esta bosta cheira a dinheiro que tresanda. O enredo é mau, as personagens péssimas, os diálogos um desastre. Mete sexo página sim, página não. Fala de gente de política. Faz uma perninha com o futebol, aliás um belo empernanço. Temos hipótese de bestseller»”
“...De resto, logo às primeiras linhas do romance (...) pensou filosoficamente: «Esta merda é uma bosta. E esta bosta cheira a dinheiro que tresanda. O enredo é mau, as personagens péssimas, os diálogos um desastre. Mete sexo página sim, página não. Fala de gente de política. Faz uma perninha com o futebol, aliás um belo empernanço. Temos hipótese de bestseller»”
1 comentário:
NESTA SOCIEDADE DITA GLOBAL
O MERCADO PARECE NÃO TER FRONTEIRAS - NEM VALORES
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