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terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Canário" de Rodrigo Guedes de Carvalho

Mais um livro cuja leitura concluí e mais umas quantas horas realmente bem passadas.
Não faço questão de aqui comentar tudo o que leio mas, mesmo assim, à medida que vou lendo os comentários a algumas das obras que li e que fui colocando neste blogue só posso concluir uma de duas coisas:
- ou tenho uma sorte danada na selecção de livros que faço;
- ou então sou muito pouco exigente em relação àquilo que leio...
Isto porque, mais uma vez, gostei francamente do livro que li.

Já habituada ao tipo de escrita do autor, portanto já com uma determinada expectativa em relação à qualidade do “produto”, devo dizer que o dito não me defraudou minimamente.
Não sei se ultrapassou, na minha opinião, claro, o nível atingido em “Mulher em branco” pois a comparação se torna difícil dada a diferença grande entre os temas abordados, exigindo, portanto, diferentes linguagens. Contudo considero-os no mínimo equivalentes.

Livro de escrita intensa, reproduzindo de forma simples mas realística sentimentos, emoções e atitudes; tecnicamente (em termos literários) muito cuidado. Composto de poucas personagens mas todas elas muito bem trabalhadas sobretudo ao nível das emoções; realmente muito ricas.

Em termos de temática aborda essencialmente, quanto a mim, três problemáticas distintas se bem que magistralmente interligadas: a falta de liberdade (a prisão); o bloqueio do escritor bem sucedido, conceituado, mas nem sempre compreendido, e a (não) aceitação de um elemento com uma deficiência muito incapacitante ao nível dos afectos, o autismo, no seio familiar e respectivas consequências.
Como se pode imaginar, tudo assuntos de grande complexidade e, como tal, exigindo um enorme trabalho de investigação.

Não direi que é o livro da minha vida pois, como já tive oportunidade de dizer, não acredito num livro para uma vida. Todos os livros que leio com agrado são livros da minha vida. Este é, seguramente, um deles.

Vou acrescentar um pequeno excerto do livro.

“...nunca se sabe muito bem o que está a acontecer, quem é que está a falar, porque ele não escreve assim direitinho, a anunciar tipo: agora fala fulano e depois responde sicrano, a gente é que tem muitas vezes de adivinhar.
Mas se calhar é por estas e por outras que é conceituadíssimo, eu quer-me parecer que o padre também fica confundido com os livros dele, mas sabe-se, é daquelas coisas que toda a gente sabe, que são muito bons, muito inteligentes, mesmo que se calhar as pessoas leiam só as primeiras páginas e depois ponham de lado, mas isso não tira o valor ao homem, acontece que ele está num degrau que nós nem cheiramos.”

Dá que pensar, não dá?

1 comentário:

A Assassina Ri disse...

Por acaso gosto do tipo de escrita do autor e gostei muito desse livro.
mas nao há amor como o primeiro. e o que gostei mais foi mesmo o primeiro que li : "a casa quieta"