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quinta-feira, 7 de maio de 2009

“O Oráculo do Fogo” de Jorge Pópulo


Como diz Platão “todos os textos são uma narrativa ou diegesis de acontecimentos (realidade própria da narrativa, “mundo ficcional”, à parte do mundo externo de quem o lê) ”.

Já para Aristóteles,” a poesia é a imitação que encontra nos diferentes géneros ou espécies a mesma matriz de interpretação da realidade”.

Se formos ver as teorias modernas, acabam por eleger aquela fórmula mista que combina diferentes tipos de discurso numa mesma exigência literária. Isto, para não falarmos nas teorias pós-modernistas as quais privilegiam as totalidades, as multidisciplinaridades, os cruzamento discursivos… a mistura indistinta, entre todos os géneros literários.

Bom, mas vou àquilo que me fez escrever este difícil texto. Deixar (como é meu hábito) um comentário que resulta, apenas e só, das impressões que um livro me provoca ao longo da sua leitura.

Neste caso, “O Oráculo Do Fogo”, o livro que acabei de ler é, quanto a mim, indefinível no seu estilo e, por isso, um dos mais difíceis de comentar. É constituído por textos, poesias e prosas muito poéticas também, os quais, no seu todo, pintam um percurso de vida que pode ser o de qualquer um de nós, leitores.

- Tem algo de epopeia pois tem um herói que percorre todas as páginas e que se envolve em aventuras, conflitos, sobretudo consigo próprio mas também com o mundo que tantas vezes lhe é adverso, tentando fazer cumprir a profecia que é logo introduzida no início pelo Oráculo, até encontrar a “sua princesa e iniciar viagem por um novo mar”.

- Tem algo de lírico ou não estivéssemos a falar também de poesia. O poeta é estimulado a escrever por acontecimentos extrínsecos. Mas fá-lo de forma a transmitir e a partilhar com o leitor, a emoção, a dor, a incerteza, a esperança, alegria, ou seja os sentimentos intrínsecos, ao seu eu-lírico os quais, por suas vez, o levarão bem como ao leitor à cogitação.
A Palavra tem aqui um papel fundamental. E, é inegável que nos seus textos/poemas, Jorge Pópulo lhe confere uma riqueza tal (fonética, morfológica, sintáctica, já para não falar na opulência semântica) que faz com que os seus leitores se debatam (isso aconteceu comigo) com emoções fortíssimas, quiçá incontroláveis…

Quando iniciei a leitura, confesso que não foi de imediato que entrei no registo de escrita do autor que desconhecia de todo.
Contudo, à medida que ia progredindo no livro, ia, tal como o autor, passando por provações diversas, refugiava-me, com ele, nos sonhos, numa tentativa de escapar à realidade espúria e a criar um mundo de sonhos que nos prometiam a aceitação de nós próprios, a tolerância, a solidariedade, enfim o seu ideal de mundo.
Com ele saí do sonho e com ele caí, reflecti, ponderei as vicissitudes da vida, as dicotomias que nos apresenta até pormos em dúvida a possibilidade da coerência.

Assisto à sua belíssima homenagem aos pais que o formaram tal como é, vejo-o a envolver-se sem opção, nos carrosséis da vida que tantas vezes lhe são adversos, com ele espero o anjo que há-de despertá-lo da sua condição de moribundo da vida e sigo-o na sua demanda. Procura o olhar de Deus, mas sente-se abandonado. Ele e o Mundo. Continua a sua espera, descrevendo acontecimentos comuns como a mudança das estações do ano, a tela que ajudou a fazer na escola secundária, o nascimento, sempre de uma forma lírica, por vezes neo-clássica, fazendo referências recorrentes à mitologia.

Finalmente exulto quando assume, primeiro de forma hesitante, depois plenamente que se reergueu, qual Fénix renascida, pela mão da outra metade de si.

Vou-me encantando com a sua descrição mais ou menos inflamada, do lento e difícil processo de uma nova Paixão; os avanços, os recuos, as certezas, as inseguranças, os medos, as promessas…
Até que o vejo triunfar em glória na sua demanda pela felicidade.

Tal como o Oráculo havia vaticinado, acaba por encontrar a sua Ninfa, o seu Fuego!

ÊXITO!

Tenho que o cumprimentar Jorge. Foi, para mim, uma agradabilíssima surpresa. Espero que esta seja uma interpretação correcta do que escreveu. Pois, penso eu, pode perfeitamente haver outras…

Carlos. Belíssima aposta!

13 comentários:

Brain disse...

Donagata,

A isto eu chamo uma análise! :)

Penso que captaste a essência do livro o que é sempre muito bom.
Para mim,
Enquanto autor,
Isso é sinónimo de "missão cumprida".

Penso que o Jorge só pode ficar agradado com este teu post.

Um Beijo de Mim.

Donagata disse...

Obrigada Brain, por tudo. Sobretudo por seres tu, assim, como és.

Um beijo.

Espero que o Jorge tenha a mesma opinião que tu...

Mar Arável disse...

Não conheço a obra

mas lá irei

pelo seu texto

uma navegação poética

que me encantou

solta e profunda

Andarilhus disse...

Donagata,
Honrado. É como me sinto, no embalo das suas palavras.
Grato, também, porque me fez viajar novamente pelos textos e, na sua corrente mais profunda, repassar pelos sentimentos e emoções das suas géneses, como se fosse algo novo, algo respirado pela primeira vez…
Rendido, fascinado pela sua sensibilidade e acerto na pontuação musical das pautas que trauteei pelo Oráculo. Sim, não falhou ou saltou uma singular nota. Tomou e executou a palavra em entendimento, na exactidão sentida do peregrino da vida.
Sonhador, ainda, com a sua ubíqua sinopse, que em poucas marés abarcou um grande mar.
Por isso, e por o muito que tudo isto é, abraço o seu cumprimento e movimento-me em vénia pelo seu cuidado e louvor. Parabéns a si, que tem o dom de olhar com atenção para um ignoto e por se interessar pela sua humana condição…

Bem haja,
Um beijo.
Jorge Pópulo

Donagata disse...

Fico realmente muito satisfeita por me aperceber que tão bem compreendi (depreendo-o das suas palavras)o seu interessantíssimo livro. Fico feliz,não porque eu entendi toda a sua beleza, a sua profundidade e o seu sentido mas porque fica demonstrado que é um livro lindo que qualquer um entenderá e gostará.
Quanto ao resto não tem qualquer motivo para se sentir honrado. Sou uma mera leitora (de muitos livros, é certo), que se limita apenas a escrever o que cada um lhe faz sentir. Este não foi dos mais fáceis de opinar dado o seu grande pendor poético e eu entendo que poesia não se comenta, sente-se. E, no que me diz respeito não a sinto sempre da mesma forma...
Quanto ao facto de me interessar por um "ignoto", palavras suas, devo dizer que têm sido alguns escritores absolutamente desconhecidos aqueles que me têm trazido as melhores surpresas. E condição humana é, tanto quanto eu saiba, a de todos nós.
Mais uma vez parabéns.
Tenho orgulho em o conhecer e em ter tido, casualmente, bem sei, a oportunidade de ler um pouco de si.

Um beijo grande para si e outro tão grande quanto o primeiro para a Fuego.
Aos pequenitos, eu darei quando os voltar a ver.

Donagata disse...

Mar arável. Embora ignoto, como o próprio autor se apelida, vale mesmo a pena. É uma obra linda.

Um beijo.

Anónimo disse...

Uma perguntita: já leu sinfonia em branco?

Donagata disse...

Não que me lembre. De quem é?

Anónimo disse...

Adriana Lisboa.
Estou a ler e a gostar imenso. Era só para saber.

Donagata disse...

Lá irei, Susana...

Anónimo disse...

:) Seja. Pelo menos depois poderemos partilhar sentimento!

Homem de Ferro disse...

Apenas para lhe deixar um beijo e desejar-lhe um excelente fim de semana !

Donagata disse...

Obrigada