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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"O amor quando se revela"


O amor, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar p’ra ela,

Mas não lhe sabe falar.


Quem quiser dizer o que sente

Não sabe o que há-de dizer.

Fala: parece que mente…

Cala: parece esquecer…


Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

P’ra sabe que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma, nem fala,

Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar…


Fernando Pessoa (1888 – 1935)

(Imagem: Rene Magritte "Les Amants" 1928)

3 comentários:

ruth ministro disse...

Absolutamente genial, mas outra coisa não se pode esperar de Pessoa.

Este poema é particularmente lindo, na minha opinião, porque traduz na perfeição o verdadeiro amor, aquele que é tão grande que não cabe na voz...

Mil beijinhos com muitas, muitas, muitas saudades!

Donagata disse...

Eu também o acho particularmente bom.
talvez por ser tão real no que diz e com uma estrutura magistral.

Anónimo disse...

Ola minha querida Sra Donagata :)
É na realidade uma Grande verdade !!!
Absolutamente Fantastico :) !...

Beijo , Anibal Borges .