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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

“Diário de um velho louco” de Junichiro Tanizaki


Foi o primeiro livro que li deste autor em relação ao qual tinha desenvolvido uma certa curiosidade devido a críticas que tinha lido, sobretudo brasileiras, uma vez que em Portugal tem ainda poucas obras editadas (julgo que três).

Por outro lado, tendo tido uma agradabilíssima surpresa quando descobri literariamente Haruki Murakami, pensei que a literatura japonesa poderia muito bem ser uma pérola por mim ignorada.

Ora o “Diário de um velho louco” é isso mesmo, um diário.

Utsuji, um homem com 77 anos, portador de um passado de amores vários e variados, de uma sexualidade activa, de gostos requintados que lhe são permitidos pela sua relativa riqueza, voluntarioso, teimoso, decide, em plena convalescença de um ataque cardíaco dar início à escrita de um diário.

À medida que vamos lendo as entradas do diário, vamos entrando num aparente quotidiano, morno, em que vamos sabendo da evolução da doença, dos remédios, das dores, do hospital, da família…

Contudo, quando nos damos conta, é através dessas coisas irrisórias, que vamos sendo levados a acompanhar um lado muito mais profundo e importante da sua vida; a sua sexualidade à medida que a sua degradação física vai progredindo.

Sem que na narrativa se encontre qualquer laivo de moralidade, é completamente amoral, vai-nos contando as formas como vai estimulando a sua sexualidade, de uma forma quase viciosa, através de uma paixão que desenvolve pela nora que vive em sua casa. Esta, por sua vez, ao permitir-lhe determinados pequenos prazeres, desenvolvendo determinados fetiches (aparentemente comuns na sua obra), vai alimentando essa sexualidade sem que permita avanços a que não está disposta. Faz-se pagar bem por isso. Cumpre o papel de um outro estereótipo do autor: a mulher que trata mal o homem, que o tortura, que permite a podolatria.

Fica-nos no entanto uma dúvida, ao ler os diários. Quem manipula quem?

É um romance brilhante sobre a inevitável decrepitude humana e a sua relação com a sexualidade.

História muito bem construída que nos mostra a velhice, a doença, a degradação, sem nunca condescender.

Uma forma de narrar a vida com elegância!

4 comentários:

Anónimo disse...

Ola Sra Donagata :)
É mesmo isso , o seu relato É de uma Elegancia tremenda , fiquei com vontade de ler o livro !...
Mais uma vez o meu muito Obrigado pelo seu conselho :) !

Beijo , Anibal Borges .

Donagata disse...

Não são conselhos, são opiniões. Mas acho interessante a forma como o autor aborda um tema que, geralmente, é tabu.

Um beijo.

BlueVelvet disse...

Vim só avisar-te que tens um Desafio no meu blog.
Espero que aceites.
Passo depois para te comentar.
Beijinhos

wallper.lima disse...

Ler é descobrir o mundo, e faz bem a alma.
Bjs.
Wal.