(Imagem de : Imán Maleki)
Claro que não podia deixar passar este dia sem aqui colocar algumas das muitas poesias dos muitos poetas que me agradam.
A dificuldade consistiu apenas na selecção. Mas, afinal, como gosto de todas...
Aqui vão apenas algumas.
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
Barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
São como um cristal,
as palavras.
Algumas um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
Barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Este amor desarrumado
de olhos, beijos e cama,
jornais silêncios e drama,
filhos, quadros e comida,
encontros cinzas e vida,
não seria mais amado
se pintado e organizado
em contas, perdas e danos,
meu amor de tantos anos.
Maria Sofia Magalhães em “A luz que se esconde”
de olhos, beijos e cama,
jornais silêncios e drama,
filhos, quadros e comida,
encontros cinzas e vida,
não seria mais amado
se pintado e organizado
em contas, perdas e danos,
meu amor de tantos anos.
Maria Sofia Magalhães em “A luz que se esconde”
O Teu Riso
Tira-me o pão , se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Pablo Neruda em “Os Versos do Capitão”, tradução de Albano Martins
Tira-me o pão , se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Pablo Neruda em “Os Versos do Capitão”, tradução de Albano Martins
E, inevitavelmente...
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Fernando Pessoa
6 comentários:
Óptima escolha! Passei por aqui para lhe desejar a si tal como a toda a família, votos de uma Páscoa Feliz.
Beijo
Obrigada. Acabei agora de passar pelo seu cantinho onde deixei um extenso comentário.
Um beijo.
Dona Gata, obrigada por tão honrosa companhia. Boa Páscoa!
Que belas escolhas poéticas para celebrar este dia. Todos estes autores são do meu maior agrado. Muito obrigada pelas palavras na minha nuvem, fiquei muito enternecida... Não mereço tanto.
Mil beijinhos e uma Doce Páscoa.
Embora com frio e chuva, desejo-lhe uma Páscoa serena.
Muito obrigada a todas. Uma Páscoa muito feliz para vocês também.
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