Como pessoa ligada desde sempre à educação, não pude ficar indiferente ao ranking, divulgado ontem, das escolas que obtiveram melhores resultados nos exames do 12º ano em 2007.Como já vem sendo habitual, há uma prevalência, ao nível dos primeiros lugares, do ensino privado em detrimento do público. Neste ano, por exemplo, nas primeiras dez, oito são particulares; cinco dessas oito são confessionárias e de orientação católica, três ligadas à Opus Dei...
Claro que, se em vez de considerarmos as primeiras dez considerarmos as primeiras cinquenta, as diferenças aparecem muito mais esbatidas pois aí já se encontram vinte e nove oficiais e as restantes é que são privadas. Portanto uma proporção muito diferente da anterior e que vai continuando a modificar-se à medida que se alarga o número de escolas observadas.
É também interessante referir que a diferença entre a média ponderada (a que entra em linha de conta não só com as notas mas também com o número de alunos que realizaram o teste, na minha perspectiva a única correcta e significativa) nas escolas privadas e nas públicas é apenas de 18 centésimas considerando as oito disciplinas com maior número de alunos inscritos.
Sempre tive uma certa aversão a estes rankings que, na minha opinião, servem para pouco mais do que enaltecer e elevar escolas que, na maioria dos casos, têm como maior mérito a qualidade de alunos que as frequenta à partida, ou seja perpetuar o privilégio. Senão vejamos:
Na maior parte destas escolas privadas, das tais que se encontram entre as primeiras dez, as mensalidades para lá manter um aluno, rondam entre os 400 e os 450 euros logo aí e não é necessário um grande esforço de inteligência ou de imaginação, percebemos que a selecção é grande. Famílias que podem dispor entre 4400 a 5000 euros por ano para a educação de cada filho são, normalmente famílias de condição sócio-económica e cultural privilegiada, ou não??
Por outro lado, essas escolas privadas têm o privilégio de poderem escolher os alunos que admitem (e fazem-no, posso dizê-lo com conhecimento de causa).
Quando os alunos não seguem as regras que são impostas pela escola, também aí, esta pode, simplesmente, "convidá-los a escolher" outro local para prosseguirem a sua escolaridade...
E na escola pública como é?
Pois é, a escola pública tem de assegurar o direito que TODOS os alunos têm à educação. São estas que recebem a grande massa heterogénea de alunos (não há lugar a qualquer tipo de selecção. Mesmo até em questões disciplinares por vezes bem graves, é dificil aconselhar o aluno a mudar de ambiente) e que, portanto, têm de organizar os seus Projectos Educativos de forma a poder dar resposta a todos seja qual for o seu nível(!!!)
Tem necessariamente de ser uma escola mais humanizada e consciente das diferenças o que por vezes se torna difícil dado o normalmente muito elevado número de alunos por turma.
Não sou contra a existência de escolas privadas, longe disso, sobretudo se forem de qualidade.
Todavia acho abusivo e de questionável bom senso classificar as privadas como melhores que as públicas pois as primeiras lidam, por sistema, com um mundo inquestionavelmente elitista a todos os níveis ao contrário das segundas que têm de receber e dar resposta a todos.
Atenção, não digo, nem defendo, que neglicenciemos os dados! Longe disso. Estes deverão servir, após uma análise criteriosa, para uma reflexão séria no sentido não de justificar as falhas mas de intervir para melhorar.
É preciso que não esqueçamos nunca que é o ensino público, melhor ou pior (esperemos que sempre melhor), o garante da igualdade de oportunidades. É portanto aí que é necessário centrar o investimento, a todos os níveis, para que possa melhorar. Só assim poderemos ter a pretensão de melhorar o nível das novas gerações de portugueses.
Claro que, se em vez de considerarmos as primeiras dez considerarmos as primeiras cinquenta, as diferenças aparecem muito mais esbatidas pois aí já se encontram vinte e nove oficiais e as restantes é que são privadas. Portanto uma proporção muito diferente da anterior e que vai continuando a modificar-se à medida que se alarga o número de escolas observadas.
É também interessante referir que a diferença entre a média ponderada (a que entra em linha de conta não só com as notas mas também com o número de alunos que realizaram o teste, na minha perspectiva a única correcta e significativa) nas escolas privadas e nas públicas é apenas de 18 centésimas considerando as oito disciplinas com maior número de alunos inscritos.
Sempre tive uma certa aversão a estes rankings que, na minha opinião, servem para pouco mais do que enaltecer e elevar escolas que, na maioria dos casos, têm como maior mérito a qualidade de alunos que as frequenta à partida, ou seja perpetuar o privilégio. Senão vejamos:
Na maior parte destas escolas privadas, das tais que se encontram entre as primeiras dez, as mensalidades para lá manter um aluno, rondam entre os 400 e os 450 euros logo aí e não é necessário um grande esforço de inteligência ou de imaginação, percebemos que a selecção é grande. Famílias que podem dispor entre 4400 a 5000 euros por ano para a educação de cada filho são, normalmente famílias de condição sócio-económica e cultural privilegiada, ou não??
Por outro lado, essas escolas privadas têm o privilégio de poderem escolher os alunos que admitem (e fazem-no, posso dizê-lo com conhecimento de causa).
Quando os alunos não seguem as regras que são impostas pela escola, também aí, esta pode, simplesmente, "convidá-los a escolher" outro local para prosseguirem a sua escolaridade...
E na escola pública como é?
Pois é, a escola pública tem de assegurar o direito que TODOS os alunos têm à educação. São estas que recebem a grande massa heterogénea de alunos (não há lugar a qualquer tipo de selecção. Mesmo até em questões disciplinares por vezes bem graves, é dificil aconselhar o aluno a mudar de ambiente) e que, portanto, têm de organizar os seus Projectos Educativos de forma a poder dar resposta a todos seja qual for o seu nível(!!!)
Tem necessariamente de ser uma escola mais humanizada e consciente das diferenças o que por vezes se torna difícil dado o normalmente muito elevado número de alunos por turma.
Não sou contra a existência de escolas privadas, longe disso, sobretudo se forem de qualidade.
Todavia acho abusivo e de questionável bom senso classificar as privadas como melhores que as públicas pois as primeiras lidam, por sistema, com um mundo inquestionavelmente elitista a todos os níveis ao contrário das segundas que têm de receber e dar resposta a todos.
Atenção, não digo, nem defendo, que neglicenciemos os dados! Longe disso. Estes deverão servir, após uma análise criteriosa, para uma reflexão séria no sentido não de justificar as falhas mas de intervir para melhorar.
É preciso que não esqueçamos nunca que é o ensino público, melhor ou pior (esperemos que sempre melhor), o garante da igualdade de oportunidades. É portanto aí que é necessário centrar o investimento, a todos os níveis, para que possa melhorar. Só assim poderemos ter a pretensão de melhorar o nível das novas gerações de portugueses.
Imagem: Alunos em exame nacional, Portugal Diário
1 comentário:
De facto, esta é uma análise que considero muito correcta. Os rankings só têm interesse se se explicar exactamente como foram feitos e com que dados se joga. De resto, todos nós podemos avaliar os dados e fazer os nossos próprios rankings. As escolas privadas estão entre os 10 primeiros e os 10 últimos lugares. É claro que as escolas privadas escolhem os seus alunos, sendo estes já escolhidos de entre os que têm maior poder económico. Mais uma vez de acordo com o que dizes: a escola pública, de qualidade, é a única que pode propiciar igualdade de oportunidades a todos.
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