Páginas

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Siddhartha" de Hermann Hesse


Havia lido este livro há já muitos anos quando, ainda na minha pré- adolescência, senti curiosidade em conhecer religiões diversas e, sobretudo, outros modelos de pensamento, outras formas de encarar a Vida que se me afigurassem mais lógicas. Enfim, exemplos em que a existência fosse encarada de forma menos dogmática, menos rígida embora, achava eu na altura, espiritualizada.

Já nesse tempo, e já passaram muitos anos, achei o livro interessante de ler, simples, mas não me deixou grande marca. Provavelmente porque na época li livros muito mais fortes no que diz respeito quer aos temas quer à sua abordagem relegando assim este para um cantinho um tanto esconso da memória.

Por isso mesmo, e dado que o nome do livro surgiu várias vezes em vários contextos num curto espaço de tempo, decidi que estaria na altura de o reler e de, provavelmente, melhor usufruir da sua leitura.

Devo confessar que, em termos de opinião geral, mantive aquela com que tinha ficado, contudo, descobri aspectos quer ao nível da forma, quer do conteúdo, que na altura me tinham escapado por falta de maturidade e de capacidade para os compreender.

Apreciei o estilo simples, algo lírico, porém forte na sua simplicidade com que Hermann Hesse nos vai descrevendo a empresa de Siddhartha, filho de um Brâmane, que sai de casa de seu pai empreendendo um longo e difícil caminho, em busca do conhecimento; da compreensão da vida.

Passa-se no século VI aC pelo que este Siddharta é contemporâneo do outro, o Gautama, o Buda com quem se encontra e aprende ainda algumas doutrinas que o não satisfazem.

No fundo, é esta a minha interpretação, o percurso de Siddhartha (“aquele que atingiu os seus objectivos” ou “o que conseguiu todos os seus desejos”) pretende demonstrar que o conhecimento se atinge, não através dos processos escolásticos, não através de atitudes meramente introspectivas em que tudo depende da mente, não através dos prazeres mundanos e carnais, não através do exílio, do ascetismo, do sofrimento.

É a totalidade de todas essas vivências, o somatório dos conhecimentos e das experiências vividas em todas as situações que fazem com que Siddhartha atinja o conhecimento verdadeiro e não necessite de continuar a sua demanda.

Ora isto poderá ser um ensinamento precioso para todos nós. Só nos conhecemos verdadeira e inteiramente, quando nos é dada a oportunidade de percorrermos vários caminhos, de recuar, de avançar em direcções diversas, de errar, de compor…

Interessante de ler. O autor foi Prémio Nobel da literatura em 1946!

5 comentários:

Alda M. Maia disse...

Já há muito, muito tempo que li Siddharta. Lendo este seu artigo, procurei o livro para o reler, mas isto está para aqui uma confusão, que me foi impossível encontrá-lo! Necessitarei de um mês para pôr um mínimo de ordem neste caos… quando para isso tiver disposição.
Ficou-me na memória, se esta não me atraiçoa, uma imagem que achei linda e sugestiva: quando Siddharta se sentava nas margens do rio a fim de ouvir o que o rio dizia. Estarei errada ou pertencerá a outra obra de Hermann Hess?
Um beijinho
Alda

Donagata disse...

Não está errada, não. É uma das minhas partes favoritas; aquela em que se junta a um barqueiro e os dois evoluem no seu conhecimento ouvindo a voz do rio. É belíssima essa parte.

Um beijo.

antonio ganhão disse...

Muito bem, espero ter contribuido para esta (re)leitura. O caminho faz-se superando o mestre, mesmo que esse mestre sejamos nós...

Donagata disse...

Claro que foi uma das razões pelas quais resolvi reler o livro. Fez-me recordá-lo.
Um beijo

fairybondage disse...

Li este livro muito recentemente!!! Gostei imenso, fez-me viajar...

Mil beijinhos