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sábado, 30 de agosto de 2008

Reforcemos a redundância!


Este texto que vou postar é apenas um jogo de palavras do tipo dos que costumava fazer com os meus alunos com vista a interiorizarem, de forma agradável, um conceito (neste caso específico seria a noção de pleonasmo), ao mesmo tempo que iam treinando as suas capacidades de escrita (aqui seria a poesia, utilizando quadras com rima cruzada ou alternada).

Tratava-se, normalmente, de trabalho de grupo e eu funcionava como orientadora, tira-dúvidas, indicadora de fontes…

Este não resultou de trabalho com alunos (não me recordo de ter alguma vez trabalhado com eles o pleonasmo, ou redundância). É, meramente, um exemplo.


Reforcemos a redundância!

Vou falar do pleonasmo! Ou melhor, da redundância.

Segundo uns, os letrados, e se usado com esmero,

é um truque de linguagem, conferindo até elegância.

Segundo outros, é exagero, vício de forma, tosco erro.


Vejamos então melhor o que vos quero dizer:

Se vejo pequenos detalhes que me causam confusão

Se exulto de alegria, ou de antemão estou a prever:

é vício, é erro, está mal. Só provoca agitação!


Se me repito de novo, se te encaro cara a cara,

se tenho um segredo secreto que é o elo de ligação

entre um facto verídico e um sonho que sonhara:

está errado, viciado, superabundante. Assim, não!


Agora se junto tudo e arrumar arrumadinho,

enquanto com estes olhos, vejo o dia a amanhecer.

Se continuo a tentar, escrever bem escritinho,

enquanto do céu azul, desliza a chuva a chover.


Se além disso este poema, a mim me parecer gracioso,

é porque usei redundâncias, das aceites, das literárias.

Então, só me resta a mim sorrir, um sorriso radioso

e agradecer a inspiração, que surde, extraordinária!


Meus amigos e leitores, é o meu critério pessoal,

e falo cá para fora com a mais franca convicção:

tendes aqui poetisa, de estro fenomenal,

tais são os ardis de escrita (se não for outra a razão)!


Legendas: com esta cor estão assinalados os pleonasmos “viciosos” (esta classificação é sempre relativa…).

Com esta assinalei os aceitáveis ou mesmo aqueles que constituem reconhecidamente recursos estilísticos (também relativa esta divisão. As “divisões” servem apenas como indicativo).

6 comentários:

Anónimo disse...

Caramba! Costou-me a perceber isto, mas cheguei lá! É o que importa, não é? Ehehe! depois ri-me de mim!
Está muito giro. Gostei muito!

Donagata disse...

Não é propriamente um poema inflamado, mas dá para entender o que é e como se pode usar ou não esta figura de estilo.
É muito giro trabalhar neste sistema.
Talvez evite alguns problemas daqueles com que se debate. Aliás, esta demonstração, foi inspirada pelo seu post.

Anónimo disse...

Eu inspirei!

A única coisa que posso dizer em minha defesa é que, mesmo na faculdade, não deixo um alunos dizer um "disparate" sem lhe ensinar a correcção. Faço-o brincando. Rimo-nos em conjunto. E eles aprendem (ou relembram)!
Um exemplo, o erro de concordância em número:
"As bananas é amarela"
"A maça são verdes"
Percebem logo!

Não tem a pinta de um poema, mas é um esforço!

Donagata disse...

E é um esforço que já não deveria ser necessário a esse nível, não é?

Anónimo disse...

É, mas as coisas são como são. Não podemos é deixá-las passar, se ainda formos a tempo de fazer qualquer coisa. Eu queixo-me bastante, mas também tento remar contra a maré. Sou uma chata, a verdadeira chata!

Donagata disse...

Se houvesse muitas destas chatas...
Bom, talvez as coisas estivessem um pouco melhor!