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sábado, 15 de agosto de 2009

Passeio de Sábado



Hoje o dia amanheceu excelente e logo pensámos ir à praia.

São tão poucos os dias que o podemos fazer…

Mas, foi aí que me lembrei que o “Gatão”, no domingo passado, tinha-se descuidado a ler o jornal ao sol e tinha apanhado o escaldão da sua vida.

E agora parece uma serpente na época da troca de pele; escama por todos os lados. Ora, como o novo revestimento é ainda muito mimosinho e, em alguns locais, ainda se mantém a pele queimada que já perdeu a tonalidade de “presunto de Lamego” (curado com muito colorau) mas ainda se mantém encarniçada quanto baste, resolvemos pôr em prática um plano de contingência e rumarmos ao topo norte de Portugal, à belíssima localidade de Vila Nova de Cerveira, ou apenas Cerveira como também é conhecida. Estaríamos perto da praia, poderíamos olhar para ela se quiséssemos mas também podíamos não o fazer e contentarmo-nos com ir à feira (hoje era o dia da grande feira de Cerveira que mobiliza resmas de forasteiros que aqui chegam de carro, de camioneta e sei lá de que outras formas) e admirar, extasiados, o belíssimo rio Minho.


É claro que a primeira impressão que temos é que chegámos à Galiza tal é o número de “nuestros hermanos” que por lá deambulam. Devo-vos dizer que a dada altura já perguntava preços em gallego assim como pedia desculpa e agradecia na mesma língua. Quando não se pode vencer o inimigo (salvo seja, que até me gustam los gallegos…), já diz o ditado, o melhor é juntarmo-nos a ele…


Em boa verdade, é mais ou menos o inverso do que acontece quando chegamos em Agosto a S. Xenxo, por exemplo, parece que estamos em Portugal. Mal pomos o pé fora do hotel encontrámos logo os vizinhos, os amigos, os colegas de trabalho… Enfim, um ambiente deveras familiar. E português, é sem margem para dúvida, a língua dominante o que, convenhamos, não acontece numa parte do nosso país no mesmo período…


Mas regressemos a Cerveira. Vale a pena. O dia foi de intenso calor. Mesmo assim nada me impediu de ir à feira, como já disse, e apreciar embevecida as inúmeras barracas de malas e carteiras, pólos, perfumes, óculos Gucci, Prada, C.K. , David Jones, Burberry and so on, and so on…

Em suma, o sonho de qualquer gata que se preze. Gata com pedigree, claro. Assim ao estilo pseudo-intelectual da linha (já fui elogiada desta forma, aqui).


Bem, mas regressemos a Cerveira essa belíssima Vila que merece ser citada por muito mais do que pela sua feira.


À medida que nos vamos aproximando apesar de ainda algo distantes, podemos avistar, no cimo de uma colina denominada de Alto do Crasto, uma enorme escultura do Cervo, da autoria do escultor José Rodrigues.

Nesse local existiu nos finais do século XI, quando da autonomização do Condado Portucalense, um castelo que servia como protecção fronteiriça das terras de Cerveira. Não esquecer a importância que o rio Minho passou a ter como fronteira natural e, consequentemente, as necessidades da sua defesa. Neste caso, a maior parte das vezes, das investidas dos galegos mas também dos mouros e dos normandos.


Mais tarde, em 1297, 157 anos depois do reconhecimento de Portugal como nação independente, D. Dinis e D. Fernando IV de Castela assinam o Tratado de Alcanices, que vem pôr fim aos confrontos com Castela e delineiam, finalmente, a fronteira entre os dois reinos. Este tratado de paz, uma vez que estabeleceu a fronteira no Minho, tornou mais do que nunca imprescindível a sua fortificação. Assistiu-se, a partir deste momento a um renovado esforço de repovoamento da região.

Assim surgiu a “Vila Nova” de Cerveira com a atribuição da Carta de Foral por D. Dinis, corria o ano de 1321, e a construção de um novo castelo, destinado a proteger a vila em desenvolvimento.

Deste castelo são ainda hoje, bem evidentes os vestígios.


Mais tarde, no século XVIII e ainda com as guerras da Restauração, procedeu-se a um reforço das fortificações já existentes, medievais. Foi construída uma fortaleza que envolveu a vila apoiada por outros dois pontos fortificados: a Atalaia do Alto do Lourido, e o Forte de Lovelhe.

De tudo isto podemos ver vestígios bastante bem conservados.


Além disso, a presença humana neste local remonta à pré-história havendo diversos vestígios, de grande importância para o estudo da pré e da proto- História em terras do norte de Portugal. Entre os vários elementos detectados, merece destaque o tesouro da sepultura da Quinta de Água Branca, cujo espólio está integrado no Museu Nacional de Arqueologia.


A grande expansão demográfica que está na base do povoamento actual deu-se com a multiplicação do número de castros, já sob uma forte influência da romanização.


Bom, mas chega de paleio histórico. Quem gosta, aproveite o verdadeiro manancial que a região nos oferece. Quem passa bem sem andar a espreitar calhaus e, além disso, não é coscuvilheiro suficiente para andar a investigar a vida dos outros, antepassados ou não, tem sempre a feira, um must, e a beleza natural da região. Isto já para não falar na excelente gastronomia que podemos (os que podem) saborear.

Local a não perder.

2 comentários:

wallper.lima disse...

Mto bom esse passeio!Fiquei com água na boca! Brincadeiriiiinha é claro...mas digo pela maravilha de lugar e pela beleza histórica! Parabéns pela narração...e fico a imaginar a comida maravilhosa de vcs!
Bjos.
Wal.

Donagata disse...

Pois. E o melhor mesmo é ficarmos pela imaginação. Pois é cada pedaço de mau caminho!!!!

Beijos.