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terça-feira, 4 de agosto de 2009

“Barroco Tropical” de José Eduardo Agualusa

Livro que comprei logo que pude e, tal como alguns que já referi, teve o privilégio de “saltar” para a frente da fila dos que aguardam a sua vez para serem lidos.

E se valeu a pena!

José Eduardo Agualusa, desenvolve neste seu livro, com invulgar talento mesmo para quem conhece um pouco da sua obra, uma história fantástica.

Fantástica pelo seu enredo que não é bem um enredo mas sim um conjunto de pequenas histórias, algumas de natureza étnica e tradicional, que suportam e estruturam a história “maior”. Fantástica pelo recurso ao fantástico, ao onírico, ao esoterismo, a anjos negros…

Tudo se vai passando numa Luanda do ano 2020. Mas ao lermos, vamos ficando com a ideia que é da Luanda de hoje que se trata, ou um decalque desta; anárquica, contraditória, corrupta, terra de contrastes e de paradoxos, onde coexistem o sonho e o desesperança com a mais despudorada realidade. A Luanda que todos julgamos saber (falta de confiança do autor?).

Utiliza uma escrita simples se bem que, por vezes, utiliza recursos linguísticos “barrocos” como a antítese, o oximoro, a hipérbole e a metáfora. Mas, quando o faz, quase sempre utiliza um parêntesis justificativo, como autor. Aliás utiliza parêntesis explicativo em várias situações e com funções diversas. Um recurso deveras interessante.

As personagens são várias e variadas e são-nos apresentadas uma a uma no início com a respectiva importância na história.

Todas extremamente bem caracterizadas, sobretudo as de maior relevância para o desenvolvimento e desfecho da narrativa. E temos modelos, prostitutas, cantoras, pessoas sem rosto que usam uma máscara, ministros, militares, curandeiros de grande influência e um escritor (quiçá um pouco o alter-ego de Agualusa?) que é ao mesmo tempo a personagem principal e o narrador. Esta segunda função partilha-a em parte com a outra personagem mais destacada, esta feminina, quando nos vão narrando os acontecimentos à vez, cada um em seu capítulo, que dão corpo à história.

É um livro que nos vicia e não queremos largar.

Excelentemente escrito. É espantosa a forma como nos conduz de um episódio francamente humorístico e ligeiro a outro de pendor profundamente dramático.

Obra excessiva que não fez mais do que confirmar Agualusa como um dos meus (muitos, é verdade) autores favoritos de língua portuguesa.


9 comentários:

Anónimo disse...

Ó gatinha: eu já não sei para onde me hei-de virar. de cada vez que leio uma crítica sua fico com vontade de ler o livro!

Donagata disse...

E pode ler. São todos de fácil leitura e daqueles que quando se pega não se tem vontade de pousar.
Se quiser, é só dizer. Eu empresto.

Anónimo disse...

É uma querida. Eu até podia ler mais. Perco uns tempinhos com os Blogs, mas também leio coisas giras e vou escrvendo, para não perder o jeito - ou a falta dele :))

Donagata disse...

Claro. Para mim ler é imprescindível, faz-me bem, faz-me voar, largar a vidinha e viver vidas espantosas, mágicas...
Contudo, não prescindo do blogue, do Facebook, das idas ao café com amigas... Enfim, tudo faz parte e tudo nos ajuda nesse precário equilíbrio que somos nós.

Beijos.

pin gente disse...

a tua biblioteca deve ser fantástica, donagata!
beijos

Donagata disse...

É ajeitadita...

Anónimo disse...

Olá dona gatita!
Estou com este barroco nas mãos, mas não me está a cair em mim como lhe caiu a si. Será pelo facto de ter passado a "Terra sonâmbula" para este? O Agualusa tem-me mordiscado os calcanhares em algumas passagens do livro. Acho que embirrei um bocadinho com ele... Mas estou longe de largar o livro. Não por vício... Vou acabar e logo farei um juizo final.
Bj

Donagata disse...

Não conheço "Terra Sonâmbula" por isso não me posso pronunciar em relação à eventual causa de não estar a entrar bem neste. eu gostei muito. Mas, devo dizer que não acho Agualusa fácil embora eu goste. Além disso, não temos que gostar todos do mesmo, não é verdade?
Eu, por acaso, gosto de quase tudo mas isso é porque o que eu gosto é de ler. Claro que há aqui um certo exagero mas, na verdade, sou muito ecléctica quer nos géneros quer nos autores...Embora crítica como certamente já entendeu.

Anónimo disse...

Ora a piada está exactamente em não gostarmos todos do mesmo. A não ser assim, de nada servia a troca de opiniões, seria mais uma troca de confirmações. Um tédio, imagine-se! Vou fazer o post dos meus livros das férias. 'Té já!