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quinta-feira, 23 de julho de 2009

No Centro de Saúde


Subo as escadas até ao segundo andar e coloco-me na fila de pessoas que aguardam para serem atendidas pela parte administrativa. Essa que lhes atribuirá a vez pela qual terão que aguardar, novamente.

Enquanto espero olho em redor a sala que se estende para o meu lado direito. Cinco fiadas de cadeiras plásticas, em dois tons de laranja, observam, elas próprias curiosas, a pessoa que lhes irá calhar.
Algumas, poucas, estão já ocupadas por gente de rostos anónimos, inexpressivos, velhos não importa a idade.

Também a mim me atendem e me dão uma vez. Também eu me sinto inexpressiva, anónima e velha apesar da idade.

Escolho a cadeira mais retirada de todas e também aquela que menor campo de visão me dará.
Não quero olhar.
Não quero ver aquelas pessoas com a dor, o desânimo, o desgaste,ou mesmo o nada estampado nos seus rostos.

Pego no livro e preparo-me para algumas horas de leitura. E não adianta impacientar-me. Será assim, para mim e para os outros.
Só que, reparo, nenhum dos outros tem um livro para se alhear…

Passou algum tempo. Não sei quanto, estava a viver outras vidas, quando ouço o que me pareceu o início de uma altercação.
Já tardava! Tanta gente, impaciente, aguardando! Era inevitável. Não entendi bem, ouvi apenas fragmentos e não logo do início mas, aparentemente, alguém se queixava da “pouca-vergonha” que aquilo era: ora então não é que” o …… Sr. Dr. Gastou uma hora menos dez minutos, contadinha aqui pelo meu relógio que me deu o falecido, com o último doente?! Assim não saímos daqui nem amanhã! É um quarto de hora e já é muito! Vão-se p’ra lá com queixinhas!!!”

A conversa continuou. Eu regressei às aventuras do livro, muito mais interessantes, se bem que fraquinhas, não sem que antes tivesse tido tempo de matutar cá para comigo:
- Mas afinal as pessoas que estão aqui para ir ao médico têm tempo por medida? Não é mesmo para se queixarem que lá vão? Se não é, que estão aqui a fazer?

Três horas e meia depois de ter chegado, lá fui chamada para o meu quarto de hora de “queixas”.
Enfim, entrei lamentando não ter organizado uma lista de questões a pôr, para agilizar a consulta e esperando não dar com um médico muito desvelado no seu papel.
É que, de modo nenhum, queria tornar ainda mais penoso o tempo que os que ainda não tinham entrado e que não tinham um livro, iriam passar…

5 comentários:

Anónimo disse...

E retiramos daqui que... ler... :(

Donagata disse...

Várias coisas. A saber: os C.S. são uma seca, as pessoas que lá vão nem sempre vão para serem consultadas, aparentemente, e, o melhor, é mesmo ler alheando-se assim daquelas conversas esdrúxulas que não levam a lado nenhum e só incomodam.
Ah! E muito importante. Aquele (e refiro-me especificamente àquele, não conheço outro)pessoal administrativo é excelente e tem cá uma paciência...

Anónimo disse...

Especialmente com os velhinhos. Confesso que evito ao máximo os CS, porque fico muito alterada. A última vez que fui a um, com a XX, acabei a escrever no livro amarelo.

Donagata disse...

Eu, por acaso, também escrevi. Mas um louvor.

Anónimo disse...

O meu garanto que não foi louvor. Devo ter azar...