Páginas

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Almoço na escola


Cheguei.

Já a sala estava submersa sob aquela imensa quantidade de pessoas que falava, falava, falava…

Falavam alto. Todas ao mesmo tempo. Todas, creio, com inflexões de alegria na voz embora se notassem, de onde em onde, uns laivos de cansaço à mistura. Tinha acabado mais uma daquelas intensas reuniões…

Parei ainda do lado de fora. E, de repente, achei que não ia entrar. Que não pertencia àquele quadro. Que não era dali.

Parecia que nada do que via me dizia respeito, nem nunca dissera.

Interroguei-me, surpreendida, em relação ao que fazia ali, eu, assim, desligada, abatida, triste, cansada.

Será que sou aquela que estas pessoas querem ver, esperam ver, estranharão se não virem? Será que consigo erguer um pouquinho o canto do lado direito do lábio, dar um jeitinho e elevar o cantinho esquerdo? Pronto. E agora procuro iluminar os meus olhos de gata, respiro fundo, e entro.

Entro já vestida na minha pele. Já ninguém me estranha porque mesmo eu me convenço que sou mesmo eu.

Ao fundo, diviso um rosto amigo que levanta, de facto, um pouco o véu da tristeza que hoje sinto. Depois, mesmo a meu lado, alguém que me abraça com carinho. E o calor desse abraço derrete um pouco mais esse véu escuro que me entorpecia.

Vislumbro outro rosto, mais outro e ainda outro, daqueles que estão cá dentro gravados para sempre, naquele lugar especial que nos acalenta quando temos necessidade desse calor.

E, lenta mas definitivamente, assumo a certeza de que estou a desempenhar um papel que me pertence por direito num lugar que eu, também por direito, ajudei a edificar.

E o almoço foi um sucesso!

E eu consegui sentir-me feliz ao sentir o conforto indescritível da amizade.

6 comentários:

O blog da tia...inha disse...

Olá.Aqui vai o meu comentário para uma gata simpática que não sabe mostrar as garras e veste-se de uma pele onde só tranparece alegria e boa disposição.
E claro que podes ter a certeza que esse lugar te pertence agora e sempre.
Beijinhosssssssssssssss
AH e tb já "postei" no meu blog.

Donagata disse...

Vou cuscar...

wallper.lima disse...

Oi Donagata! Adorei o que li, palavras que vieram do fundinho do coração...mto linnnnndo! Poder abrir o peito sem rodeios, se colocar pequenina do jeitinho que a gente se sente quando se está triste, e não ter vergonha de dizer, que se confunde e se estranha, e que sente dúvidas de quem realmente vc é...
Adorei quando diz:
- "entro já vestida na minha pele"-
puxa vida, que linda expressão! É como se estivesse despida de sí mesma, perdida...e de repente tdo se transforma... aquilo que vc deixou de ser, passou a ser novamente - Você!
Bjos na alma e deixe a alegria entrar!
Wal.

Donagata disse...

Obrigada Waléria. Mas é verdade que todos nós, por vezes, temos momentos dúbios. E, de repente, nada faz sentido. Até, logo a seguir, tudo se encaixar novamente.

Beijos.

ruth ministro disse...

E quem tem a sorte de a ter como amiga, deve mesmo cativá-la. Gosto muito, muito dessa citação, aliás, gosto muito d´O Principezinho.

Beijinhos

Donagata disse...

Eu também, agora. Não gostei muito quando li, em criança...
É que eu não o considero um livro infantil!
Beijos.