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domingo, 12 de julho de 2009

Foguetes! Porquê?


Os foguetes estrondeiam sem parar há várias horas.

Saúdam (nunca entendi essa forma de saudar), a Senhora do Bom Despacho que se passeia pelas ruas da cidade e se mostra, na sua magnificência, do alto do seu andor, às populações que a seguem sedentas.

Ávidas das suas graças (concedidas ou a conceder); ávidas de curiosidade perante o fausto do seu andor; ávidas de tudo o que possa tornar diferente os seus dias, todos tão iguais; ávidas de algo em que possam acreditar, de uma centelha de esperança que lhes torne mais leve o fardo das suas vidas… Que as desobrigue dos seus fracassos, das suas tristezas, da escuridão dos seus dias.

E é essa imagem, de barro, oca, pintada de cores suaves, de aspecto doce, alcandorada no andor que rescende a lírios e às outras flores que o enfeitam, que galvaniza uma mole de gente que se emociona quando ela passa…

E Ela passa, lentamente, deixando temporariamente a sua casa, para se exibir aos fiéis que a aguardam com confiança (?).

As bandas seguem-na prestando-lhe a homenagem sonora que lhe é devida, tocando à porfia. E a Senhora, essa mantém-se sorridente mas não muito, enigmática, qual “Mona Lisa” que não se desvenda.

Chegada em frente ao edifício da Câmara são os Bombeiros que lhe prestam a maior veneração.

Quadro emocionante: enquanto a Senhora passa, todos os carros da corporação que ali se encontram estacionados fazem soar as sua sirenes e, a escada “Mágirus” elevada até ao seu limite, exibe uns quantos soldados da paz que, em muda continência, prestam o seu preito à sua protectora.

Vêem-se lágrimas em alguns olhos desses homens duros porém tão sensíveis! Sensibilidade que põem ao serviço de todos nós, sem contrapartidas, sem remunerações chorudas e, muitas vezes, sem qualquer reconhecimento. E por vezes tão perto da morte!

Esses, os verdadeiros heróis aqui. Os verdadeiros merecedores de homenagem e agradecimento, humildes e respeitosos perante a imagem que passa…

Terminada a volta, a imagem regressa serena para mais um ano de descanso no alto do seu dourado pedestal, de onde vigia e atende quem a visita, dizem…

E misturada com toda esta fé, ouve-se, ao fundo, a música dos carrosséis, dos vendedores de discos pirateados, das vendas de feira e, claro, os infindáveis morteiros.

Ainda à mistura com a crença, sente-se a pungência do cheiro gorduroso das farturas, dos recém- importados churros, do algodão doce de várias cores, das pipocas, das bifanas que me fazem torcer o nariz, agoniada, mas à Senhora não…

Enfim. Uma verdadeira romaria aqui, perto de mim.

E eu tão céptica! E um grito rebelde que se forma aqui bem fundo no meu peito e teima em sair! E eu que inspiro fundo e não deixo…

Nota: Sobre as origens da romaria e a sua história pode consultar aqui.

4 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Aqui, dá-se o mesmo com a Bandeira do Espírito Santo: de casa em casa vai chegando a visita, entra em todos os aposentos, dá uma voltinha e segue seu caminho. Realmente não sei o que querem com isso. Mas imagino que deva ser para deixar ‘bons fluídos...’ Pessoalmente tenho outra visão da coisa.

Quanto aos bombeiros, estes valerão uma crônica; é única ‘corporações militar’ que vejo com gratidão e carinho.

Beijos mil, cá do Brasil!
Tais luso

Donagata disse...

Pois. A verdade é que eu também tenho outra visão da coisa...

Em relação aos bombeiros, inteiramente de acordo.

Beijos.

mdsol disse...

Mau mesmo são os foguetes em exagero. Mas, dizem que fazem parte....
:)))

Donagata disse...

Pois fazem. E o fogo de artifício que, apesar de tudo, tem um objectivo lúdico, artístico até, ainda entendo. Agora aquelas quantidades infindáveis de morteiros que, há longos anos se destinavam a chamar as populações....
Haja dó! Numa era em que até os meninos de 6 anos vão para a escola com telemóvel?!!!
Depois, também fazem parte os incêndios, os acidentes pontuais, o estilhaçar dos nervos das pessoas,etc...
Beijos.