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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

EU, COBAIA (Capítulo VI)

(Imagem: Cobaia em testes)
Capítulo VI


Finalmente! Dia de testes a sério!
Dito assim, pode até parecer que estava esfuziante com o facto. Mas não, estava bastante amedrontada.
Em primeiro lugar preocupada com a minha integridade física, é claro, e depois era também o peso da responsabilidade. A verdade é que não podia deixar de me esmifrar até à exaustão não fosse falsear ou inviabilizar os dados que era suposto serem recolhidos.
Então punha-se a questão: quando é que a exaustão era já mesmo exaustão e não deveria continuar?... Pois é, é difícil saber...

Bom, mas lá fui. Chego à piscina e deparo-me com um aparato enorme de instrumentos, objectos, mesas, câmaras de filmar dentro e fora de água e gente com ar de muito entendida na matéria; enfermeiras, técnicos de som e de imagem, outros técnicos não sei bem de quê, a professora, colegas...

As “vítimas”, nós as cobaias, “actuávamos” duas a duas, devidamente armadilhadas e depois de sermos pesadas (exigi confidência, claro), medidas, encontrado o índice de massa corporal, picadas para analisarem não sei o quê, medidas as tensões, verificadas as frequências cardíacas em repouso (e já estou cansada só de dizer o que me analisaram) e depois de termos assinado qualquer coisa que eu acho que devia ser o testamento, sei lá, fomos finalmente para a água. A Inês deu então início à sessão.

E que sessão! Foi curtinha, é certo, mas foi de deitar, literalmente, os bofes pela boca.
A Inês diz que o “pico” foi de sete minutos e entenda-se que só se considera “pico” quando estamos já num nível intenssíssimo de esforço, agora imaginem o que é aguentar isto sete minutos. Parecem setenta!
No final, como já vos disse antes, não tinha a mais pequena noção se abria as pernas, se as fechava, se saltava muito ou pouco, se abanava os braços a arrastar a água para dentro ou para fora... Enfim, só queria ver se conseguia continuar a respirar.

E consegui! Terminei o teste sem estragar, julgo eu, o trabalho da menina, e aqui estou para o comprovar. Portei-me muito bem. Pelo menos não estriquinei (já não usava esta palavrinha há tanto tempo! Mas aqui é mais do que adequada).

No final, enquanto estávamos ainda a tentar ver se respirávamos, foi-nos novamente medida a tensão, os índices de ácido láctico no sangue e não sei mais o quê. É que não estava lá muito consciente. Eu só via as duas enfermeiras a olhar para as duas “vítimas”, nós, com um ar que não percebi bem se era compassivo se preocupado...

Para a semana há mais, mas este já passou. Devo dizer que estou agora muito mais descontraída do que estava de manhã.

Depois conto. Está a acabar.

6 comentários:

Anónimo disse...

Fabuloso! Adorei ler! Parabéns pela jovialidade e pelo altruísmo. Fique bem (até porque cobaias como a Donagata são muito úteis para se poder, cada vez mais e melhor, objectivar a prática desportiva). Bem haja.

PS: Parabéns, também às professoras em causa. É que isto da hidroginástica é bem mais do que musiquinha da moda e fio dental...

Donagata disse...

Não tenha a mais pequena dúvida. É exercício sério, estudado, consciente e da pesada. E posso dizê-lo. É claro que as professoras estão de parabéns. São do melhor.

Anónimo disse...

Querida Donagata
Estou desesperadamente à espera do fim do EU, COBAIA. A última que teve o condão de me pôr neste estado de nervos foi uma senhora (perdão, Senhora!) chamada J. K. Rowland, com a brilhante saga do Harry Potter. E se a dita Senhora parece ter já andado por aí a dizer que do Harry Potter talvez ainda venha mais um, eu cá posso assegurar que ainda lhe podemos vir a dar muito mais mote para escrita. Posso afiançar-lhe, desde já, que a inscrevemos como sócia benemérita (honorária!) nº1 das COFADEUP (o que é? ... Ehehehe!). Esta inscrição dar-lhe-á o privilégio de ser chamada, com primeira preferência, para todas as pesquisas que "metam água".
Agora, vá, toca a escrever mais umas coisinhas antes que eu morra de ansiedade...
... e faz favor de não faltar no sábado que eu já estou melhor.

... e OBRIGADA POR TANTA PALAVRA FANTÁSTICA!

Anónimo disse...

Isto de ser Professora Universitária Doutorada não é coisa fácil, porque se o desafio nos bate à porta, logo estamos para o deixar entrar. Ainda por cima, o tal do grau habilita-nos a fazer investigação autónoma, algo que qualquer “Dotor” adora, dado que passa a poder dizer “Quem manda aqui sou eu!”.
Aqui há dias, no final de uma das minhas aulas de hidroginástica de sábado (coisa que faço por puro prazer!), uma aluna (designação estranha, se nunca lhe ensinei nada…), ou melhor, cliente (nome duplamente estranho, porque nunca me pagou nada), uma tal de Donagata saiu-se esbaforida (não comento as razões do esbaforamento*) com esta: eu ainda estou para saber, e vou fazer uma pesquisa na Internet, nas coisas da psicologia, porque é que os professores de hidroginástica ficam aquele ar de prazer quando perguntam: - já dói? Seguiu-se um chorrilho de sádicos para cima, para o lado e para baixo que me deixou mesmo a pensar… (se alguém se lembra do “Professor Baltazar” não só está completamente cota**, como eu, como pode ter uma imagem aproximada de mim a pensar).
Ora… se eu dou aulas por prazer, sem que o dinheiro me faça falta, e se não consigo fazer a coisa devagar (não sem ver maçãs do rosto bem rosadas e línguas arfando quase a tocar a água…), se a loira é como eu e na “terra” também há igual, porque não arrancar com a seguinte tese:
Sadismo do professor de hidroginástica - quantificação da capacidade de induzir dor e da onda de prazer sequente.
O protocolo experimental será, exactamente, como se adivinha. O professor dá a sua aula mais terrível, enquanto a equipa de investigação regista o nsm (número de sorrisos por minuto). Cada professor levará, obrigatoriamente, o seu sadismo até à exaustão...
As cobaias? Ora, ora, sem problema, uma vez que temos a lista da COFADEUP.

E quem se meteu nelas, que saiba resolvê-las!

*O Editor do Dicionários da Língua Portuguesa da Porto Editora apresentou-me as suas desculpas pessoais por se ter esquecido de incluir esta palavra na última edição, revista e aumentada, da referida publicação.
**Sinónimo proposto pela minha filha de 8 anos à questão: reescreva a frase substituindo a palavra idoso por outra de significado semelhante. Educações…

Donagata disse...

Ó Sôdona S.S. (não sei porquê mas esta sigla parece já um pronúncio da tese que se avizinha...),estou inteiramente de acordo com o desenvolvimento da tese por si enunciada até porque as ditas incursões às áreas da psicologia ainda não me levaram a conclusão nenhuma.
Em relação ao protocolo apenas me fica uma dúvida: o nsm refere-se ao professor não é verdade? É que as vítimas, normalmente não sorriem. Por vezes esboçam esgares, mas não sorriem.
Agora a sério. Foi excelente colaborar convosco. Apesar da minha descontracção estava um pouco ansiosa. Não queria que nada falhasse, pelo menos à minha responsabilidade. É sempre bom colaborar com profissionais deste gabarito. Agora só não sei se aguentava outra. Vocês mo dirão depois de analisarem os resultados.
Um beijo.

Anónimo disse...

Por falar em resultados: a análise dos factores de risco de indução de acidente cardiovasculas com os picos da morte tem dado resultados óptimos: ausência de risco. Isto significa que podemos aplicar estas cargas na aulas sem risco de matar praticantes saudáveis. Fiiiiiiiiiixxxxxxxxxeeeeeeee!