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quinta-feira, 18 de março de 2010

“2666” de Roberto Bolaño



Finalmente! Acabei!

Pois é, acabei de ler o livro que já apelidava, conformada, de “omeulivroparatodooanode2010”. Não que fosse retardando a sua leitura por incompatibilidades com a sua escrita. Nada disso. Apenas se interpuseram um montão de outras leituras, essas obrigatórias, que me levaram a interrupções frequentes. Além disso, o livro contém 1030 páginas, de letras pequeninas, e é de formato grandito. Por tal, nada adequado às minhas habituais leituras ao deitar e ao acordar as quais, poderiam até colocar-me em risco de vida, sei lá?! É que levar com um peso tal na testa não poderia de todo ser inócuo (para a testa)!

Agora que já disse o que não tem interesse nenhum mas sabe bem, passo então a falar do livro propriamente dito e daquilo que me suscitou.

É, como já referi um livro grande e, no meu ponto de vista também um grande livro. Está dividido em cinco partes distintas as quais, aliás, criaram no autor a vontade de que fossem publicados cinco livros individuais. Tal não aconteceu por opção dos herdeiros que explicam a razão no início do livro e, quanto a mim, faz todo o sentido.

O livro está escrito de uma forma peculiar, presumo que característica de Bolaño, uma vez que já a havia notado em “Os detectives Selvagens”.
Eu, leitora, vou seguindo o curso da escrita que é agradável, fluente, por vezes de forte pendor poético, sem me preocupar muito com o que é suposto as personagens atingirem, com o que procuram, com a resolução da trama… Quando dou por mim apenas quero ler e ler sem que tenha importância fundamental o desenlace. Ou até a forma como se interligarão as partes; ou mesmo se se interligarão… é que a escrita, só por si está conseguida de uma forma que chega a ser quase hipnotizante (permitam-me a quase hipérbole)…

Lê-se, na capa, que “A vida humana inteira está dentro destas palavras ardentes” frase retirada do “The Independent”. E, na verdade, não posso estar mais de acordo.

No mesmo livro acompanhamos um grupo de intelectuais de vários países que se tornam amigos porque procuram o seu escritor “fetiche”. Essa demanda leva-os até ao México local para onde crêem que o autor se terá deslocado.

Aí mesmo, em Santa Teresa (cidade fictícia), somos espectadores de uma quantidade indescritível de mortes de mulheres, barbaramente assassinadas, violadas e mutiladas ao mesmo tempo que acompanhamos as mornas investigações e os aspectos peculiares da vida de um prisioneiro acusado da autoria de algumas mortes.

Somos soldados da Wehrmacht enquanto acompanhamos Hans Reiter pelos campos de batalha da frente ocidental.

Somos Archimboldi quando escreve, quando ama, quando cuida da sua mulher doente.

Somos Lotte quando vive ensombrada por terríveis pesadelos, apesar dos quais não pára de acreditar poder vir a encontrar o seu irmão “gigante” que foi para a guerra e a quem nunca mais viu.

Enfim, somos tudo isso sem sermos mais do que nós a acompanhar devaneios escritos que têm tanto de belo como de angustiante e misterioso e em que a violência e a morte serão, talvez, o fio condutor…

A ler, sem dúvida.