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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cumprimento de uma (quase) promessa – Marc Chagal


"Fenêtre sur Paris"

Há já alguns dias, ainda aquando daqueles textos soberbamente inspirados (pelo ócio, diga-se, que é sempre uma excelente fonte de inspiração), “Vozes do Aquém”, ficou quase (quase!) implícito que eu pretenderia elevar o nível cultural deste espaço.

Uma vez que já não iria falar das desventuras de ir à praia dado que alguém me havia, da forma mais torpe, sacado a ideia, tinha decidido falar de Marc Chagal.

E porquê Chagal? Perguntará toda e qualquer pessoa com um pingo de curiosidade.

É simples. Chagal desenvolveu uma abundante obra não só na pintura como no mosaico, no vitral, na encenação, na gravura, na escrita, e sei lá que mais o senhor fez… Era um pocinho sem fundo.

"Above the town"

Era comum, nas suas pinturas, de grande multiplicidade cromática, de cariz algo surrealista, subjectivo, onírico, enfim, muito próprio pois não se insere inteiramente, tanto quanto eu percebi, em nenhum dos movimentos vanguardistas da época, aparecerem figuras (algumas vezes noivos (?)) a voar. Mais propriamente a sobrevoar uma aldeia, provavelmente reminiscências da sua juventude, uma cidade (Paris, por exemplo). Por vezes essas figuras esvoaçantes pairam completamente no ar, mas noutras, há algo que as liga a terra.

"Bride and Groom of the Eifel Tower"

Ora como no lugar onde me encontrava a jiboiar apanhei noites, só noites, de grandes ventanias em que era triste olhar para os pequenos caniches que passeavam os donos no passeio marítimo (isto era uma piada! O passeio marítimo. Não havia embora houvesse mar. E acho que também havia um passeio… Não tenho a certeza) que tentavam manter as quatro patitas no chão quando estas insistiam em elevar-se tomando o rumo que as orelhitas e os caracolitos do seu pelo (agora desfrisados, claro) já haviam tomado.

"La marriée"

Embora sem querer comparar noivos a caniches, não sei como, vieram-me à ideia os ditos quadros de Chagal, dos quais eu até gosto, e ponderei por largo tempo a hipótese de tão dotado senhor ter passado ali, naquele local, alguns momentos de ócio ou, quiçá, de inspiração até porque já vimos que uma coisa leva à outra…

"Lovers in a red sky"

Quem sabe se alguma daquelas povoaçõezitas que se vêem sob os elementos voadores não será aquela em que me encontrava e que, sem saber, está lindamente imortalizada, embora sob disfarce, nalguma daquelas belas composições?

Pois que não sei.

Eu sei que na Rússia, terra natal do pintor, há regiões muito ventosinhas, que sei. Poderiam, portanto, essas representações, serem meras recordações da sua vida aí, na sua terra, seria até normal.

Em Paris, cidade para onde foi em 1910, às vezes também faz um ventito jeitoso, que faz.

E até nos Estados Unidos, local onde viveu durante a II Guerra Mundial, há locais em que o vento sopra enfurecido. Embora nunca tenha estado nos States bem vejo, em muitos filmes com que Holywood nos brinda, o vento e a neve com que os pobres actores têm que lutar em situações completamente desesperadas. Aliás, eu até acho que eles não ganham para isso. Bem, mas isto sou eu, como habitualmente, a desviar-me da questão.

"Flying carriage"

Porém, os pacientes leitores que me desculpem, mas eu continuo a ter para mim que foi ali, naquela vila piscatória, pequenina, picaresca e ventosa que só visto, que o senhor Marc Chagal se inspirou.

E mais não digo porque mais não sei e além disso já foi um enorme abuso para convosco atirar-vos com um texto desta extensão, só para mostrar que neste blogue não se tratam apenas coisas de baixo nível.

Dado que os elementos em que coloco a tónica são voadores, o nível não poderia ser mais elevado. Não é verdade?

11 comentários:

Alien Taco disse...

no quadro "above de town" o elemento masculino parece agarrar um seio da sua companheira voadora.Marmelanço aéreo.Muito estimulante.

Alda M. Maia disse...

Uma forma risonha e interessante de falar e apresentar Marc Chagall
Um beijinho

Alien Taco disse...

Obrigado Alda bem aja ....

Alda M. Maia disse...

Peço desculpa, mas referia-me ao interessante texto de Donagata

Alien Taco disse...

que texto alda?que tem os gatos a ver com isto?eu é que peço desculpa.QUE CONFUSÃO.eu referia-me ao seu comentário.

Alien Taco disse...

o seu comentário em relação ao meu,é claro.obrigada pela sua candura.

wallper.lima disse...

Oi Donagata! Tdo legal?
Gostei mto desta postagem onde encontro aqui uma junção de pensamentos e viagens...temos o pintor Marc Chagall o mágico poético onírico e fantástico "pintor do coração" - como é chamado! Seus pincéis precocemente descobriram seu próprio estilo, liberado das influências impressionistas e cubistas, onde fez surgir em suas telas: - magia, em atmosfera de ternura e de fantasia. O que conta é o sentimento vivo do ser humano,e sendo assim , o interesse é menor em se trabalhar luz e volume.
Pinta o arco, como paradigma da realidade "chagalhiana", onde os seres humanos voam felizes ou andam de cabeça pra baixo...
A maioria dessas figuras encontradas em suas telas, são lembranças da infância, da chácara do avô...
Sua criação esta ligada a fantasias, sonhos, imaginações, e memórias.
Procurou Trabalhar a realidade, transformando-a para chegar mais perto daquilo que ele via e sentia!
E assim somos nós, é a nossa vida, pois o que é a vida, senão vôos?!
Termino esse meu "pequeno" comentário...rsrsr...dizendo simplesmente que: - " uns nasceram para voar e outros nasceram para rastejar! E nós, nascemos para voar!!
Bjos com carinho daqui do Brasil.
Waleria Lima.

Donagata disse...

Wall, como tenho tanto a aprender consigo!!!!
Este comentário é que deveria ser a postagem... Seria muito mais proveitosa.

Um beijo grande para você também.

redonda disse...

Primeiro gosto muito do nível - muito alto - deste blog.
Depois gostei da viagem através dos quadros do Chagal.

Donagata disse...

Obrigada, redonda. Não é meu objectivo ter um blogue de nível muito alto (seja lá isso o que for). Contudo gostaria que ele fosse tão agradável para os outros quanto o é para mim e que espelhasse um pouco daquilo que são as minhas áreas de interesse e a minha forma de estar.

Ainda bem que gostou das imagens que escolhi. Em boa verdade tive dificuldade na escolha uma vez que gosto de muitas delas e o pintor tem uma extensa obra.

Cristina Loureiro dos Santos disse...

Lindos, os quadros! As cores, a leveza, o movimento, e depois, estão todos nas nuvens...

Gosto muito de Chagall :))