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sexta-feira, 13 de março de 2009

“Camilo Broca” de Mário Cláudio


Acabei de ler este romance, galardoado com o prémio Fernando Namora/Estoril Sol, exactamente por isso. Pela curiosidade que tive em conhecer um romance que venceu quase 100, de outros tantos escritores de prestígio, bem como de considerar a perspectiva que Mário Cláudio (Rui Manuel Pinto Barbot Costa) nos dá do grande escritor Camilo Castelo Branco.

O romance é escrito a três vozes.

A do próprio Camilo que no início conta a sua infância em Lisboa, onde nasceu. A morte da mãe. Posteriormente a morte do pai e o seu regresso às origens da família; Vila Real de Trás-os-Montes. Para lá vai viver com a sua irmã, mais velha, Carolina Rita.

Vão para casa de uma tia, Rita Emília, onde são recebidos com austeridade e pouco carinho.

Depois entra Mário Cláudio que nos conta, de forma efabulada, a vida de seis homens transmontanos, supostamente as seis gerações de “Brocas” anteriores a Camilo. Embora efabulada penso que Mário Cláudio procura integrar eventuais elementos históricos de época. Aliás é interessantíssimo verificar a forma como adequa o discurso às diferentes épocas descritas tornando-o distinto em cada uma delas.

Interessante também é o que todos os “Brocas” tinham mais ou menos em comum. A capacidade de se adaptarem a situações adversas saindo delas de forma airosa. Nem sempre, ou quase nunca adeptos da ética ou da legalidade para as resolverem. Conseguindo no entanto chegar mesmo a juntar fortunas consideráveis e a adquirir títulos de nobreza.

Por outro lado tinham uma certa propensão para os rabinhos de saias, sendo, quase todos bastante prolíficos. A dada altura a confusão entre os filhos legítimos e os naturais era realmente grande.

A tendência para acabarem os seus dias com o juízo embotado é também uma característica comum a vários.

Finalmente temos a voz de Carolina Rita que nos conta a história de Simão António (personagem do “Amor de Perdição”) bem diferente daquela que Camilo nos narrou. Termina contando a sua história de uma forma bem diferente da contada por Camilo no início, seguida de um retrato do próprio Camilo que acaba por ir viver com ela para Vilarinho da Samardã, quando esta se casa. Aqui inicia os seus estudos, com o cunhado de Carolina Rita, que era padre e homem de grande cultura, revelando um brilhantismo inesperado.

A dada altura ela chega a afirmar que ele viria a suicidar-se, pelo remorso dos muitos atropelos à realidade que sempre havia cometido.

Muito bom. Importante para melhor se compreender a própria obra de Camilo

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