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domingo, 1 de junho de 2008

Sobre o Palácio do Marquês de Valle Flor IV( O palácio)

Sala Japonesa, assim designada por estar inteiramente decorada com elementos de estilo orientalizante. Neste período, a Europa vivia fascinada pelo Oriente, sobretudo pelo Japão. Era também uma forma de demonstrar a atenção ao mundo, o interesse e abertura à modernidade. As pinturas desta sala, de Eugénio Cotrim, introduzem elementos japoneses, alguns deles de grande simbolismo e significado. É o caso das bolas nambam que, muito embora venham progressivamente a perder o seu significado, ainda hoje se oferecem no Japão no dia de Ano Novo. Outro elemento simbólico é o uso de linhas onduladas na decoração do tecto o que, segundo a crença oriental, afasta os maus espíritos. Depois é o conjunto de elementos como lírios, flores de cerejeira, amendoeiras, o Fujyama, a ponte de Quioto, o grou, nas composições decorativas que realçam ainda mais a tendência inteiramente oriental da sala.

Sala Luís XV. Sala de grande imponência que me impressionou, em primeiro lugar, pelo brilho e pela transparência conseguidos através de um felicíssimo jogo de espelhos que decoram as várias consolas enquanto refractam a luz que entra pelas amplas janelas e portas. As suaves tonalidades de pastel que se estendem do tecto suavemente pelas paredes, também ajudam a conferir uma sensação de unidade a todo o ambiente ornamental. Encontram-se aqui todos os elementos que caracterizam a gramática estilística deste período: Estilização de folhas de acanto, conchas, volutas, linhas espiraladas, rosas, feixes de juncos, florinhas e ramos de palmeira, palmitos, bem como talvez o elemento mais característico do Luís XV o “crête de coq”. Também as grinaldas sobre superfícies espelhadas encimadas por espanholetas assim como a decoração dos lambris, das cartelas e o recurso ao “tromp l’oeil” (tão ao gosto da época) são dignos de nota. Digna de nota é também a grande tela colada ao tecto bem como as situadas sobre as portas. A do tecto, com uma pintura a óleo da autoria de Carlos Reis (1863-1940) mostra-nos uma figura feminina com uma coroa de flores rodeada de outras figuras de crianças. No conjunto destacam-se panejamentos de cores ocre e rosa (que envolvem a figura feminina) bem como uma fita azul que flui ao longo da tela até duas das figurinhas dos “putti” (figuras de crianças que simbolizam o amor) mais distantes e ajuda a equilibrar a composição. De um modo geral, a pintura deste período (rocaille ou rococó) caracteriza-se pelo tratamento, com elegância e graça, da felicidade, da alegria, do brincar…

A Capela, construída posteriormente encontra-se no topo nascente do edifício em simetria com o átrio principal. Do primeiro piso, exactamente no topo nascente, abre-se um amplo varandim de onde se pode contemplar todo o espaço circular da capela, encimado por uma cúpula com rosácea em vitral. A capela foi dedicada à Imaculada Conceição, cuja imagem, no altar, se impõe. As imagens existentes na capela, com a excepção da de S. Filipe, vieram todas de Paris do atelier de Barson Romain. As paredes são revestidas por grandes vitrais, de cariz um tanto diferente dos restantes do palácio e cuja temática se centra no simbolismo religioso. Proporcionam uma luminosidade particular a todo o espaço.

Os grandes Salões, hoje salas de refeições do hotel, ocupam toda a ala nascente do edifício com acessos directos aos grandes jardins, levando a crer que se destinavam às grandes festas, bailes e banquetes. A decoração dos tectos e paredes recorre a elementos do estilo Regência; estuque bem trabalhado e folha de ouro que realça, pelo brilho, a importância a dar às formas e ao espaço. A decoração que completa tecto e paredes introduz um motivo particularmente utilizado nas salas de música, acessórios compostos por instrumentos musicais, assinalando um tema e a função do espaço. As colunas e pilastras são estriadas e os capitéis compósitos do período faustoso de Luís XIV e Luís XV. Em grande destaque podemos ver um brasão do marquês nos cantos do tecto que, de resto é sobrecarregado de motivos florais, ramos de loureiro e de palmeira, juncos, remates de moldura com recurso à espanholeta e aos palmitos. Nos remates dos arcos das portas, folheados a ouro, ressalta a utilização, ao centro, da concha, motivo recorrente em estuque branco em frisos e lambris. As pinturas, de Constantino Fernandes, integram-se no estilo sobretudo pelos temas: o prazer da dança, a alegria, o nu feminino envolto em tecidos de grande leveza, transparência e brilho.

O Jardim. No jardim do palácio podemos encontrar várias influências estilísticas. Desde o chamado “jardim à francesa”, de traçado geométrico, regular e simétrico até ao “jardim paisagista” o qual pretende imitar a paisagem natural. A variedade encanta e os desníveis tornam-no magnífico. Muito bem defendido do ambiente exterior urbano, proporciona tranquilidade e um certo intimismo. Podemos encontrar esculturas representando as quatro estações, junto à actual piscina, antigo lago assim como, por todo o jardim, outras ligadas à mitologia greco-romana
FIM! (Uf! Dirá quem leu)

6 comentários:

Carla disse...

Quase fiquei sem fôlego, mas valeu a pena.

Donagata disse...

QUE CORAGEM, CARLA. MAS SE ACHA QUE VALEU A PENA LER, ACONSELHO A VISITAR. É LINDO.

Alda M. Maia disse...

Recomecei do primeiro post e, por aqui acima, imergi na leitura de quanto escreveu sobre o Palácio do Marquês de Valle Flor. Fiquei a saber muita coisa que não sabia e estou-lhe grata por isso.
Um beijinho

Donagata disse...

Obrigada Alda Maria. Ainda bem que gostou e lhe encontrou alguma serventia.
Um beijo e uma boa semana

A.Teixeira disse...

Mas isto acaba por tornar-se um roteiro de um verdadeiro documentário televisivo sobre o Palácio!

Só te falta fazer a locução...

Donagata disse...

Essa, será ao vivo e a cores, se quiseres, claro, e com termos mais adequados; os do norte, claro!