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sábado, 20 de setembro de 2008

Livros de férias I "Tejas Verdes" de Hernan Valdés



Livro muito interessante, não tanto pela sua qualidade literária a qual, na minha opinião, é modesta (percebi ao ler depois alguns excertos originais, que perde bastante na tradução), mas pelo importante testemunho que nos transmite, de um período da história do Chile que abalou todo o Mundo e derrubou as crenças ingénuas de muitos de nós que, à época, acreditávamos piamente na vitória da democracia: o derrube do regime de Salvador Allande por Augusto Pinochet e a sua Junta militar e os horrores subsequentes.

Livro de denúncia, importantíssimo na medida em que evidencia (situemo-nos na época, o livro é de 1974, agora não existem quaisquer dúvidas em relação ao que se passou) a existência de prisões sem sentido, ilegalidades diversas, torturas físicas e outras, desaparecimentos…

Escrito em linguagem bastante crua, adequada, aliás, ao conteúdo, descreve a prisão e os vários tipos de tortura a que o autor e muitos outros companheiros foram sujeitos às mãos dos militares liderados por Augusto Pinochet.

Neste campo de concentração, como em outros, os prisioneiros eram completamente aniquilados nas suas necessidades e vontades mais primárias e privados de qualquer laivo de dignidade.

É importante, de tempos a tempos, relembrarmos coisas que, felizmente, temos a capacidade e a tendência de esquecer…

A leitura deste livro trouxe-me à ideia um episódio ligado a este golpe militar que me deixou na altura e, devo confessar que ainda hoje me deixa completamente devastada. A prisão e morte do artista/cantor Vítor Jara.

Apanhado pelo golpe na Universidade é preso e levado com muitos dos seus alunos para o Estádio Chile.

Sofre sevícias várias sendo a destruição ou corte das suas mãos a mais marcante. Aplicada como castigo dos militares pelo seu labor artístico (poeta, cantor, músico, actor) e a sua influência e intervenção a esse nível.

É assassinado no dia 16 de Setembro de 1973 ou seja, cinco dias após o golpe embora o seu assassinato só mais tarde tenha sido reconhecido.

2 comentários:

ruth ministro disse...

Na história da humanidade há marcas sangrentas que não devemos esquecer. Assim, talvez um dia possamos orgulhar-nos de um mundo diferente... Eu ainda sonho.

Mil beijos

Donagata disse...

Eu também. Eu sou uma pessoa crente, na humanidade também. Contudo, é preciso uma vez por outra, avivar a memória pois a humanidade (e a história é fértil em exemplos)é das coisas que perdemos com mais facilidade.

Não vale a pena stressar e andar a pensar sempre no mesmo. A responsabilidade do mundo que se constrói é sempre nossa, de todos, sobretudo dos que se demitem dessa tarefa. Por isso um lembrete aqui e ali não faz mal nenhum.
beijos.