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terça-feira, 22 de março de 2011

“O Sonho do Celta” de Mário Vargas Llosa

Acabei de ler o livro referido o qual havia comprado com alguma curiosidade. Em primeiro lugar por ser de um autor que aprecio e depois por contar a vida de Roger Casement, um personagem totalmente desconhecido para mim mas, cuja envolvência na causa irlandesa (em relação à qual também padeço de uma enorme dose de ignorância, confesso), me fez aguçar o interesse.

E o livro é isso mesmo. Uma biografia exaustiva, romanceada, é certo, mas biografia mesmo assim, do irlandês Roger Casement.

Os episódios da sua vida aventureira vão intercalando com os seus pesadelos na prisão. Todos são memórias…

Este homem que teve uma vida prodigiosa, plena de aventuras e perigos, acérrimo defensor dos direitos humanos, foi cônsul inglês no Congo Belga.

Aí, numa viagem longa e aventurosa pelo rio Congo presenciou as atrocidades cometidas sobre os indígenas sobretudo no que diz respeito à exploração da borracha praticadas sob o beneplácito do governo de Leopoldo II.

Denunciou-as num longo relatório que lhe granjeou respeito na Europa.

Mais tarde, veio a denunciar os mesmos delitos cometidos agora na Amazónia peruana. Aqui correu graves riscos quer por causa das peripécias da própria viagem, já por si arriscada, quer por causa das represálias de quase todos pois todos mesmo beneficiavam com a exploração da borracha à custa dos maus tratos dos índios peruanos.

Mais uma vez os seus relatórios tiveram um enorme impacto e fortes consequências se bem que não as que ele previa…

No final da sua vida tornou-se um defensor do nacionalismo irlandês cuja dependência perante os ingleses comparava ao colonialismo que tão bem conhecia.

Assim, assume a estratégia de se aliar aos alemães no início da 1ª guerra mundial com a expectativa de que estes fossem uma ajuda à independência da Irlanda.

Esta associação funesta, ingénua e imprudente teve como consequência a sua prisão, julgamento e condenação à morte como traidor à pátria.

Para denegrir a sua imagem muito contribuíram os seus diários pessoais que, divulgados ainda em vida deste, na prisão, enquanto aguardava a comutação da pena, revelavam a sua faceta de homossexual atrevido e despudorado. Julga-se que alguns desses relatos não passassem de efabulações, fantasias de algo que ele gostaria de ter vivenciado.

Enfim, um livro interessante pelo conhecimento que nos dá de uma personalidade incomum e que, apenas de há muito pouco tempo a esta parte tem vindo a ser reabilitado e reconhecido como uma pedra importante na luta pela independência da Irlanda.

Interessante, sem dúvida, mas não dos meus preferidos de Mario Vargas Llosa.

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