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sábado, 14 de novembro de 2009

“Morte no Retrovisor” de Vasco Graça Moura


Acabei de ler mais um livro de Vasco Graça Moura, cujo tipo de escrita, em prosa, descobri há pouco tempo, e é mesmo muito do meu agrado.

Este livro é constituído por vinte e dois pequenos contos em que o primeiro empresta o título ao livro.

Alguns deles, como esse primeiro, são inteiramente ficcionados desde as personagens ao enredo. Outros, nem tanto…

Todos revelam o estilo peculiar e o elevado nível de erudição do autor embora em diferentes registos linguísticos. Desde o discurso de literatos seiscentistas e oitocentistas até à mais contemporânea vulgaridade discursiva, todos podemos saborear, excelentemente reproduzidos.

Depois temos: os detalhes quase despercebidos que ocorrem aquando de um grande acontecimento histórico mas que aqui ganham o relevo da verdadeira história para a qual, a outra, não tem importância nenhuma tal é a ternura e a ingenuidade que emanam;

As personagens reais, de grande relevo, que se perdem nos amanhos ficcionados e comezinhos do dia-a-dia, alguns eivados da mais fina ironia;

A ópera famosíssima que serve de pano de fundo a uma tragédia doméstica;

A agente do KGB que se faz passar por natural de Mirandela enquanto exerce o cargo de porteira do Ministro da Defesa em Paris que, sempre a propósito do “frio”, a dada altura e depois de citar diversos autores diz “…Em Portugal é assim….a escola é exigentíssima. Mesmo lá nas berças, obrigam-nos a ler Camões desde os dez anos e toda a literatura francesa, de Roman de Renard a Philippe Sollers a partir da mais tenra puberdade.”

Enfim. Para todos os gostos sempre com a mesma qualidade.

2 comentários:

Mar Arável disse...

Graça Moura

sempre no retrovisor

até como tradutor

Apesar de tudo um escritor

a não ignorar completamente.

Este seu livro de contos

tem páginas onde se retrata

no espelho da sua própria criatura

Bom apontamento o seu

Dona Gata

como sempre

Donagata disse...

Obrigada.
Devo dizer que não aprecio particularmente as traduções do autor e, em boa verdade, para ser honesta, o autor enquanto pessoa.
Daí a minha surpresa em relação à sua prosa uma vez que a poesia, como com todos os poetas, uns poemas encantam-me outros, nem tanto....