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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"O Menino de Lapedo"

(Imagem: "Menino de Lapedo" pormenor da sepultura)
Tinha os olhos grandes e expressivos, o rosto arredondado e o cabelo liso e comprido. Era assim o Menino do Lapedo, de quatro anos e meio de idade, cujo esqueleto foi descoberto no Vale do Lapedo, em Leiria, e desencadeou uma acesa discussão científica sobre a evolução da espécie humana.

E foi de acordo com esta descrição que um especialista em efeitos especiais, norte-americano, que estuda reconstituições faciais forenses na Universidade de Tulane, elaborou o rosto que será uma das principais atracções do Museu do Menino de Lapedo- Centro de Interpretação Abrigo do Lagar Velho, inaugurado anteontem, dia 5, e que constitui a primeira fase de um projecto que visa a criação de um Parque Arqueológico de nível internacional.

Foi com imenso agrado que li, no Público, esta notícia. Não tem sido muito habitual no nosso país dar especial relevo aos diversos vestígios arqueológicos, sobretudo pré-históricos, de maior ou menor importância, espalhados um pouco por todo o país.
Não é de todo incomum, quando visitamos lugares de importância arqueológica com vista a estudá-los ou apenas por curiosidade, depararmo-nos com zonas completamente abandonadas, sem protecção de qualquer espécie, para já não falar da total ausência de meios informativos.

Felizmente que algo está a mudar e verifico quer pela parte das autarquias, já mais sensibilizadas para estes assuntos, quer da parte do Instituto Português de Arqueologia (IPA) integrado no Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) uma maior preocupação com aquilo que constitui o nosso património histórico.

É claro que o “Menino de Lapedo” se trata de um caso muito especial. A sua descoberta trampolinou Portugal e os seus cientistas, nomeadamente João Zilhão director do IPA à época da descoberta, em 1998 (agora docente na Universidade de Bristol) e a sua equipa, para o meio da polémica internacional que, tradicionalmente divide a comunidade científica em duas correntes de opinião.
Uma, talvez a mais aceite pelo menos até à descoberta deste fóssil, defende que, a chegada do “Homo sapiens” à Europa teria levado à extinção pura e simples do Neanderthal sem que tenha havido entre ambas as espécies qualquer tipo de miscigenação.
A outra defende uma teoria diferente que nos diz ter havido a coexistência das duas espécies de humanóides tendo mesmo havido cruzamentos entre ambas produzindo indivíduos com características de uma e da outra espécie.

É esta última teoria que a descoberta do “Menino de Lapedo”, um fóssil com 25 000 anos, parece fundamentar. O fóssil revela o esqueleto de uma criança de 4 ou 5 anos com características de ambas as espécies.
Para João Zilhão este seria o elo que faltava para a compreensão do que se teria passado com os neanderthais após a chegada do homem moderno.
Tal opinião é partilhada também por Erik Trinkhaus, antropólogo norte-americano, professor na Universidade de Washington em Saint Louis que vai mais longe chegando ao ponto de ser peremptório nas suas afirmações dizendo que “a questão não é saber se houve mistura, mas em que grau é que ela existiu”

Francisco Almeida, arqueólogo português responsável pela investigação no vale de Lapedo, defende também a teoria da miscigenação embora, mais contido, não a considere ainda provada inequivocamente.

De salientar ainda que, embora uma das descobertas paleontológicas mais importantes do nosso país, o “Menino de Lapedo” é apenas um dos vestígios encontrados nessa zona que, pela sua geomorfologia propicia não só a conservação de eventuais fósseis pela existência de grutas calcárias, como sugere (e tem revelado) abundância em vestígios diversos dado tratar-se de um conjunto de dois vales: o do rio Lis e o da ribeira de Lapedo locais onde preferencialmente se instalavam estas comunidades pré-históricas.
A verdade é que a abundância de vestígios deram já origem a setenta estações arqueológicas.

Muito mais haveria a dizer sobre o assunto. Mas, para já, quis apenas expressar o imenso agrado com que verifico que se vai, lenta, mas inequivocamente, verificando uma mudança de atitude em relação à arqueologia e à preservação desse legado que nos leva a compreender melhor as nossas orígens.

3 comentários:

Jonathan da Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jonathan da Costa disse...

desconhecia o "menino do lapedo", contudo já sabia desse intuito por parte de Leiria de ter um Parque Arqueológico de nível internacional...
gostei... interesso-me por esse tipo de coisas e tenho pena que Portugal investa tão pouco no campo da arqueologia (de certeza temos grandes "tesouros" enterrados por aí)
obrigado pela notícia...

fica bem

Anónimo disse...

Partilho contigo o agrado por verificar a importância que se vai dando a estes assuntos, de tanto interesse para lobrigar uma réstea do nosso passado mais remoto e, no caso específico que apresentas, conhecer alguma coisa sobre os humanos nossos antepassados. Obrigado por esta tão útil informação.
LS.