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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

“Se eu Fechar os Olhos Agora” de Edney Silvestre



Este foi dos que entrou directo, não passou pela fila de espera. É, uma das muitas aldrabices com que vou mimoseando os livros que, ordeiramente, aguardam perfilados na minha pilha de próximas leituras.
Este foi-me sugerido pela minha filha. É dela e tinha-o acabado de ler.

 É Abril de 1961 e tudo se passa numa velha cidade outrora importante devido ao cultivo do café.

Tudo começa com um menino comprido, magro e claro e um menino moreno, ambos de doze anos que escapam de um castigo da escola e aproveitam para ir nadar num lago que era o seu paraíso escondido.
Nesse dia farão uma descoberta macabra que terá como consequência o fim abrupto da sua infância.
Descobrem o cadáver de uma linda mulher, jovem, barbaramente assassinada e mutilada.

Insatisfeitos com as explicações ilógicas das autoridades quanto ao confesso assassino bem como com o desinteresse das mesmas em clarificar o assunto, lançam-se, eles próprios, em investigações furtivas com vista a darem soluções cabais ao imenso monte de questões a que não conseguiam responder.
A este duo vem a juntar-se um velho residente no asilo que tinha por hábito saltar o muro e deambular, de noite, pela cidade. É um ex-preso político da ditadura de Getúlio Vargas.

Reúnem esforços e valências e, de descoberta em descoberta, vão-se embrenhando num vórtice de mistérios em que nada nem ninguém é exactamente o que parece ser.
São confrontados com a força do poder e com a hipocrisia da sociedade local que encobre e branqueia os crimes mais hediondos envolvendo violência sexual, violação, corrupção e racismo, entre outros.

É o fim da sua infância. É o desenvolvimento emocional acelerado destas duas crianças que nunca mais o serão.  É uma forma difícil e abrupta de entrarem na vida adulta. Será inconsequente?

Gostei também muito da escrita do autor. Com o pretexto de um policial, desenvolve uma diegese coerente que vai muito além disso. É um retrato de época, uma época conturbada da história recente do Brasil em que a prepotência e o caciquismo locais eram uma constante. O velho poderio dos coronéis. A narrativa é agradável e surpreendente. Gostei particularmente dos diálogos vivíssimos com que o autor salpica o texto tornando-o ainda mais interessante.

Um primeiro romance que deixa muitas expectativas.

1 comentário:

Mar Arável disse...

Grato pela partilha
A ver vamos