Imagem : Rocha de Júlia Novais
Hoje o meu mar estava cinzento, taciturno, talvez triste. As águas inquietas revolteavam nervosamente em largos remoinhos que se soltavam impiedosamente sobre as altivas rochas, antes de desmaiarem exaustas na areia. A espuma branca rolava sobre as águas lembrando fragmentos de finíssimos vestidos de noiva, despedaçados por Megera, resultado de um qualquer castigo por ciúme, infidelidade, ou até adultério, quem sabe.
E as águas, hoje mais cinzentas, recuam e avançam numa expiação constante pela sua inevitável indecisão; amam furiosa e apaixonadamente as rochas mas... entregam-se calmamente ao amor doce e sereno quando se enroscam nas suaves areias da praia e estas as sorvem por inteiro.
O nevoeiro cobre o horizonte escondendo o sol que, envergonhadamente, mostra apenas o seu contorno circular, difuso, sem ânimo para, com os seus raios, desafiar aquela nuvem pegajosa e húmida que se instalou na minha praia.
Hoje, não no bar da praia, mas sentada na areia, entre dois rochedos, isolada de tudo, tento, neste relativo conforto, terminar a leitura do livro que me acompanha, “As mulheres de meu pai” de José Eduardo Agualusa.
Contudo, à medida que o tempo vai passando, as personagens ganham outras vidas, vogam através do nevoeiro, perdendo-se no cinzento das águas. Esquecem as paisagens de Africa, e escolhem um argumento diferente. Vestem-se de espuma branca, enleiam-se nas grandes algas carnudas, voam com as gaivotas, provam o sal das rochas, rolam lubricamente pela areia fina, oferecendo-se aos desmandos da água. E eu, personagem do mesmo conto, deixo escorregar devagarinho o livro que repousa esquecido na areia enquanto me aconchego nos braços de Morfeu.
Praia do Marreco 10-09-2007
E as águas, hoje mais cinzentas, recuam e avançam numa expiação constante pela sua inevitável indecisão; amam furiosa e apaixonadamente as rochas mas... entregam-se calmamente ao amor doce e sereno quando se enroscam nas suaves areias da praia e estas as sorvem por inteiro.
O nevoeiro cobre o horizonte escondendo o sol que, envergonhadamente, mostra apenas o seu contorno circular, difuso, sem ânimo para, com os seus raios, desafiar aquela nuvem pegajosa e húmida que se instalou na minha praia.
Hoje, não no bar da praia, mas sentada na areia, entre dois rochedos, isolada de tudo, tento, neste relativo conforto, terminar a leitura do livro que me acompanha, “As mulheres de meu pai” de José Eduardo Agualusa.
Contudo, à medida que o tempo vai passando, as personagens ganham outras vidas, vogam através do nevoeiro, perdendo-se no cinzento das águas. Esquecem as paisagens de Africa, e escolhem um argumento diferente. Vestem-se de espuma branca, enleiam-se nas grandes algas carnudas, voam com as gaivotas, provam o sal das rochas, rolam lubricamente pela areia fina, oferecendo-se aos desmandos da água. E eu, personagem do mesmo conto, deixo escorregar devagarinho o livro que repousa esquecido na areia enquanto me aconchego nos braços de Morfeu.
Praia do Marreco 10-09-2007
1 comentário:
Com esse livro- bons sonhos
Quando acordar o c�u vai brilhar para todos n�s
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