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sábado, 5 de dezembro de 2009

Crónica do ano de 2009 ou, mais acertadamente, Pedido público de desculpa


(Gravura de Gustave Dorée retirada da Divina Comédia de Dante, edição de 1956, com tradução de José Pedro Xavier Pinheiro)

Quando me propus dar início a esta pequena (esperais vós) prosa, tinha em mente algo que há já muito tempo sentia que deveria fazer.

Reformulo.

Tenho a mais básica obrigação de fazer.

Tenho vindo a adiar esse propósito por razões diversas. Inércia, falta de vontade e de disposição, falta de tempo, não saber bem como o fazer… escolham.

Bom, aí vai!

Venho por este meio (por momentos sinto-me regressar às fórmulas de sempre tão visceralmente embrenhadas em mim que, mesmo numa situação destas, surgem…) apresentar um enorme pedido de desculpa aos meus amigos/as internautas (poucos mas preciosos) que eu, a partir de um dado momento, passei pura e simplesmente a ignorar. Talvez não a ignorar mas, seguramente, a não interagir como era meu hábito e vontade.

Esses amigos que sabem muito bem quem são. Pessoas com quem, por uma razão ou por outra, estabeleci laços irrefutáveis. Alguns tive até o prazer, permito-me dizer, o privilégio, de conhecer pessoalmente. Esses amigos, repito, que me perdoem esta falta que sei ser imperdoável…

Contudo, eu não sou assim. Não costumo ser ingrata, desatenta, descuidada em relação aos outros e, com maioria de razão, muito menos em relação àqueles de quem gosto.

Um conjunto infeliz de circunstâncias (ou de circunstâncias infelizes, como queiram), daquelas que não pedem licença para surgir ao mesmo tempo na vida de uma pessoa, fez com que alguns dos procedimentos que me eram habituais deixassem de o ser.

Há quem lhe chame karma, mas como eu não sei bem o que isso é e, por outro lado não lhe fiz, que eu saiba, mal nenhum, não vejo o sentido de estar a ser tão terrivelmente chatinho comigo ao longo de todo este ano. São mesmo as contingências da vida…

Eu tenho para mim que o ano de 2009 nunca deveria ter começado.

Ou seja: passávamos das 24h do dia 31 de Dezembro de 2008 para as 0h do dia 1 de Janeiro de 2010 e não se falava mais nisso.

Aqui, estou mesmo a ver um desses tais amigos (não, muito mais do que amigo.), a ver como poderá pegar-me pelo facto de colocar as 24h de um dia a coincidir com as 0h do dia seguinte correspondendo ao mesmo momento temporal embora com todo um ano de premeio... Desculpa, muso, é o que é. Não o sei dizer de outra forma.

A ajudar ao resto, em primeiro lugar, desilusão das desilusões, entendi que, atendendo ao que escrevi aqui, nunca irei ganhar o meu sustento tendo por base actividades ligadas à futurologia…

Parafraseando a rainha de Inglaterra, Sua Majestade The Queen Elisabeth the second (que honra para a senhora!), este foi, para mim, verdadeiramente um “Annus (palavra ingrata!) Horribillis.

Desde ter adoecido no dia 1 de Janeiro com aquilo que viria a tornar-se algo complicado e teimoso que me manteve debilitada durante muito tempo, passando por uma estúpida de uma mini cirurgia, a qual só apelido assim dado ter sido feita por um cirurgião, com um bisturi dentro de uma sala de operações, que teimou em dar-me que fazer por muito mais tempo do que o necessário e que só sossegou quando decidi que entraria em auto-gestão e deixaria ficar a “coisa” como “ela” queria ficar.

Em boa verdade uma boa ensinadela para o meu querido (mesmo querido) priminho e cirurgião que me apanhou à falsa fé e me fez essa maldade. Por outro lado quase me batia quando se apercebeu da decisão de me auto-gerir. Decisão, aliás, de que não lhe dei conta nem recado e só mais tarde descobriu.

As mães de ambos os lados decidem começar a adoecer, ou a piorar o que tinham, em uníssono (uma delas está internada neste preciso momento).

Não houve oportunidade de fazer umas férias decentes por razões que se prendem com o trabalho.

Desisti de uma viagem a Budapeste por compromissos assumidos previamente e alterações de datas à última da hora. Embora, para não faltar à verdade, tenho que dizer que foi por uma excelente causa (também tive dessas…).

E, finalmente, não vou poder ir para Nova Iorque no dia 10 como estava previsto pois o Sr. H1N1 resolveu instalar-se cá em casa e está tudo de quarentena até ver.

Bom amigas e amigos. Acham que chega como desculpa para estar com o ânimo na sub-cave e não ter vontade para interagir com ninguém?

Por favor, digam que sim pois não quero entrar em mais pormenores em relação às vicissitudes nefastas da minha vida ao longo deste ano.

Se tiver que o fazer arrastar-vos-ei comigo para o “Cócito” o nono círculo do Inferno. Vá lá. Também estou a ser exagerada. Para o “Malebolge”, o oitavo…

E isso, acreditai, eu não quero!

12 comentários:

Alda M. Maia disse...

Um abraço grande
Alda

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Coragem, Donagata, estamos quase em 2010.
Bjs

BCas disse...

Oi Donagata.
Parece-me que o "horribilis" grassa a solta, faceiro e determinado.
Tenho repetidas vezes esta vontade estranha de pular de 2008 para 2010, como se num passe de mágica um ano numeral diferente mudasse as circunstâncias negativas que teimam em rondar a casa.
Mas, ontem li algo sobre o otimismo, de uma amiga recente, como vc e muitas outras que visitam o blog.
E parei para pensar....
É necessário ser feliz, por dentro! Mesmo quando o envólucro teima em estar mal.
Coisa das mais difíceis! Extenuante mesmo.
Entretanto, a tentativa já proporciona um alívio, como se fossemos capazes de heroísmos.
Tenta Donagata. Tenta melhorar seu ânimo.
Não é uma fórmula milagrosa.Não cura gripe ou traz as boas circunstâncias de férias, viagens, convívios.Porém a sensação de não se deixar levar pela correnteza, de nadar contra, as vezes revigora.
E, garanto que seus amigos, os bons amigos entenderão.
Melhoras. Beijocas

Arménia Baptista disse...

Olá Donagata, então?!...Anime-se, não há mal que sempre dure....
E de nada adianta «avançar» um ano, ou dois...essas malditas coisas que nos estão reservadas,não descolam!...Quando esta chuvita se for embora e voltar o sol...fica tudo lindo de novo, vai ver :p)
As melhoras
Um abraço

Anónimo disse...

Em digo que sim, mas não por medo do círculo de fogo. A esse apago-o com a minha água.
Um beijo para a minha gatinha preferida.

A.Teixeira disse...

Oh Donagata, acho que todos não seremos demais para transmitir hánimo, carago!

E como suponho que há no texto um trecho que me é carinhosamente dedicado - o dos preciosismos nerds - aí vai a explicação para a maneira como se viaja no tempo e se passa directamente de 2008 para 2010 - através de um "wormhole", que em português literal dá "buraco-de-minhoca", né?

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Buraco-de-minhoca)

Donagata disse...

Eu sabia que tu saberias, A. Teixeira. Nunca me deixarias ficar mal.
Um beijo.

A.Teixeira disse...

É muito reconfortante a tua segurança que eu não te deixaria ficar mal, mas continuas a deixar as pessoas preocupadas...

Que coisa é essa de andar a escrever comentários às 3H50 da manhã? É falta de sono e falta de livros? Acabou-se-te o stock de livros em casa por causa da quarentena? Eu mando-te uma encomenda de livros daqueles espessos - Guerra e Paz, Em Busca do Tempo Perdido, Os Miseráveis...

Beijo

Donagata disse...

Eliminei, contra o que é meu hábito, um comentário que um amável anónimo fez questão de aqui deixar.
Não admito no meu espaço comentários que sejam feitos num tipo de linguagem que eu não utilizo nem aprovo.
O conteúdo, por outro lado era absolutamente pertinente e dizia-me, de uma forma que já entenderam pouco educada, que este meu texto não passava de um bando de lamechices sem conteúdo. Experimentasse eu uma situação de desemprego, dois filhos para criar com o rendimento mínimo e veria a importância que dava a Budapeste ou a Nova Iorque.
Devo dizer que concordo inteiramente que a minha perspectiva seria, seguramente , outra. Contudo, se estiveram atentos a ler, o facto de não ir a qualquer um destes locais foram apenas dois exemplos do ano aziago que tive. Muito mais grave do que isso são os problemas de saúde de familiares com que tenho vindo a lidar, dos quais não quis nem quero falar.
Além do mais, prezado anónimo, por muito que uma situação como a que descreve me incomode e me revolte, devo dizer que em nada contribuí para que ela acontecesse. Sou uma cidadã como qualquer outra, trabalhei sempre muito, paguei e pago todos os impostos a que sou obrigada sem nunca fugir com um cêntimo que seja ao que me compete e, curiosa e felizmente, nunca usufruí, até agora, dos benefícios que esses impostos me podem proporcionar. Estão precisamente a ajudar a pagar esses rendimentos mínimos que, embora mínimos, estão a ser pagos.
Por isso, caro anónimo, esse chapéu, a mim, não me cabe.

Donagata disse...

A todos os outos amigos e amigas que aqui me deixaram uma palavra de ânimo (ou hánimo, como queiram), só vos posso agradecer imenso e dizer que as vossas palavras me fizeram sentir bem melhor.

Já agora A.Teixeira, não tenho falta de livros, não. Mas se quiseres mandar alguns farei por os ler também.

Beijos.

Chatwinesque disse...

Só me resta desejar melhor sorte para os próximos tempos, mas sei que uma verdadeira gata sabe como ultrapassar as contrariedades... Não há animal mais tenaz e resistente!

Tais Luso de Carvalho disse...

Agora, andando um pouco pelo seu blog, compreendo a dimensão do problema. Cuide-se sempre, é o que interessa, o resto não tem pressa.

meu carinho de sempre.
tais luso