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domingo, 6 de fevereiro de 2011

“As Núpcias” de Natália Correia

Foi este o primeiro romance que li de uma autora de quem já conhecia e gostava da poesia e de algum teatro. Para além disso admirava-a enquanto mulher que traçava objectivos, definia metas e com coragem, desassombro, determinação, irreverência e uma boa dose de provocação, tudo fazia para as atingir.


Curiosamente ou casualmente ou sei lá porquê, comecei pelo último que escreveu já bem próximo do fim da sua vida.


Gostei muito. Não digo que tenha sido uma agradável surpresa pois de surpresa não teve muito. Não contava desiludir-me com uma autora de quem já apreciava outras facetas. Mas, às vezes, acontece…


É um livro apaixonante. De paixão e sobre a paixão mais avassaladora, a que nos pode conduzir à própria morte.


Apresenta-nos uma narrativa intrincada, algo perturbadora, exibindo vigorosamente uma faceta mística e espiritual. Aborda o sagrado e o profano a par do incesto e do andrógino.


André e Catarina, irmãos, vão protagonizando nos tempos actuais o velho mito de Isis, irmã e esposa de Osiris.

O avô de ambos, já morto, tê-los-á feito herdeiros de uma velha Sabedoria, guardada no templo. Essas Ensinanças, organizadas em livros ordenados do I ao XVI vão surgindo por entre a narrativa, transportando-nos através de uma vida que é de outro reino de um mundo com outra ordem, com outros sentires…


A narrativa é uma verdadeira prova de forças que as personagens têm de travar na luta por uma paixão proibida.


Como pano de fundo, escolhe uma família burguesa no rescaldo do pós 25 de Abril que, obviamente, ridiculariza como ela tão bem sabe fazer nos pormenores mais triviais.

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