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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

“Livro” de José Luís Peixoto


Acabei agora mesmo de o ler (ontem).
Absolutamente delicioso. E quando digo delicioso refiro-me ao gozo que dá saborear um fruto maduro. Foi mesmo essa a sensação com que fiquei, a de me ter deliciado com algo suculento e rico.

Tenho acompanhado a obra de José Luís Peixoto, os romances e a poesia, e, honestamente, tenho gostado muito. É já, na minha opinião, um grande valor da nossa literatura.

Neste “Livro” consegui encontrar a mestria que já conhecia associada a uma subtil maturidade evidenciada na forma como José Luís Peixoto esgrime a palavra. Esta mestria está patente em todo o livro mas é mais evidente ainda na sua segunda parte. Aqui, José Luís Peixoto, num registo um pouco diferente do resto, autenticamente brinca com a forma e o tempo proporcionando-nos um trecho de uma criatividade incrível em que revela um domínio completo da prosa.

Ao caminhar de mão dada com um punhado de personagens que me são tão familiares, conheço-as todas, vou vivendo os seus amores, os seus medos, as suas frustrações, os seus êxitos, as suas necessidades… Vou crescendo e envelhecendo dentro delas e, ao mesmo tempo, sem que as sinta truncadas nas suas características próprias, ou sem que se pressinta qualquer pretensão de romance histórico, vou revivendo um período que foi também o meu, o do êxodo de tantos portugueses para outros países. Para a França, sobretudo, como tão bem aqui é retratado.
Com um denominador comum que é “O Livro” (o qual acompanha fisicamente algumas personagens ao longo dos anos e que é por si só, ao mesmo tempo personagem, objecto, autor e enredo), lá nos vemos a braços com a vontade de viver melhor, a fuga a uma guerra que não era a de ninguém, os amores contrariados, a negação do obscurantismo, a prepotência do poder, a luta, o desencaixe social sobretudo de uma segunda geração…

Enfim, revisitei a vida de tantos que eu conheci nos anos setenta, de tantos que todos conhecemos, revelada aqui de uma forma, como já disse, belíssima.

A não perder.

1 comentário:

César disse...

Olá, será que tu poderias postar um trecho ou dois do "Livro"? Aqui no Brasil ele não saiu ainda e estou curioso para conhecer sua "voz", o tom utilizado pelo autor para compô-lo. Agradeceria demais.