Páginas

terça-feira, 5 de outubro de 2010

“Somos o esquecimento que seremos” de Hector Abad Faciolince

Li este livro não por escolha minha mas porque era o primeiro de uma lista proposta por Valter Hugo Mãe para uma comunidade de leitores que se reúne quinzenalmente na biblioteca Almeida Garrett. Embora não seja muito apologista deste tipo de “leituras orientadas”, gosto de escolher o que leio, achei que seria interessante assistir ao debate até para entender se a minha percepção do que leio anda muito distante da da restante comunidade de leitores.
Este ciclo de leituras tem por tema “vozes universais” e, obviamente, sugere uma série de autores estrangeiros (o ciclo anterior tinha sido apenas de autores nacionais) que me pareceu interessante.

Bom, mas vamos ao que interessa. Li o livro e, sobre ele, gostaria de dizer alguma coisa.
Gostei do tipo de escrita. Descomplicado, coloquial, talvez até a pender um pouco para o jornalístico (datas muito precisas, nomes, factos muito concretos…). Extremamente simples na forma de comunicar a rondar até uma certa ingenuidade, talvez.
É certo que o tema facilita essa simplicidade e essa forma naíf de colocar as questões. É um livro autobiográfico que expõe de uma forma muito pungente e muito aprofundada a relação “exageradamente” estreita que o autor manteve com o pai e este com o filho.
É comovente (quase a tombar para o piegas) apreciar a estreiteza dessa ligação pai/filho mas, sobretudo, apreciar a imagem que o filho faz perpassar do pai: o homem de boa figura, médico, professor, com uma postura perante a vida, perante os outros, que o distingue. É afectuoso e não receia mostrar os seus afectos, honesto, íntegro, lutador. Mas também sem um pingo de sentido prático e um pouco machista na sua forma peculiar de o ser.

Esta, julgo eu, é a mensagem que o autor mais se empenhou em transmitir. A homenagem póstuma, merecidíssima, que quis prestar ao seu pai. Mas, para mim, o livro teve um valor muito maior (sem querer diminuir o efeito anterior). Introduziu-me na história próxima da Colômbia da qual pouco conhecia.
Uma história recheada de momentos negros, de lutas, de prisões políticas, de torturas, de assassinatos a soldo que eu nem sequer suspeitava.
Curiosamente, passei férias na Colômbia há cerca de quinze anos e lembro-me de ser um destino barato em relação a outros das Caraíbas. Na ocasião entendi que seria pela violência que grassava por todo o país, sobretudo em Medelin que (ingénua se bem que não completamente distraída, convenhamos)eu atribuía às lutas intestinas provocadas pelos cartéis da droga. Ora como eu não tinha nada a ver com o assunto… Percebo agora que era bem mais do que isso como se apenas isso fosse pouco.

Enfim, voltando ao livro. Gostei, sem dúvida, mas não me impressionou da mesma forma que a outros leitores segundo verifiquei no dia do encontro/debate. Não fui tocada pelo mesmo grau de emoção.
Porém considero um livro a ler e não uma perda de tempo. Será que não os considero assim a todos???

Apenas mais uma curiosidade. O título é retirado de um poema de Jorge Luís Borges (de quem gosto muito) do verso que diz “já somos o esquecimento que seremos” e se chama “Epitáfio”. Lindo!

Sem comentários: