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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Se os meus óculos falassem.

Este texto surgiu como resposta muito rápida ao repto que me foi feito pela minha amiga Branca, no Facebook.

Aqui fica, Branca, e espero não te defraudar...muito. Espero mais respostas, claro.





O que diriam os meus óculos se falassem

Se os meus óculos falassem… Ah! se os meus óculos falassem!

Bom, para o fazerem com a dignidade que possuem, disfarçariam o melhor possível aquela pequena corcunda na haste esquerda fruto das constantes viagens dos olhos para a cabeça, da cabeça para o decote, deste para o chão… para logo a correr se encarrapitarem novamente no nariz.
Esfregariam as lentes, disfarçadamente, no tecido da blusa, aquela sedosa, que não fere. E, só depois, a medo, falariam.

Eu sei que seria assim dada a sua nobreza, o seu saber o seu decoro.

E depois…

Depois falariam do amor que conhecem através das muitas histórias em que me acompanham noite e dia.

Falariam também de saudade, de tristeza, de solidão, sentires que andam sempre de mãos dadas com o amor.
Da amizade, da alegria, dos gatos, dos cães, do sol, do mar, das gaivotas, do rir, da chuva, da montanha, das flores, da neve, da noite, das estrelas…

Falariam ainda, já a querer embaciar, da sordidez das coisas e das pessoas, da maldade, do breu, do abandono, da velhice esquecida, da guerra, do desamor, do ódio, da miséria…

E, embora cansados, diriam ainda do pouco que conhecem, da ânsia enorme de, com os meus olhos como fundo, se fixarem, sem mais delongas, nas páginas do livro que tive de pousar.

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