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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Angústia


Será que ainda me encontro em mim?
Será que no restolho desta raiva,
desta incredulidade que se faz aperto no peito
e me enviesa os pensamentos,
desta como que distância
que se interpõe entre mim e as imagens que me chegam
e nas quais não quero,
não posso, acreditar
irá sobrar algo de mim?
Irá sobrar algo de alguém?
Serei capaz de olhar para a humanidade da mesma forma?
com a mesma fé e acreditar que somos pessoas?
Será que posso matar a desistência?
Julgo que não.
Algo se quebrou em mim
e ficou por aí empilhado nas muitas palavras que gostaria de gritar
e não consigo;
um charco de vergonha que se esconde por trás dos dentes que cerro com muita força.
Julgo que haverá,
quem sabe um dia,
um momento em que o grito há de fugir.
Um momento em que se quebre este casulo apertado em que me refugio,
esta angústia.
Entretanto, inacreditavelmente não resisto à armadilha da curiosidade
(tão doentia)
e assisto do sofá (inimaginável!) ao desmoronar de todos os sonhos,
de todas as crenças que sustentam as pessoas,
de tudo aquilo com que se pensava poder lavrar um futuro.
Será que ainda, algum dia, me lembrarei de toda a
poesia que existe no olhar de uma criança?
Celeste Pereira
2022-04-05

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