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terça-feira, 15 de março de 2022

Corredor humanitário



Há uma mágoa seca estampada nos rostos de respirações inquietas e olhares vazios;
um desgosto sujo nas mãos que apertam com força os destroços que penduram no corpo desconfiado e tenso;
um silêncio espesso,
ferido,
daqueles que carecem de vida
mas são mais eloquentes do que todas as palavras que possam ser ditas
ou escritas, ou gritadas.
São horas atravessadas numa geografia sem nexo sempre com a madrugada derrotada agarrada aos ossos;
um tempo enorme fechado na angústia das memórias perante um presente estilhaçado;
uma procura inquieta do lugar onde ficaram os pensamentos
que agora parecem ser a essência do impossível
ou apenas o aviso cruel das feridas do futuro,
e do medo,
e da raiva
que nasce da impotência.
Há uma mágoa seca estampada naqueles rostos.
Há um nevoeiro intenso e frio todo estendido por dentro de mim
e não há mais nada.
Celeste Pereira
2022-03-15

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