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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Natais passados (Chaves)

Presépio da Tia Elsa

Rendo-me à reverberação dos dias felizes
e reúno devagarinho lembranças quentes e muitas, e muito boas,
das que deixam um rasto doce de uma saudade morna:

Os natais da minha infância.

E lembro os pais que brilhavam muito
e riam muito e se vestiam de sons vibrantes e doces.
Os irmãos pequeninos, tão pequeninos,
tão precisados de mim!
Os avós, branquinhos, enrugados e felizes
e eu tão precisada deles.
Os tios muito novos e grandes e vivos,
de gargalhadas vermelhas, fortes, excitantes,
quase assustadoras.
E o frio, o cheiro a resina, o pinheiro,
as bolinhas, os anjinhos, as fitas douradas,
a casa enorme,
tudo enorme, tudo mágico.
Os fogões grandes e muito quentes,
o sapatinho, a chaminé, o borralho,
os gatos no borralho, a candura…
E as rabanadas! Tão boas as rabanadas!
A mesa grande e cheia de cores muito doces e muito quentes.
A fava, o brinde, o chocolate quente na manhã de Natal
e as loucinhas de barro, as bonecas de papelão,
as meiinhas, os casaquinhos de tricô, os sapatos novos…
E os sonhos, tantos sonhos, um nunca acabar de sonhos.
Uma história por contar.
E um céu muito negro por onde escorregava o olhar.
E as estrelas, tantas, tantas estrelas.
Tão brilhantes! Tão lá longe!
O sabor bom do espanto…
E a pena que eu tinha, e tenho,
de um pai natal perdido naquele céu,
naquele frio, naquele tempo, naquele sonho…

no meu sortilégio.

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