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sábado, 3 de setembro de 2011

Crónica de uma saudade anunciada


Primeiro foram aqueles tempos sem tempo em que os dias passavam por mim (ou seria eu que passava por eles?) sem que, verdadeiramente, as horas se distinguissem. Tempos em que as horas me prendiam e se enredavam e me enredavam, e me atrapalhavam, e se confundiam e já nem eram horas de tão enredadas…

Além disso havia aquela névoa familiarmente estranha que me turvava o pensamento, o sentir, impelindo-os para dentro, sempre para mais adentro, ali bem para aquele local onde se arquitectam todas as mágoas.

Seguiram-se tempos de incertezas: Aquilo que hoje era, amanhã era-o também apenas com um subtil aroma de dúvida. Tudo que hoje mais queria, amanhã já não desejava, tinha-lhe até medo. Todas as emoções que hoje me ardiam se quedavam extintas no mais logo do amanhã.

E assim se foram desenrolando uns tantos hojes e ontens ainda recentes, nos quais se sonhavam os já saudosos amanhãs.

Finalmente as certezas. Irias partir! Irias perseguir o teu futuro bem presa na força da tua vontade. Irias voar nas asas da tua coragem. E viverias outros ontens, outros hojes e sonharias outros amanhãs que não aqueles que eu costumava partilhar contigo.

Mesmo assim, mesmo presa nas escamas da saudade, estarei orgulhosamente, hoje, a torcer para que todos os teus amanhãs sejam tudo aquilo que de mais belo imaginaste.

Por vezes amar dói tanto!

Nova Iorque, 18 de Julho de 2011

2 comentários:

Mar Arável disse...

Por vezes é assim

sonhamos demais.

Apesar de tudo
não gostei nada de ter escrito isto
mas já está

Donagata disse...

Sonhar nunca é demais... É o que nos empurra.