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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Já aqui estive em dias mais claros

Praia do Marreco

Já aqui estive em dias mais claros.

Aqui, no meu bar, da minha praia. Olho o mar que hoje se perde num manto de nevoeiro espesso e viscoso. Lascivo, a coberto da bruma, lambe os rochedos e deixa-os cobertos de uma baba negra onde as gaivotas pousam numa geometria precisa que apenas elas sabem. Pontos brancos na névoa cinzenta. Silenciosas. Sem olhar devido à distância. Melhor. De olhar invisível.

A praia estende-se à minha frente sem brilho, sem o ouro habitual. Mais fria. Menos cúmplice. Hoje vestida de branco e vermelho de barraquinhas lembrando o verão. Mesmo assim mais bonita quando despida. Quando dourada, quando apenas areia e mar e céu e silhuetas de barcos ao fundo.   

Hoje o silêncio é mais pesado. É feito de ruídos surdos e húmidos e de gaivotas de olhar invisível que me assustam. E, apesar do vermelho das barraquinhas, as poucas palavras soam líquidas e escuras, submersas na espessura da névoa, no olhar invisível das gaivotas e perdem-se, esvaziam-se, não são mais palavras.

E eu, que já aqui estive em dias mais claros, imersa no assombro, procuro entalhar o tempo entre os finos grãos de areia e continuar imortal.


Marreco 2014-08-24

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