Sentei-me aqui, em frente ao computador, com a ideia de que
seria capaz de escrever alguma coisa interessante neste dia em que, nem sei bem
porquê, me dou conta, de forma inequívoca, do quão rapidamente me aproximo do
Outono da minha vida.
Não é hoje, eu sei.
É um pouquinho hoje, foi um pouquinho ontem mais um pouco
anteontem e assim sempre. Todos os dias vamos sendo varridos pela
inexorabilidade do tempo.
Seria motivo, talvez, para entristecer… perceber a minha
própria caducidade. Tomar dela uma maior consciência, acabrunha. E, se bem que
o tempo se arraste sempre à mesma velocidade, é apenas em dias pontuais, como o
de hoje, que tenho a consciência da sua passagem e do rasto de destroços que vai
deixando pelo caminho. É também nestes dias que estou mais atenta às marcas que
esses estragos imprimem na minha carne, na minha alma, no meu ser. Essas mesmas
que, distraidamente, tenho desvalorizado, considerado pífias, ou nem considerado
de todo.
E depois é aquela foto de há tão poucos anos que a amiga me
mandou. E não acredito que seja eu, ali, assim, tão jovem ainda… Isto foi pouco
antes de ontem!!!! E eu já não sou eu… Bolas! Como o raio do tempo nos finta;
nos deixa ir vivendo nesta suave dormência para, de repente, nestes dias assim,
nos acordar se supetão.
E é difícil acreditar nas rugas que começaram imperceptíveis
e insidiosas e se instalaram para ficar. E são as comissuras dos lábios que já
não são bem as que recordo e ensombram o meu sorriso. Os cantos dos olhos que, tombando,
vão colocando uma pincelada de cinzento no olhar. As mãos que de repente
pergaminham e se fecham crispadas por pudor.
E há ainda os cabelos brancos. Confesso que de início até lhe
encontrava uma certa graça, um charme subtil, mas que agora já não tanto.
E é o desacomodar do corpo que cria novos volumes que não
reconheço e que estranho porque não os vi chegar.
E são algumas, já notórias, partidas da memória que teimo em
desvalorizar.
Mas, sobretudo, é este desacelerar involuntário, este desapego
que, traiçoeiro, se vai instalando.
Começa pelas mais recentes mudanças as quais, se calhar, já
não cabem na realidade que construo agora para mim. Depois, nem acho já tão agradável
aquilo que ainda ontem mesmo me fazia correr. Estranho-o até… Depois… Depois
ver-se-á…
Sei que já escrevi coisas. Sei que não gostaria de as ter escrito.
Sei que assim não posso mais alhear-me delas. Ficam aqui registadas de forma
quase tão vincada quanto esta ruga por onde desliza uma lágrima salgada e
quente.
Continuo aqui sentada a tentar dizer alguma coisa.
É já noite. O sono não chega, e hoje… hoje não sou capaz.
3 comentários:
Se a isto chamas não ser capaz...
Beijo Meu.
Não, não fui. Gostaria de escrever coisas bonitas, não sei bem... Mas não assim...
Belíssima a sua estação
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